Topo

Suspeito de receber propina para Henrique Alves tem cargo em ministério e salário de R$ 9,4 mil

Henrique Eduardo Alves está preso desde junho deste ano em Natal (RN) - Frankie Marcone/Futura Press/Estadão Conteúdo
Henrique Eduardo Alves está preso desde junho deste ano em Natal (RN) Imagem: Frankie Marcone/Futura Press/Estadão Conteúdo

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

29/09/2017 04h00

Um dos homens apontados como “transportadores de propina” para o ex-presidente da Câmara dos Deputados e ex-ministro do Turismo Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) tem um cargo de confiança no mesmo ministério do qual o potiguar foi chefe e recebe R$ 9.400 por mês. Um relatório elaborado pela Polícia Federal com base em documentos do empresário Lúcio Funaro indica que Norton Domingues Masera, que já foi assessor direto de Henrique Alves, teria recebido R$ 600 mil em propinas pagas ao ex-presidente da Câmara. 

A reportagem tentou contatar Norton Domingues Masera e a defesa de Henrique Alves para comentar a suspeita de propina em nome do ex-ministro. A defesa de Henrique Alves não respondeu até a publicação desta reportagem. À reportagem do UOL, Norton disse que não vai se pronunciar sobre o caso (veja abaixo mais sobre as defesas dos acusados).

Segundo depoimentos de Funaro, cuja delação premiada foi homologada pelo Supremo no último dia 5, e planilhas apreendidas pelos investigadores, parte dos repasses ilegais ao ex-presidente da Câmara foi feita a assessores próximos a Henrique Alves.

As planilhas indicam o nome de “Norton” como tendo recebido R$ 600 mil em duas parcelas. Uma de R$ 250 mil paga no dia 25 de setembro de 2014 e a outra, de R$ 350 mil, paga no dia seguinte. Ainda de acordo com as anotações de Funaro, os dois repasses foram feitos em Brasília.

O documento elaborado pelos investigadores indica que o “Norton” que aparece nas planilhas e no depoimento de Funaro pode ser Norton Domingues Masera. Ao aparecer nas anotações e nos depoimentos de Funaro, Norton deverá ser formalmente investigado em breve pela PF.

Norton trabalha no ministério desde 2015

Masera foi secretário parlamentar de Henrique Eduardo Alves até 2014, quando o então deputado disputou o governo do Rio Grande do Norte. Henrique perdeu as eleições em seu Estado, mas não ficou muito tempo sem um cargo público.

Em abril de 2015, ele foi nomeado pela então presidente Dilma Rousseff (PT) como ministro do Turismo, cargo que também exerceu durante os primeiros meses do governo do presidente Michel Temer (PMDB) até junho de 2016, quando pediu demissão.

Norton também acompanhou a ida de Henrique Alves ao Ministério do Turismo. Em maio de 2015, ele foi nomeado para o cargo de assessor especial do órgão, no qual permaneceu após a saída de seu antigo chefe.

Norton foi exonerado no dia 20 de janeiro deste ano, mas foi readmitido como chefe da assessoria parlamentar do ministério no dia 31 de janeiro, já sob o comando do ministro Marx Beltrão, ligado a Henrique Alves. Segundo o Portal da Transparência, Norton recebe R$ 9.400 por mês.

O relatório da PF indica que, segundo a contabilidade de Funaro, Henrique Eduardo Alves recebeu R$ 6,3 milhões entre 2012 e 2014.

Preso em desdobramento da Operação Lava Jato

O ex-ministro está preso em Natal desde junho deste ano, quando foi deflagrada a Operação Manus, um desdobramento da Operação Lava Jato.

Além de ser suspeito de ter se beneficiado de dinheiro de propina oriunda de esquemas operados por Lúcio Funaro, Henrique Alves também é investigado por ter recebido dinheiro de propina da empreiteira OAS referente a obras da Arena das Dunas, no Rio Grande do Norte. 

Henrique Eduardo Alves - Alan Marques/Folhapress - Alan Marques/Folhapress
Henrique Eduardo Alves foi ministro do Turismo e presidente da Câmara
Imagem: Alan Marques/Folhapress

O ex-ministro nega as acusações e diz nunca ter recebido dinheiro de propina.

Lúcio Funaro é apontado pelas investigações da Operação Lava Jato como um dos principais operadores de propina do PMDB. No último dia 5, o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), homologou a delação premiada do empresário.

Em seus 29 anexos, a delação descreveu como Funaro fazia o repasse de propina oriunda de diferentes esquemas para políticos do PMDB, entre eles o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e de Henrique Eduardo Alves.

Outro lado

Procurado pela reportagem, o Ministério do Turismo reiterou que Norton Domingues atua como chefe da Assessoria Parlamentar do órgão e que, entre suas atribuições, estão o “planejamento e coordenação de atividades relacionadas ao processo legislativo, o monitoramento de temas de interesse” do ministério no Congresso Nacional e a “sensibilização e orientação dos parlamentares sobre a aplicação de emendas parlamentares no orçamento do Ministério do Turismo”.

Norton recebeu a reportagem em seu gabinete no terceiro andar do Ministério do Turismo na última quinta-feira (28). Questionado sobre se conhecia Lúcio Funaro, se havia transportado dinheiro para Henrique Alves e se sabia do conteúdo do relatório produzido pela PF sobre seu suposto envolvimento no esquema, Norton disse que não se pronunciaria sobre o caso. "Só conheço esse Funaro pelos blogs que eu leio. Não vou me pronunciar sobre isso aí", afirmou. 

Questionado sobre as suspeitas de que ele atuasse como transportador de propina de Henrique Eduardo Alves, o Ministério do Turismo se limitou a dizer que “cabe à Justiça investigar a veracidade da delação [de Lúcio Funaro]”.

A reportagem do UOL também contatou a defesa de Henrique Alves para comentar a suspeita de que seu ex-assessor tenha recebido propinas em seu nome, mas até a publicação desta reportagem, ela ainda não havia enviado um posicionamento sobre o assunto.