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Malafaia defende distritão e diz que bancada evangélica não precisa crescer

Pastor Silas Malafaia discursa durante 13ª Expo Cristã, ao lado de Doria e Alckmin - Aloisio Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Pastor Silas Malafaia discursa durante 13ª Expo Cristã, ao lado de Doria e Alckmin Imagem: Aloisio Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

17/08/2017 18h24Atualizada em 17/08/2017 18h24

O líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia, criticou nesta quinta-feira (17) o sistema no qual parlamentares são eleitos hoje no Brasil. Para o pastor, o atual sistema proporcional é responsável por eleger deputados corruptos. A afirmação feita após Malafaia ser questionado pelo UOL se a aprovação do chamado distritão teria impacto positivo na ampliação da bancada evangélica na Câmara dos Deputados. O modelo está sendo discutido em plenário e nas comissões de reforma política da Câmara. 

“Quem disse que distritão vai eleger deputado corrupto conhecido? Não vai. O quociente eleitoral sim. Eles vão estar lá escondidos atrás de gente que tem voto”, defendeu Malafaia durante a 13ª Expo Cristã, a maior feira do segmento gospel no Brasil, aberta hoje na capital paulista.

Distritão é o nome dado ao modelo eleitoral que se baseia no voto majoritário. Com ele, são eleitos os candidatos mais votados, independentemente de partidos ou coligações. A proposta que quer implantar o modelo para as eleições de 2018 e 2020 foi aprovada por uma das comissões que analisam reforma política e deve ser analisada na semana que vem no plenário na Câmara. 

Já o quociente eleitoral é um cálculo feito com base no número total de votos recebidos pelos partidos ou coligações. É ele o responsável por determinar se a legenda terá representatividade no Legislativo. A conta é uma das que fazem com que um candidato que recebeu muitos votos, como os chamados “puxadores de voto”, acabem ajudando a eleger outros que não foram tão bem votados. 

Silas Malafaia afirmou que quem é contrário ao distritão quer que o sistema continue como está. “Esse negócio de dizer que quem é conhecido vai ser eleito, tu acha que o povo vai votar em quem está na Lava Jato, ou quem está denunciado? Dizem que o distritão vai eleger corrupto. Conversa!”, afirmou o religioso, que no começo do ano foi indiciado pela Polícia Federal, por suspeita de lavagem de dinheiro.

Ele participou da feira ao lado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do prefeito da capital paulista, João Doria. O presidente Michel Temer era esperado para a feira, mas cancelou a participação de última hora para retornar à Brasília e liberar R$ 24 milhões em recursos emergenciais para a Prefeitura de Maceió.

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Os tucanos e possíveis candidatos à presidência, Geraldo Alckmin e João Doria, participaram do evento evangélico
Imagem: Leonardo Benassato/Estadão Conteúdo

O pastor discordou dos demais líderes religiosos que defendem a necessidade de ampliação da bancada evangélica na Câmara dos Deputados. “Não precisamos ampliar a bancada, não”, disse.

O distritão tem sido visto pelos deputados que compõe a bancada evangélica como uma oportunidade para ampliar o número de parlamentares evangélicos eleitos. Em 1994, a bancada contava com 14 membros. Hoje ela representa 85 dos 513 deputados, ou seja, 16,5% do total. A meta para o próximo ano é ampliar esse número para 20%, segundo o presidente da bancada, pastor Hidekazu Takayama (PSC-PR).

Segundo dados do Censo de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), os evangélicos representam 22,4% da população (uma em cada cinco pessoas), ante a cerca de 65% de católicos (três em cada cinco pessoas).

O pastor Jabes de Alencar, que era líder da Assembleia de Deus do Bom Retiro --foi substituído na congregação por Samuel Ferreira, investigado na operação Lava Jato --, defende a ampliação da bancada, mas afirma que há controvérsias sobre se o novo modelo eleitoral seria favorável a isso. “Essa não é uma opinião geral. A minha opinião é que precisamos estudar mais esse assunto. Mas sem dúvida é importante a ampliação da bancada. Essa é a nossa visão e a nossa meta para o próximo ano”, afirmou.

O pastor Flamarion Rolando, líder da Igreja Evangélica Quadrangular de Governador Valadares (MG), relativizou a importância dada ao distritão para a ampliação da bancada evangélica na Câmara. “Não acredito que vai ser mais fácil ou mais difícil [eleger deputados evangélicos]. Mas a ampliação vai ser sempre importante para que se possa defender os princípios cristãos que pregamos. Os deputados da bancada evangélica estão sempre trabalhando em prol desses valores”, disse.

Distritão x sistema proporcional

Se o texto da reforma política for aprovada no Congresso Nacional, a partir do ano que vem os parlamentares das câmaras municipais, assembleias legislativas e a Câmara dos Deputados serão escolhidos por um modelo eleitoral majoritário, apelidado de “distritão”, em que são eleitos os deputados mais votados em cada Estado, independentemente dos partidos que fazem parte.

Esse modelo poderá substituir o atual nas eleições de 2018 e 2020. Hoje, os membros dos Legislativos são eleitos por voto proporcional, ou seja, são eleitos com base em dois cálculos (quociente eleitoral e partidário) que levam em conta o total de votos dados aos candidatos e aos partidos.

No modelo atual, candidatos com poucos votos podem acabar se elegendo se parceiros de sigla tiverem obtido votações maciças -- são os chamados "puxadores de votos"--, que garantiram uma cota grande de cadeiras para o partido, enquanto políticos com uma votação mais expressiva podem ficar de fora.

A proposta prevê que, a partir de 2022, o distritão dê lugar ao distrital misto. Nele, o eleitor dá dois votos para o Legislativo: um para o candidato do partido no distrito dele e outro para qualquer candidato do partido na cidade ou no Estado que ele mora. O candidato mais votado em cada distrito é eleito para metade das vagas na casa legislativa. A outra metade é preenchida pelos mais votados dos partidos e coligações, com as mesmas regras do sistema proporcional que funciona hoje.