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"Lancha luxuosa não passa de bote inflável", diz defesa de braço direito de Cabral

Wilson Carlos foi secretário de Estado de Governo na gestão Cabral e também trabalhou nas campanhas eleitorais do ex-governador - Divulgação/Justiça Federal do Paraná
Wilson Carlos foi secretário de Estado de Governo na gestão Cabral e também trabalhou nas campanhas eleitorais do ex-governador Imagem: Divulgação/Justiça Federal do Paraná

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

19/08/2017 04h00

A defesa de Wilson Carlos, braço direito do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), ambos réus na ação penal da Operação Calicute, principal desdobramento da Lava Jato no Rio, afirmou à 7ª Vara Federal Criminal, por meio de suas alegações finais, que a "lancha luxuosa" que teria sido objeto de lavagem de dinheiro "não passa de um bote inflável".

Os advogados sustentam ainda que, diferentemente do que foi narrado pela acusação durante o processo, o ex-secretário de Estado de Governo "possui um único automóvel, fabricado em 2010 e com mais de 100 mil km rodados". "Seria esta, então, a vida de alto luxo e ostentação de Wilson Carlos?", questiona a defesa.

O político responde por corrupção passiva, lavagem de capitais e associação criminosa. Ele é apontado pelo MPF (Ministério Público Federal) como um dos responsáveis, sob chefia de Cabral, pela estruturação de esquema de pagamento de vantagens ilícitas envolvendo empreiteiras e agentes do Estado.

A corrupção consistia, de acordo com a denúncia, na cobrança de percentuais de propina (5%, na maioria dos casos investigados) em cima de vultosos contratos para execução de obras públicas, como a reforma do estádio do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014, a construção do Arco Metropolitano, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) das favelas, entre outras.

Nas alegações finais, a defesa afirma, por outro lado, que o réu "jamais tratou de orçamento, pagamentos, nomeação de pessoal ou qualquer outro ato relativo às obras contratadas pelo então governo do Estado do Rio de Janeiro".

Além dos processos na 7ª Vara Federal Criminal, no RJ, Carlos também respondeu a ação penal na 13ª Vara Federal Criminal, no Paraná, do juiz Sergio Moro. Em 13 de junho, ele foi condenado por Moro a dez anos e oito meses de prisão, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Na mesma ação, Cabral foi sentenciado a 14 anos e dois meses de reclusão.

Além de Wilson Carlos e de Sérgio Cabral, a ação penal da Calicute tem como réus os operadores financeiros Carlos Miranda e Luiz Carlos Bezerra, a mulher do ex-governador, Adriana Ancelmo, e outras oito pessoas. Passada a fase de apresentação das alegações finais, os autos seguirão para conclusão do juiz Marcelo Bretas.

Um homem humilde

Com objetivo de provar que o ex-secretário não tinha hábitos luxuosos, a defesa afirma que ele "sempre conduziu a sua vida de modo compatível com seus rendimentos". "O único imóvel residencial da família, apartamento com cerca de 100 m², foi adquirido por meio de financiamento e quitado no ano de 2004."

Os advogados declaram que a casa situada no condomínio Portobello, em Mangaratiba, na região da Costa Verde fluminense, não era uma mansão, como aponta a Procuradoria da República, e sim uma casa "alugada e rateada pelo núcleo familiar, que posteriormente se transferiu para o apartamento de Petrópolis, também alugado e rateado."

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Segundo a defesa, Wilson Carlos tinha um "bote inflável"
Imagem: Reprodução
Carlos teria, na versão da defesa, comprado o "pequeno bote inflável" em parceria com o irmão, "voltado também para o lazer da família". "Ao contrário do que afirma a acusação, não é uma lancha, mas embarcação de pequeno porte."

Lavagem de capitais

A embarcação descrita pela defesa do ex-secretário constava na relação de bens que, de acordo com a acusação, representavam indícios do crime de lavagem de dinheiro no âmbito da ação penal da Calicute. O MPF também questiona o alto volume de gastos no cartão de crédito do réu e a suposta incompatibilidade desses valores com os rendimentos dele e da mulher.

Segundo a denúncia, o réu ocultou "a origem, a natureza, disposição, movimentação e a propriedade de R$ 339.761,66" obtidos de forma ilícita. A fim de lavar o capital proveniente do esquema de propina, o braço direito de Cabral teria simulado, de acordo com investigações, a prestação de serviços para uma empresa de produção audiovisual e logística contratada na campanha eleitoral de 2014.

"Portanto, é clara a simulação operada por Wilson que, em assim procedendo, ocultou --em setembro e em outubro de 2014-- a origem e natureza de R$ 339.761,66, produto dos crimes antecedentes narrados nesta peça, simulando para tanto, ser esse valor o pagamento de uma prestação de serviços na área de logística", narra a denúncia.

A defesa, por outro lado, afirma que os serviços foram efetivamente prestados durante a eleição daquele ano. "Wilson Carlos é um grande articulador e organizador de campanhas eleitorais, amplamente reconhecido no âmbito do Estado do Rio de Janeiro. A partir dos anos 90, desenvolveu e implementou todo um know-how em relação à logística de campanha."

Os advogados requerem ao Juízo da 7ª Vara Federal Criminal não só a absolvição do ex-secretário de governo de Estado, mas também a revogação de sua prisão preventiva. Ele está detido desde novembro do ano passado, quando foi realizada a Operação Calicute pela Polícia Federal.