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Palocci pede desfiliação do PT e diz que Lula sucumbiu ao pior da política; PT aceita pedido

O ex-ministro Antonio Palocci - Folhapress
O ex-ministro Antonio Palocci Imagem: Folhapress

Do UOL, em São Paulo

26/09/2017 18h49Atualizada em 26/09/2017 21h43

O ex-ministro Antonio Palocci pediu a desfiliação do PT nesta terça-feira (26), um ano após ter sido preso na Operação Lava Jato. "Ofereço minha desfiliação, e o faço sem qualquer ressentimento ou rancores. Meu desligamento do partido fica então à vossa disposição", disse em carta endereçada à Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores. O PT aceitou o pedido e desfiliou Palocci da sigla na noite desta terça.

"Política e moralmente, Palocci já está fora do PT", afirmou em nota a presidente do partido, Gleisi Hoffmann.

Além de "oferecer" sua desfiliação, Palocci aproveita o texto para fazer um acerto de contas com o PT. Ele afirma que não pode permanecer no partido no qual "quem fala a verdade é punido e os erros e ilegalidades são varridos para debaixo do tapete".

O ex-ministro é alvo de um processo aberto pela comissão de ética do PT em Ribeirão Preto (SP), diretório ao qual é filiado. Na semana passada, a direção nacional do partido também decidiu suspender Palocci por até 60 dias, enquanto durasse o processo no diretório municipal.

A desfiliação de Palocci é o ponto máximo de um processo de afastamento entre o político e o partido que começou com a negociação de um acordo de delação premiada de Palocci na Operação Lava Jato.

Em abril, durante interrogatório feito pelo juiz Sergio Moro, Palocci já tinha deixado claro que estava disposto a colaborar com as autoridades. Neste mês, respondendo a processo junto de Lula, acusou o ex-presidente e o PT de terem feito um "pacto de sangue" com a Odebrecht, que envolveria um "pacote de propinas", o que levou à abertura do processo no PT de Ribeirão Preto. A suspensão veio em seguida, em caráter simbólico.

Após o interrogatório, Lula disse que Palocci fez acusações falsas para garantir um acordo de delação premiada.

Na carta enviada ao PT, Palocci reafirma suas acusações e, a partir daí, elenca o que julga ser os erros e crimes do partido. "Quero adiantar que são fatos absolutamente verdadeiros. São situações que presenciei, acompanhei ou coordenei normalmente junto ou a pedido do ex-presidente Lula. Tenho certeza que, cedo ou tarde, o próprio Lula irá confirmar tudo isso, como chegou a fazer no "mensalão".

Palocci admite ter cometido uma série de ilegalidades em nome do partido, mas ficou "em choque" com as atitudes de Lula.

Não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo.

Segundo o ex-ministro, a cena mais chocante que presenciou foi a reunião com Lula no Palácio do Alvorada, na qual tratou da compra de sondas da Petrobras.

"Um dia, Dilma [Rousseff] e [Sérgio] Gabrielli dirão a perplexidade que tomou conta de nós após a fatídica reunião na biblioteca do Alvorada, onde Lula encomendou as sondas e as propinas, no mesmo tom, sem cerimônias, na cena mais chocante que presenciei do desmonte moral da mais expressiva liderança popular que o país construiu em toda nossa história".

Coordenei várias campanhas eleitorais, em vários níveis e pude acompanhar de perto a evolução de nosso poder e deterioração moral

Na carta, Palocci diz ainda ter discutido com Lula e o ex-presidente do PT Rui Falcão a possibilidade de celebração de um acordo de leniência em favor do PT e sugere que a "delação" do partido ainda seja feita. "Tive oportunidade de expressar essa opinião informal a Lula e a Rui Falcão, então presidente do PT, que naquela oportunidade, transmitia uma proposta apresentada por João Vaccari para que o PT buscasse um processo de leniência na Lava Jato".

Palocci diz que Odebrecht ofereceu R$ 300 mi a Lula em "pacto de sangue"

UOL Notícias

Lula já não é mais o "retirante", diz Palocci

Segundo Palocci, Lula se dissociou do "menino retirante". E fez isso "para navegar no terreno pantanoso do sucesso sem crítica, do 'tudo pode', do poder sem limites, onde a corrupção, os desvios, as disfunções que acumulam são apenas detalhes".

O ex-ministro culpa Lula inclusive por "eleger e reeleger um mau governo", sem citar o nome da ex-presidente Dilma Rousseff. "Nada importava, nem mesmo o erro de eleger e reeleger um mau governo, que redobrou as apostas erradas, destruindo, uma a uma, cada conquista social e cada um dos avanços econômicos tão custosamente alcançados."

Palocci afirma não compreender o processo instaurado no partido contra ele. "Enquanto os fatos me eram imputados e eu me mantive calado não se cogitava minha expulsão. (...) Agora que resolvo mudar minha linha de defesa e falar a verdade, me vejo diante de um tribunal inquisitorial dentro do próprio PT". Ele ainda insinua que se o PT adotar um critério sobre a quantidade de condenações ou processos em andamento, ele não deveria ser o único a responder por apuração dentro do partido.

"Até quando vamos fingir na autoproclamação do homem mais honesto do país' enquanto presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Instituto (!!) são atribuídos a Dona Marisa?".

Ao atacar Lula, Palocci ironiza o ex-presidente ao chamá-lo de "pretensa divindade". "Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e osso ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade?".

Palocci diz ainda que por décadas tomava suas decisões ao pensar primeiramente no PT, pela política. "Agora decidi pela minha família. E o fiz com a alma tranquila".

Procurada pelo UOL, a assessoria do ex-presidente informou que não irá se pronunciar e que Lula já comentou sobre as declarações de Palocci no depoimento que deu ao juiz Sergio Moro.

Palocci é réu com Lula

No processo em que é réu junto de Lula, Palocci é acusado de participar de um esquema de corrupção em que a Odebrecht teria pagado R$ 75,4 milhões em propina entre 2004 e 2012 ao grupo político do ex-presidente. O dinheiro seria ligado a oito contratos da construtora com a Petrobras. Parte dos recursos teriam sido usados na compra de um terreno para o Instituto Lula e um apartamento para o ex-presidente em São Bernardo (SP).

A defesa de Lula afirma que o ex-presidente nunca teve a posse ou propriedade dos imóveis, muito menos em contrapartida a contratos da Petrobras. Palocci já foi condenado na Lava Jato em junho e está preso há exatamente um ano. Ele foi sentenciado a 12 anos e dois meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.