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Quem é o ex-braço-direito de Janot envolvido em suspeitas sobre delação da JBS

O ex-procurador da PGR e ex-braço direito de Rodrigo Janot, Marcelo Miller - Divulgação/MP-MG
O ex-procurador da PGR e ex-braço direito de Rodrigo Janot, Marcelo Miller Imagem: Divulgação/MP-MG

Do UOL, em São Paulo

04/09/2017 20h31Atualizada em 04/09/2017 22h48

O ex-procurador da Lava Jato Marcelo Miller integrou o grupo de trabalho da Lava Jato na PGR (Procuradoria-Geral da República) entre 2014 e 2016, quando trabalhou como assessor e braço direito do procurador-geral, Rodrigo Janot.

Após deixar a PGR, Miller foi contratado, em maio deste ano, pelo escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, que representou a J&F durante parte das negociações do acordo com o MPF. Um mês depois de entrar para o escritório de advocacia, Miller deixou a sociedade.

A trajetória profissional de Miller agora serve como pano de fundo para uma suspeita levantada por sua antiga empregadora. Em pronunciamento no início da noite desta segunda-feira, Janot citou seu ex-braço direito como um dos suspeitos de praticar atos ilícitos flagrados em áudios entregues pelos delatores da JBS à PGR na quinta-feira (31) à PGR. 

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A suspeita sobre Miller é de que ele poderia ter atuado em favor da JBS enquanto ainda estava na Procuradoria. Um dos quatro áudios contém uma conversa entre Joesley Batista e um dos executivos e delatores da JBS, Ricardo Saud, e traz, segundo a Procuradoria, "elementos que necessitam ser esclarecidos".

"Exemplo disso é o diálogo no qual falam sobre suposta atuação do então procurador da República Marcello Miller, dando a entender que ele estaria auxiliando na confecção de propostas de colaboração para serem fechadas com a Procuradoria-Geral da República. Tal conduta configuraria, em tese, crime e ato de improbidade administrativa", diz texto divulgado pela PGR.

"Os áudios sugerem atos ilícios graves na Procuradoria e no Supremo Tribunal Federal", disse Janot, citando Miller, mas sem mencionar quais seriam os problemas no Supremo. “Se meu ex-colega praticou algum ato ilícito, não interfere nas denúncias que eu pretendo oferecer ou não.” Janot disse que o conteúdo dos áudios é “gravíssimo” e que a análise da gravação revelou diálogo entre dois colaboradores com referências indevidas à PGR e ao STF (Supremo Tribunal Federal)." 

No fim de junho, em pronunciamento após ser denunciado por Janot, o presidente Michel Temer (PMDB) citou o ex-procurador e sugeriu que Miller intermediou acordo "benevolente" entre a PGR e a JBS. Temer disse que "um assessor muito próximo ao procurador-geral da República [Janot], senhor Marcelo Miller, homem de sua mais estrita confiança" abandonou o MPF para "trabalhar em empresa que faz delação premiada com o procurador-geral". O presidente disse ainda que Miller "ganhou milhões em poucos meses", garantindo "ao seu novo patrão um acordo benevolente, uma delação que o tira das garras de Justiça, que gera uma impunidade nunca antes vista".

Após as acusações de Temer, Miller afirmou que "não cometeu nenhum ato irregular" desde que deixou a PGR.

O TED (Tribunal de Ética e Disciplina) da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio (OAB-RJ) abriu no fim de junho um processo de apuração formal para avaliar a conduta do ex-procurador. O ex-procurador também é alvo de um procedimento preparatório (PP) na Procuradoria da República do Distrito Federal (PR-DF). O PP, que é a etapa anterior à instauração formação de inquérito ou arquivamento do caso, foi aberto após uma representação feita na procuradoria.

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No fim de junho, Miller se manistou para afirmar que "não cometeu nenhum ato irregular" desde que deixou a PGR (Procuradoria-Geral da República). O advogado não foi localizado nesta segunda-feira para comentar o pronunciamento de Janot.

Na época, a PGR afirmou em nota que Miller não participou das negociações do acordo de delação premiada dos executivos do Grupo J&F. "Ele integrou a Assessoria Criminal do procurador-geral da República de setembro de 2013 a maio de 2015. De maio de 2015 a julho de 2016, foi designado para integrar o grupo de trabalho da Lava Jato na PGR, em Brasília. A partir de 4 de julho de 2016, ele voltou a ser lotado na PR/RJ, com processos distribuídos ao seu ofício, atuando junto ao grupo de trabalho somente como membro colaborador. Ele solicitou exoneração do cargo de procurador em 23 de fevereiro de 2017, a qual foi efetivada em 5 de abril de 2017", diz o texto da procuradoria emitido em junho. 

(Com informações do Estadão Conteúdo)