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Joesley e Saud se entregam na sede da Polícia Federal de SP

Ouça a íntegra da conversa entre Batista e Saud

UOL Notícias

Flávio Costa e Nathan Lopes*

Do UOL, em São Paulo

10/09/2017 14h09Atualizada em 11/09/2017 05h10

O empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, e o executivo Ricardo Saud, foram à superintendência da PF (Polícia Federal) em São Paulo e se entregaram à Justiça por volta das 14h deste domingo (10). Joesley e Saud ficarão detidos por cinco dias. Nesta segunda-feira (11), eles devem ser transferidos para Brasília. A previsão é que a transferência aconteça no início da tarde.

Os dois passaram a noite na carceragem da PF na capital paulista. A pedido da defesa, eles farão exame de corpo de delito em Brasília, informou a PF.

Por volta das 15h30 deste domingo, o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, divulgou nota em que informa que também passou a integrar a equipe de defesa de Joesley e Saud junto ao STF (Supremo Tribunal Federal). No texto, ele afirma que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, agiu com "falta de lealdade".

"Entendo que os delatores ao assinarem a delação cumpriram rigorosamente tudo o que lhes era imposto", disse Kakay. "Os clientes prestaram declarações e se colocaram sempre à disposição da Justiça. Este é mais um elemento forte que levará à descrença e à falta de credibilidade do instituto da delação."

Kakay completa: "Sempre ressalto a importância deste instituto, mas é necessário que seja revisto o seu uso. A proposta de quebra unilateral, sem motivo, por parte do Estado, no caso representado pelo procurador-geral, gera uma insegurança geral para todos os delatores. Meus clientes agiram com lealdade e continuam à disposição do Poder Judiciário ressaltando a confiança no Supremo Tribunal".

Mandados de prisão

Joesley e Saud eram alvos de mandados de prisão temporária expedidos pelo ministro Luiz Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), a pedido da PGR (Procuradoria Geral da República). 

Na sexta-feira (8), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, havia solicitado a prisão de Joesley e Saud por terem omitido informações que seriam relevantes no acordo de colaboração premiada firmado com o MPF (Ministério Público Federal). Fachin decidiu pela prisão na própria sexta, mas, como o processo corria sob sigilo, a informação só foi divulgada oficialmente neste domingo.

Segundo o ministro, tanto a prisão de Joesley quanto a de Saud são necessárias por causa da “probabilidade de que os representados, uma vez em liberdade, possam interferir no ato de colheita de elementos probatórios”.

“Há indícios de má-fé por parte dos colaboradores ao deixarem de narrar, no momento da celebração do acordo, que estavam sendo orientados por Marcello Miller, que ainda estava no exercício do cargo, a respeito de como proceder quando das negociações, inclusive no que diz respeito a auxílio prestado para manipular fatos e provas, filtrar informações e ajustar depoimentos”, disse Fachin a respeito do pedido de Janot.

Procurador

Janot também havia pedido a prisão do ex-procurador Marcello Miller, mas Fachin não viu, por ora, “elemento indiciário” de que ele tenha sido “cooptado pela organização criminosa” com a “consistência necessária à decretação da prisão temporária”.

O ministro, porém, aponta que “há indícios de que pode ter praticado o delito de exploração de prestígio e até mesmo de obstrução às investigações”.

Em nota, a defesa de Miller diz que "repudia veementemente o conteúdo fantasioso e ofensivo das menções ao seu nome nas gravações divulgadas na imprensa e reitera que jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei".

"Não tinha contato algum com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, nem atuação na Operação Lava Jato desde, pelo menos, outubro de 2016. Nunca atuou na Operação Greenfield, nem na Procuradoria da República no Distrito Federal. Nunca obstruiu investigações de qualquer espécie, nem alegou ou sugeriu poder influenciar qualquer membro do MPF."

* Colaborou Gustavo Maia, de Brasília