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Secretário de Cabral diz que assumirá erros e critica vazamento de imagens dele nu

Sérgio Côrtes está preso desde abril em decorrência da Operação Fatura Exposta - Fábio Motta/Estadão Conteúdo
Sérgio Côrtes está preso desde abril em decorrência da Operação Fatura Exposta Imagem: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

Carolina Farias

Colaboração para o UOL, no Rio

21/09/2017 19h18

O ex-secretário de Saúde do Rio de Janeiro Sérgio Côrtes foi ouvido nesta quarta-feira (21) pela primeira vez pelo juiz federal Marcelo Bretas no processo em que responde por obstrução de justiça na 7ª Vara Criminal. Ele é acusado pelo delator César Romero, ex-subsecretário de Saúde, de tê-lo procurado para combinar como seria feita a delação premiada --a conversa foi gravada por Romero.

Preso em abril passado, Côrtes, que comandou a pasta a Saúde entre 2007 e 2013 na gestão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), negou a acusação em depoimento. Em 2010, César Romero foi exonerado do cargo pelo próprio Côrtes, acusado de corrupção e superfaturamento na manutenção de ambulâncias.

O ex-secretário, o empresário Miguel Skin e seu sócio, Gustavo Estelitta, são acusados de corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa em um esquema de compra de próteses ao Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia), quando a instituição era presidida por Côrtes, e de equipamentos médicos para o governo do Rio. Eles foram presos na Operação Fratura Exposta, desdobramento da Lava Jato, com base na delação premiada de Romero.

Abatido e mais magro, Côrtes foi o primeiro a ser ouvido. Ele negou ter tentado combinar algo com Romero e diz ter sido procurado pelo ex-subsecretário.

"Em um dia quando me preparava para uma reunião com meu advogado, me ligou um número de telefone fixo e para minha surpresa era o César [Romero]. Havia saído uma nota em um jornal [sobre delação] minha. Ele disse que eu queria que ele se ferrasse e que a gente tinha que se encontrar. Comuniquei ao meu advogado e ele falou para eu ir ao encontro com Romero e voltar ao escritório dele antes de uma reunião com o procurador", relatou Côrtes.

Segundo o ex-secretário, ele foi recebido primeiro pelo irmão de Romero, Cláudio Romero, e depois pelo autor da denúncia. "Ele disse que foi pego de surpresa, mas como, se ele me ligou. Em nenhum momento não assumi meus erros, vou falar todos aqui, mas nessa questão da obstrução, em nenhum momento, tem algum pedido a ele. 'César faz isso ou aquilo'", afirmou a Bretas.

Em alguns momentos, o juiz pediu moderação nas expressões usadas pelo ex-secretário de Saúde. "O senhor está usando muito termos usados onde o senhor está", acrescentou o juiz em referência ao presídio onde Côrtes cumpre prisão. O ex-secretário rebateu. "Lá, eles são bem mais chulos."

Sérgio Côrtes - Reprodução - Reprodução
Imagem de circuito interno mostra Côrtes antes da chegada da polícia; investigadores suspeitam que ele foi avisado
Imagem: Reprodução

Imagens nu

No depoimento, Côrtes relatou os dias que antecederam sua prisão até os momentos em que a polícia chegou à sua casa na Lagoa, zona sul do Rio. Ele também é acusado pelo Ministério Público Federal de ter sido avisado que seria preso.

"Olhei na janela e vi a polícia. Sabia que era eu, que não estava imune. Até assinar termo [de delação] não estava impedido de ser preso", disse Côrtes, que não é delator.

Bretas então questiona por que ele correu, como mostram imagens de câmeras internas divulgadas pelo "RJTV", da TV Globo. "Porque estava sem roupa. Eu peguei a mochila, coloquei as roupas e sentei para esperar a polícia. As câmeras eram da minha casa e as imagens vazaram. O problema não é quem recebeu, o problema é quem vazou", queixou-se Côrtes sobre a divulgação das imagens.

Para o advogado de Côrtes, Rafael Kullmann, o depoimento foi positivo. "A versão de obstrução de justiça é fantasiosa e hoje ficou claro que não aconteceu", declarou.

Segundo o defensor, o ex-secretário, que é médico, trabalha na prisão onde está encarcerado --a unidade de Benfica, na zona norte do Rio, tem uma ala destinada a presos da Operação Lava Jato. Os dias trabalhados podem ser usados em remissão de pena, caso ele seja condenado.

"Ele trabalha bastante, todos os dias, até além do seu horário. Atende a todos, até presos de facções. Já foram 1.645 atendimentos", disse.

Covardia

Durante seu depoimento, Miguel Skin se irritou com questionamento do MPF sobre o significado do conteúdo de um e-mail que Côrtes enviou a ele e que consta no inquérito.

O e-mail diz: "Meu chapa, você pode tentar negociar uma coisa ligada à campanha. Pode salvar seu negócio. Podemos passar pouco tempo na cadeia... Mas nossas putarias têm que continuar".

Para Skin, o questionamento foi maldoso. "Isso é maldade do Ministério Público, que sabe bem ao que se refere. Isso atacou a mim, foi parar nos jornais antes de eu saber. Ele [Côrtes] saiu em 2013 [da secretaria] e isso foi tratado em 2016. É covardia. É um assunto íntimo e pessoal", declarou Skin ao se negar a explicar o que significava o termo.

Os demais ouvidos na audiência, Skin, que está preso, e Sergio Eduardo Vianna, que não foi detido, também negaram ter tentando coagir Romero.