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Em conversa gravada, Joesley exaltou que não seria punido: "Nós não vai ser preso"

Ouça a íntegra da conversa entre Batista e Saud

UOL Notícias

Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo

10/09/2017 16h43

Em conversa gravada no dia 17 de março deste ano, cujo áudio foi descoberto por peritos da PF (Polícia Federal), o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, afirmou ao executivo Ricardo Saud que eles poderiam fazer o que quisessem e não seriam presos.

"Porque no final, a realidade é essa: nós 'não vai' ser preso; nós sabemos que nós 'não vai'. Vamos fazer tudo, menos ser preso", disse Joesley, em determinado trecho da conversa com o executivo, que durou um total de quatro horas e 31 minutos. A gravação da conversa teria sido feita, supostamente, de forma acidental.

"Ricardo, nós somos... nós somos joia da coroa deles. O Marcelo [ex-procurador Miller] já descobriu e já falou para Janot: 'Janot, nós temos o cara, nós temos o pessoal que vai dar todas as provas que nós precisamos", afirmou Joesley.

Por volta das 14h deste domingo, Joesley e Saud foram à Superintendência da PF em São Paulo e se entregaram à Justiça. Eles ficarão detidos por cinco dias, por ordem do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Edson Fachin.

Na sexta-feira (8), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, havia solicitado a prisão de Joesley e Saud por terem omitido informações que seriam relevantes no acordo de colaboração premiada firmado com o MPF (Ministério Público Federal). Fachin decidiu pela prisão na própria sexta, mas, como o processo corria sob sigilo, a informação só foi divulgada oficialmente neste domingo.

joesley - Nelson Antoine/AP - Nelson Antoine/AP
Joesley Batista segue para a sede da PF em São Paulo
Imagem: Nelson Antoine/AP

Segundo o ministro, tanto a prisão de Joesley quanto a de Saud são necessárias por causa da “probabilidade de que os representados, uma vez em liberdade, possam interferir no ato de colheita de elementos probatórios”.

“Há indícios de má-fé por parte dos colaboradores ao deixarem de narrar, no momento da celebração do acordo, que estavam sendo orientados por Marcello Miller, que ainda estava no exercício do cargo, a respeito de como proceder quando das negociações, inclusive no que diz respeito a auxílio prestado para manipular fatos e provas, filtrar informações e ajustar depoimentos”, disse Fachin a respeito do pedido de Janot.

Outro lado

Ao UOL, o advogado Pierpaolo Bottini, que defende Joesley e Saud, informou que os dois irão passar a noite na carceragem da PF na capital paulista. Eles serão levados para Brasília, neste segunda-feira (11).

Por volta das 15h30, o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, divulgou nota em que informa que também passou a integrar a equipe de defesa de Joesley e Saud junto ao STF (Supremo Tribunal Federal). No texto, ele afirma que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, agiu como "falta de lealdade".

"Entendo que os delatores ao assinarem a delação cumpriram rigorosamente tudo o que lhes era imposto", disse Kakay. "Os clientes prestaram declarações e se colocaram sempre à disposição da Justiça. Este é mais um elemento forte que levará à descrença e à falta de credibilidade do instituto da delação."

Kakay completa: "Sempre ressalto a importância deste instituto, mas é necessário que seja revisto o seu uso. A proposta de quebra unilateral, sem motivo, por parte do Estado, no caso representado pelo procurador-geral, gera uma insegurança geral para todos os delatores. Meus clientes agiram com lealdade e continuam à disposição do Poder Judiciário ressaltando a confiança no Supremo Tribunal".