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Lula diz que depoimento de Palocci foi digno de pena

Em 10 de maio, Lula teve Roberto Teixeira (terceiro no alto, da esquerda para a direita), réu neste processo, entre seus defensores - Reprodução - Reprodução
Em 10 de maio, Lula teve Roberto Teixeira (terceiro no alto, da esquerda para a direita), réu neste processo, entre seus defensores
Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

13/09/2017 18h16Atualizada em 14/09/2017 00h15

Em depoimento ao juiz Sergio Moro, em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou nesta quarta-feira (13) ter ficado com raiva do ex-ministro Antonio Palocci, após o colega de partido tê-lo acusado de aceitar a propina da Odebrecht por meio da compra de um terreno para o instituto Lula e um apartamento em São Bernardo do Campo (SP).

Lula disse ter sentido pena da forma como Palocci testemunhou contra ele a Moro. "Eu vi o depoimento do Palocci. Eu não respondi nada, falei nada. Muita gente achou que eu ia chegar aqui com muita raiva do Palocci", disse.

Fico pensando como está a mãe dele, que é militante e fundadora do PT. Não tenho raiva do Palocci, tenho pena de ter terminado uma carreira tão brilhante da forma como ele terminou

Ao final do depoimento de duas horas e dez minutos, Lula disse que Palocci tem "direito a querer ser livre", mas que ficou preocupado quando o ex-ministro "jogou para cima dos outros" a responsabilidade pelos crimes cometidos.

"O Palocci está preso há mais de um ano, o Palocci tem direito de querer ser livre, tem direito a ficar com o pouco do dinheiro que ele ganhou fazendo com palestra, tem direito de ficar com a a família. O que não pode é se você não quer assumir a tua responsabilidade pelos fatos ilícitos que você fez não jogue em cima dos outros", declarou.

Na avaliação de Lula, Palocci foi digno de pena ao dizer que não é santo e tratar com detalhes dos supostos crimes praticados pelo ex-presidente. "'Não é que eu sou santo, e pau no Lula'. Que é um jeito de você conquistar veracidade para sua frase. Eu senti pena disso", afirmou. 

"Simulador, calculista e frio"

O ex-presidente Lula chamou ainda Palocci de simulador, calculista e frio, ao negar as acusações do ex-ministro.

"Eu conheço o Palocci bem. O Palocci, se não fosse um ser humano, ele seria um simulador", afirmou Lula. "Ele é tão esperto que é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade. O Palocci é médico, calculista, é frio", completou o ex-presidente a Moro, que comanda os processos da Operação Lava Jato na primeira instância.

Lula chama Palocci de “simulador, calculista e frio”

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Perguntado por Moro se Palocci teria mentido no depoimento que deu, o ex-presidente confirmou.

"A única coisa que tem verdade ali é ele dizer que ele está fazendo aquela delação porque ele quer os benefícios da delação. Ou quem sabe ele queira um pouco do dinheiro que vocês bloquearam dele".

Lula diz que Palocci foi cumprir "ritual" em depoimento

UOL Notícias

Em depoimento a Moro no último dia 6, Palocci afirmou que o ex-presidente deu seu aval a um "pacto de sangue" entre o PT e a Odebrecht que teria sido criado na transição entre o governo de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, também do PT, no fim de 2010. Segundo Palocci, a Odebrecht ofereceu um "pacote de propinas" que incluía R$ 300 milhões para o PT e Lula.

Em seu depoimento, Palocci afirmou ainda que agiu com Lula para barrar investigações da Operação Lava Jato. O ex-presidente negou as acusações e afirmou estar decepcionado com seu parceiro de partido.

Lula rebateu a acusação sobre o "pacto de sangue".

"Ele (Palocci) fez um pacto de sangue com os delatores, com os advogados dele e talvez com o Ministério Público. Porque ele disse exatamente o que o PowerPoint queria que ele dissesse", afirmou Lula, fazendo referência à apresentação de denúncia contra ele feita pelo procurador da República Deltan Dallagnol, em setembro do ano passado.

Lula pergunta se Moro é 'imparcial'

Na última consideração ao juiz, Lula questiona a Moro se ele será "imparcial" no julgamento. "E vou terminar fazendo uma pergunta para o senhor, doutor. Eu vou chegar em casa amanha e eu vou almoçar com oito netos e uma bisneta de seis meses que posso olhar na cara dos meus filhos e dizer que eu vim a Curitiba para prestar depoimento a um juiz imparcial?", perguntou.

Moro dá uma resposta afirmativa ao réu. "Não cabe ao senhor fazer esse tipio de pergunta para mim. Mas de todo todo modo, sim". Lula rebateu: "Porque não foi o procedimento na outra ação". Moro não demora em chamar a atenção do petista. "Eu não vou discutir a outra ação, minha convicção foi que o senhor é culpado", declarou o juiz.

O processo

Lula é réu por suspeita de envolvimento em um esquema de corrupção envolvendo oito contratos, firmados de 2004 a 2012, entre a empreiteira Odebrecht e a Petrobras. Sobre ele recaem acusações de nove crimes de corrupção passiva e 94 de lavagem de ativos. A defesa do petista nega as incriminações.

Segundo denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal, o ex-presidente teria recebido a promessa de um terreno para a instalação do Instituto Lula. A oferta, ainda de acordo com o MPF, foi feita pelo ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, em função de Lula ter mantido os executivos Renato Duque e Paulo Roberto Costa em diretorias da Petrobras. Isso teria permitido fraudes e desvios de R$ 75,4 milhões em licitações que contavam com a participação da empreiteira. Desse valor, R$ 12,4 milhões estariam ligados ao caso do terreno.

Essa ação penal envolve a suspeita de um esquema de corrupção com oito contratos, firmados de 2004 a 2012, entre a empreiteira Odebrecht e a Petrobras.

Com desvios de R$ 75,4 milhões, o ex-presidente é suspeito de ter sido beneficiado com a compra de um terreno em São Paulo que seria sede do Instituto Lula e com a aquisição do apartamento vizinho ao imóvel em que ele vive hoje, em São Bernardo do Campo (SP). Lula é acusado de ter cometido o crime de corrupção passiva por nove vezes, e o de lavagem de ativos por 94 vezes.

Além de Lula, também são réus neste processo:

Desses, apenas Branislav e Teixeira ainda não foram interrogados. Caso a fala de Lula não termine antes do anoitecer desta quarta-feira, é provável que Branislav, o outro réu com fala marcada para hoje, preste esclarecimentos a Moro em uma outra data.

Teixeira, por sua vez, deveria ter sido ouvido em Curitiba na semana passada, em 6 de setembro. Porém, na noite anterior, foi internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Diagnosticado com insuficiência cardíaca aguda, o advogado teve alta na sexta-feira passada (8) e passou a repousar em casa por ordens médicas. Na última segunda-feira (11), atendendo pedido da defesa, Moro remarcou o interrogatório de Teixeira, que seria ouvido nesta quarta, para as 13h30 de 20 de setembro.

Passado e futuro

No primeiro interrogatório, Lula prestou esclarecimentos a respeito da acusação de que estaria envolvido no esquema de corrupção envolvendo três contratos entre a empreiteira OAS e a Petrobras. O depoimento durou quase cinco horas, um dos mais longos da Lava Jato.

Moro decidiu sentenciá-lo a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele concluiu que Lula "tinha um papel relevante no esquema criminoso que vitimou a Petrobras e que envolvia ajustes fraudulentos de licitação e o pagamento de vantagem indevida a agentes da empresa, a agentes políticos e a partidos políticos".

O petista recorre da decisão em liberdade no TRF (Tribunal Regional Federal) da 4ª Região, a segunda instância da Lava Jato.

Além de hoje, Lula e Moro terão um novo encontro previsto para o primeiro semestre do ano que vem. Em agosto, o juiz tornou o ex-presidente réu pela terceira vez na Lava Jato, agora em um processo sobre um esquema de corrupção envolvendo um sítio em Atibaia (SP), sob suspeita de ser uma vantagem indevida paga a Lula.

A defesa do petista nega as acusações em todos os processos e afirma que há uma perseguição política contra Lula.