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FHC chama delatores da JBS de "fanfarrões", mas diz que provas devem ser mantidas

Joesley Batista foi preso e seu acordo de delação está sob revisão - Rovena Rosa/Agência Brasil
Joesley Batista foi preso e seu acordo de delação está sob revisão Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

11/09/2017 16h38

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) opinou nesta segunda-feira (11) que as provas coletadas a partir das delações premiadas de Joesley Batista e Ricardo Saud, executivos da J&F, não devem ser anuladas, ainda que ambos tenham sido presos por omitirem informações no acordo original de colaboração. FHC ainda chamou cada um dos investigados de "fanfarrão".

"Se a delação indica que houve um indício, e se além do indício você encontrar elementos comprobatórios de que houve um crime, é claro que isso vale, deve valer. O fato de que a pessoa foi um pouco fanfarrão, e é bastante fanfarrão, não é suficiente para anular se os indícios levarem a alguma coisa mais concreta do que a palavra dele. Não é só nesse caso, é em todos os outros. Como você pode garantir que o delator não tem outro interesse?", disse. 

Uma nova gravação, entregue no dia 31 de agosto à PGR (Procuradoria-Geral da República), mostra Joesley e Saud conversando sobre a negociação para um acordo de delação premiada e dizendo que Marcello Miller, ex-procurador da República, ajudou a empresa no acordo quando ainda estava no cargo. O áudio motivou uma abertura de investigação para rever os benefícios dos delatores e ocasionou um pedido de prisão contra ambos.

O ex-presidente defendeu as delações premiadas afirmando que é um sistema que "funciona nos Estados Unidos e funciona bem". "A delação é um instituto que foi introduzido recentemente na legislação brasileira, aliás pelo governo do PT. É um instituto anglo-saxônico, da tradição germano-anglicana, não é da tradição judaico-cristã ou românica [a nossa]. Então, é difícil pessoas com outra tradição, como nós, aceitarem-na. Mas ela funciona, funciona nos EUA e funciona bem. Claro que tem que ver com cuidado, toda matéria que diz respeito a incriminar alguém, quem decide tem que pesar, vale ou não vale?", afirmou 

Na segunda-feira (4), Rodrigo Janot anunciou que iria rever a delação da JBS por causa de um áudio "gravíssimo", que ainda não tinha sido divulgado. O procurador-geral citou possíveis omissões dos delatores e a "conduta em tese criminosa" do ex-procurador Marcello Miller. Os delatores e Miller foram ouvidos na última semana. Janot decidiu pedir a retirada dos benefícios e a prisão de Saud, Joesley e Miller.

Batista e Saud se entregaram à polícia no domingo (10), após o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin decretar a prisão dos dois, e chegaram à carceragem da PF em Brasília nesta segunda. Fachin negou a prisão de Miller. 

Lula e Palocci

O ex-presidente disse ainda acreditar que o depoimento prestado no último dia 6 pelo ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci ao juiz Sergio Moro terá peso nos processos em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu.

"Palocci era o homem da intimidade do governo, então isso vai ter peso na compreensão do que aconteceu, certamente. Ele disse de uma maneira muito racional e muito fria, muito equilibrada. Claro que é a palavra dele, mas tem outros que estão dizendo as mesmas coisas, outros dizem outras coisas, a Justiça vai ter que peneirar isso e tomar uma decisão", afirmou.

FHC disse anda que "a gente não tem que estar opinando sobre isso". "Não seria correto eu dizer 'vai acontecer isso' porque eu não conheço, não sei qual vai ser a decisão", disse. "É o juiz quem vai decidir."

Palocci participou de interrogatório no caso em que ele, Lula, o ex-presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e outras quatro pessoas são réus em um esquema de corrupção envolvendo oito contratos entre a empreiteira e a Petrobras, que teriam gerado desvios de cerca de R$ 75 milhões e teriam beneficiado o ex-presidente e seu grupo político.

No depoimento, Palocci confirmou a acusação do Ministério Público de que a empreiteira teria comprado um terreno para sediar o Instituto Lula e deu detalhes sobre o relacionamento do PT com a Odebrecht nos governos de Lula e Dilma Rousseff. Segundo o ex-ministro, a empresa fez um "pacto de sangue" com o PT e prometeu um repasse de R$ 300 milhões a Lula pouco antes de ele deixar o governo para dar lugar a Dilma.