Dodge apoia decisão de Janot e diz que rescisão de delação não invalida prova na Lava Jato
Na primeira entrevista coletiva desde a posse, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou nesta terça-feira (26) que a rescisão de delações premiadas não deve invalidar provas coletadas por meio do acordo. O posicionamento coincide com o de seu antecessor, Rodrigo Janot.
“No tocante às provas, me parece que a lei é clara no sentido de que a rescisão do acordo não invalida a prova produzida no âmbito da delação premiada”, Ela assumiu a PGR (Procuradoria-Geral da República) no último dia 15 no lugar de Rodrigo Janot, que não foi à cerimônia de posse.
- Os olhos, ouvidos e punhos de Raquel Dodge na Lava Jato
- Embate na PGR: de onde vem a rivalidade entre Dodge e Janot?
- Em dez pontos: como pensa a nova procuradora-geral, Raquel Dodge?
Dodge ainda reforçou que o momento na PGR é de estudo de todas as delações já firmadas e encaminhadas. “Muitas não foram homologadas ainda, então estamos conhecendo esse material. Algumas providências já foram feitas ao longo dessa última semana a respeito de cada um desses casos.”
A possibilidade de anulação de provas fruto de delação premiada foi ventilada depois que o então procurador-geral, Rodrigo Janot, anunciou investigação para apurar possível omissão no acordo feito entre parte dos delatores da JBS e a PGR.
A delação dos executivos da JBS embasa parte da segunda denúncia da PGR contra o presidente Michel Temer (PMDB). A decisão sobre a rescisão da delação da JBS aguarda análise no STF (Supremo Tribunal Federal).
Questionada sobre vazamentos do conteúdo de delações em curso, Dodge falou que a lei determina o sigilo sobre as tratativas e as provas colhidas. Portanto, disse, esperará que o Judiciário autorize a revelação das informações para distribuí-las à imprensa.
A entrevista coletiva foi dada após reunião de Dodge com os ministros Torquato Jardim (Justiça), Raul Jungmann (Defesa), e Sergio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional).
Na sexta-feira passada (22), Dodge já havia se reunido com o ministro Raul Jungmann. Em entrevista após o encontro, em meio à onda de violência no Rio de Janeiro, ele propôs a criação de uma força-tarefa federal voltada exclusivamente ao combate do que chamou de "Estado paralelo que existe hoje no Rio".
O grupo seria composto por integrantes do MPF (Ministério Público Federal), comandado por Dodge, da Justiça Federal e da Polícia Federal.
Raquel Dodge não fez anúncios sobre medidas a serem tomadas quanto ao Rio, mas falou que as conversas serviram para aproximar as instituições e alinhar as percepções de cada uma. Segundo a procuradora-geral, ela e os ministros fizeram diagnósticos e estudaram como o governo pode atuar de forma conjunta. Os encontros devem continuar nas próximas semanas, informou. Entre os crimes federais praticados nas favelas estão o tráfico de drogas, armas e munições.
Dodge diz que dará prosseguimento a denúncia contra Temer
Na entrevista, Dodge também foi provocada se endossa a denúncia contra o presidente da República, Michel Temer (PMDB), oferecida por Rodrigo Janot, e se acreditava Temer ser “um chefe de organização criminosa”. Ela preferiu não se estender nos comentários, mas disse que dará prosseguimento no caso se a peça for acatada pela Câmara dos Deputados e pelo STF.
"Não me cabe dar opinião sobre o que fará e como se manifestará a Câmara, porque respeito essa instituição. Se a Câmara aprovar a continuidade [desta tramitação], exercerei [meu papel] com clareza e transparência. [...] Não pode nenhum procurador, nenhum membro do Ministério Público, dispor da ação penal, voltar atrás, em uma linguagem mais leiga. Uma vez recebida, a ação penal pública é indisponível, darei a ela a continuidade que é do mister do meu cargo", argumentou.
Lava Jato terá todo o apoio, diz Dodge
Na semana passada, após o discurso de posse, Dodge foi criticada por não ter citado explicitamente a operação Lava Jato. Nesta terça, após questionamento da imprensa, ela garantiu estar comprometida com a força-tarefa e afirmou que a Lava Jato teve resultados transformadores na população, no sentido de que a corrupção pode e deve ser combatida.
“O compromisso do Ministério Público com o combate à corrupção, em especial à Operação Lava Jato, que tantas transformações benéficas têm trazido para o país, é o meu compromisso. Todos os membros do MPF, assim como a população brasileira, reconhecem a importância desta investigação, os resultados que dela decorrem, que são não só diretamente relacionados com alguém que comete crimes, mas é um resultado transformador e inibitório da prática de crimes semelhantes”, ressaltou.
Segundo Dodge, a Lava Jato é marcante por ter se diferenciado de outras operações na medida em que não dependeu de instrumentos jurídicos, como leis, a serem aprovados no Congresso. Para ela, a lei que criou a delação premiada foi “adequada” e tem trazido “resultados interessantes” de crimes “entre quatro paredes e de forma dissimulada”.
“Então, [a Lava Jato] terá prosseguimento natural e todo o apoio da minha gestão à frente da PGR, inclusive no meu gabinete onde mantivemos parte da força-tarefa constituída e trouxemos novos procuradores”, disse.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.