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Diretora da H.Stern diz que mulher de Cabral exigia "discrição total" sem emissão de nota

Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral, cumpre prisão domiciliar - Foto: ABr
Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral, cumpre prisão domiciliar Imagem: Foto: ABr

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

19/09/2017 17h29Atualizada em 19/09/2017 20h20

A diretora comercial da H.Stern, Maria Luiza Trotta, afirmou nesta terça-feira (19) que a mulher do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), a advogada Adriana Ancelmo, exigia "discrição total" na compra de joias e pedras preciosas comercializadas pela empresa.

Ainda segundo ela, que prestou depoimento na 7ª Vara Federal Criminal, no Rio de Janeiro, em uma das ações penais decorrentes das investigações da Operação Lava Jato, Adriana pediu para que a joalheria não emitisse notas fiscais de produtos cujos valores eram mais altos.

Os comprovantes eram emitidos pela H.Stern apenas para as joias de menor valor, de acordo com a diretora comercial. A mulher do ex-governador do Rio chegou a desembolsar, por exemplo, R$ 1,8 milhão em um par de brincos.

Além da "discrição total", afirmou Maria Luiza, Adriana era privilegiada com atendimento personalizado, feito de forma exclusiva pela própria diretora comercial. A depoente ia até a casa do casal Cabral para mostrar os produtos, assim como ao escritório da advogada e também ao Palácio Guanabara, sede do Executivo fluminense.

"Não era um atendimento usual. Era um atendimento com muitas exceções ao mesmo tempo."

"Nenhum cliente da empresa teve todas essas prerrogativas", afirmou ela, que assinou acordo de colaboração premiada com o MPF (Ministério Público Federal) na ação penal que investiga crimes de lavagem de dinheiro por meio da aquisição de joias e pedras preciosas da H.Stern.

Maria Luiza corroborou fatos narrados em depoimentos anteriores e explicou que começou a atender Adriana em 2012, substituindo uma outra vendedora. Na época, a mulher de Cabral estava insatisfeita com a qualidade das pedras comercializadas pela H.Stern e chegou a ser convidada a conhecer pessoalmente o laboratório da empresa.

Nesse período, a cliente queria outras opções de consumo, relatou a interrogada. "Ela [Adriana] não tinha mais interesse em diamantes brancos, ela queria diamantes amarelos. Eu saí com essa missão de procurar diamantes amarelos para ela."

A funcionária afirmou ainda que as exigências do casal Cabral e, sobretudo, o método de pagamento (com dinheiro em espécie) causavam "estranheza" no ambiente interno da empresa. A "demanda de discrição total", conforme descrito pela depoente, incluíam uma espécie de contabilidade paralela.

Os pagamentos de valores vultosos em espécie eram feitos diretamente na tesouraria da H.Stern. O dinheiro era levado pelos homens apontados como operadores financeiros do ex-governador: Carlos Miranda e Luiz Carlos Bezerra.

Segundo o presidente da joalheria, Roberto Stern, a empresa teve um lucro de cerca de R$ 6 milhões com as joias e pedras preciosas vendidas para o casal Cabral.

A maior parte desse dinheiro teria entrado no caixa por meio dos pagamentos feitos diretamente na tesouraria. Havia uma planilha, segundo o diretor financeiro, Oscar Luiz Goldemberg, que registrava todas as movimentações.

Stern e Goldemberg também depuseram nesta terça na 7ª Vara Federal Criminal. Os documentos citados foram entregues ao MPF nos acordos de colaboração assinados por ambos.

"Chegamos ao limite de criar um controle paralelo, com pagamento direto na tesouraria", disse Roberto Stern. "Teve um ou outro pagamento da Adriana em cheque. Dos R$ 6 milhões, quase que a totalidade foi em espécie", relatou Goldemberg.

Após a audiência na 7ª Vara Federal, os advogados do casal Cabral se posicionaram. O advogado de Adriana, Alexandre Lopes, afirmou lamentar "que diretores de uma empresa do porte da H.Stern venham a juízo faltar com a verdade a fim de manterem seus prêmios obtidos com delações em que inventam fatos".

Já Rodrigo Roca, que representa o ex-governador, disse que todas as informações referentes à joalheira são apenas "memórias" da diretora comercial, Maria Luiza Trotta. "Seria risível, se não houvesse pessoas presas por isso, que toda a prova do processo tenha sido extraída da memória da sra. diretora comecial da H.Stern. Com as oitivas de hoje, ficou claro que nem o presidente da empresa e nem os seus diretores sabiam do que se passava nas operações de compra e venda de joias".

Entenda o caso

Em 16 de junho, o MPF apresentou denúncia contra Cabral e Adriana Ancelmo, além dos assessores Luiz Carlos Bezerra e Carlos Miranda, por lavagem de dinheiro cometidos com a compra de joias em espécie, sem nota fiscal ou certificação nominal, revelados após a celebração de acordo de colaboração premiada.

Segundo as investigações, por cinco vezes, os acusados adquiriam joias e pedras preciosas --avaliadas no valor total de R$ 4,5 milhões-- com propósito de ocultarem ou dissimular a origem de dinheiro derivado de crimes praticados pela organização criminosa.

De acordo com a denúncia, o dinheiro sujo era oriundo de propinas pagas por empreiteiras, entre 2007 e 2014, em contratos para obras do metrô, reforma do Maracanã, PAC das Favelas e do Arco Metropolitano.

Adriana Ancelmo nega ter praticado lavagem de dinheiro.