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Alvo de machismo, relatora diz não ser possível reforma política ideal

"Mais mulheres e jovens na política"

UOL Notícias

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

28/08/2017 04h00

A deputada federal Shéridan (PSDB-RR) faz parte de duas minorias na Câmara. No seu primeiro mandato na Casa, é uma das 54 mulheres em exercício na atual legislatura --número que representa pouco mais de 10% dos 513 deputados--, e, aos 33 anos de idade, é uma das parlamentares mais jovens do Congresso Nacional.

Nas últimas semanas, ela se tornou também um dos nomes mais citados em Brasília, em meio ao intenso debate sobre a reforma política no Legislativo. Relatora da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 282/2016 na Câmara, a tucana viu seu texto ser aprovado por quase unanimidade na comissão que analisou o fim das coligações partidárias nas eleições para deputados e vereadores e adoção de uma cláusula de desempenho eleitoral, que tem como objetivo diminuir o número de partidos. 

A proposta é hoje considerada a única com chances reais de ser aprovada a tempo das eleições do ano que vem, segundo parlamentares ouvidos pelo UOL. Enquanto isso, as propostas relatadas pelo deputado Vicente Cândido (PT-SP), que incluem a criação de um fundo público de financiamento de campanhas e a alteração do sistema eleitoral do país, podem ficar no papel por falta de consenso.

Pressionada por partidos menores, a deputada fez alterações de última hora no texto que suavizaram a proposta

A gente não consegue construir o texto que a gente imagina como o ideal, mas o que é possível, que é viável”.

Shéridan (PSDB-RR), em entrevista ao UOL na última sexta-feira (25).

Nos dois anos e meio como deputada, nenhuma das 125 proposições de sua autoria virou norma jurídica. Dentre os 19 projetos que relatou, o único que virou lei até agora foi o que institui agosto como o mês do aleitamento materno.

Machismo no Parlamento

A projeção que ganhou por conta da atuação em uma das partes da reforma política chegou no momento em que a psicóloga Shéridan Estérfany Oliveira de Anchieta se vê engajada na luta contra o machismo na Câmara.

No último dia 2, durante a votação da admissibilidade da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) no plenário da Casa, ela foi chamada de "gostosa" por um deputado. O comentário, classificado por ela com "totalmente indecoroso e desrespeitoso", foi captado por um microfone e vazou na transmissão da sessão.

Shéridan não estava lá --contou que teve um imprevisto no voo de Boa Vista para Brasília--, mas fez questão de protocolar um pedido de investigação do episódio na Presidência da Câmara. O autor do comentário ainda não foi identificado.

Shéridan concede entrevista ao UOL - Kleyton Amorim/UOL - Kleyton Amorim/UOL
A deputada tem 33 anos e é uma das parlamentares mais jovens do Congresso
Imagem: Kleyton Amorim/UOL

Questionada se votaria pelo arquivamento da denúncia, disse que não. "Ninguém está acima de nada, nem da lei. É democrático que o presidente tenha a possibilidade de se defender", afirmou.

Sobre o apoio de seu partido ao governo, desconversou e disse não ver "um racha" entre os tucanos. "É como uma família que discute, as opiniões divergem, mas se acertam", diz.

Desde março presidindo a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, Shéridan defende o aumento da representatividade feminina na política, lembrando que as mulheres são maioria na população brasileira, e fala ainda sobre como o rótulo de "musa da Câmara" interferiu na sua atividade como parlamentar.

"Para defender as causas da mulher não precisa ser feminista", afirma.

Chamada de "gostosa" em plenário, deputada fala sobre assédio

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Mulher na Presidência da Câmara?

Para a deputada, o fato de a Câmara dos Deputados só ter tido presidentes homens em seus 191 anos de história é simbólico para a luta das mulheres dentro da Casa. "A cada momento que se alcança um espaço é uma conquista. Eu sou a primeira mulher a relatar uma reforma política. Hoje, no Congresso, é um grande passo", declarou.

"A gente inicia sabendo que tem uma história a construir, que vai discorrer sobre a nossa capacidade e as condições de avançarmos. É uma possibilidade [presidir a Câmara no futuro]. A gente está construindo a reforma, ano que vem tem eleição. A gente vai tentar retomar o mandato e continuar essa caminhada. O que está por vir nessa construção aqui dentro, no cenário nacional, vai vir", completou.