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PSC cede vaga, e tucano pró-Temer se mantém como relator de denúncia na CCJ

Bonifácio de Andrada vota por rejeição de 1ª denúncia contra Temer

UOL Notícias

Gustavo Maia e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

05/10/2017 17h01Atualizada em 05/10/2017 23h08

Após ter sido retirado da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara pelo líder do seu partido na Casa nesta quinta-feira (5), o deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) vai permanecer como relator da denúncia contra o presidente Michel Temer (PSDB) na comissão. Ele passará a ocupar o lugar de um deputado do PSC, partido da base de Temer que cedeu uma vaga para que Andrada se mantivesse na relatoria.

A decisão foi divulgada na tarde desta quinta pela assessoria da CCJ. O deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) foi retirado da comissão pelo líder do partido na Câmara, o deputado Victório Galli, para dar lugar a Bonifácio, que era suplente pelo PSDB. O tucano vai ocupar uma vaga de suplente. O PSC é o partido do líder do governo no Congresso, deputado André Moura (SE).

Em entrevista no final da tarde, Bonifácio de Andrada afirmou que permanecer na relatoria era sua "obrigação".

"Estou prestando serviços", comentou o deputado, que disse não ver problemas na decisão do PSDB. "Ele tem esse poder. Foi muito elegante, delicado. (...) Não tem desrespeito. Faz parte, estamos fazendo nossa parte. Um ato político, da consciência dele”.

O deputado afirmou que, desde que aceitou o posto e comunicou à direção do partido "começou uma agitação muito grande". "Criou uma situação tal que eu fiquei em dificuldade de mudar de posição, de me afastar", declarou.

Questionado se pretende se desfiliar do PSDB ou tomar alguma atitude em retaliação “cortando as asas dos tucanos”, de forma figurativa, Bonifácio brincou que “tucano é difícil de pegar no ar” e é um animal “muito bonito”.

O tucano defendeu que o Congresso decida sobre o destino da denúncia contra Temer e ressaltou que o STF apenas interpreta as leis que são formuladas pelo Legislativo. "O juiz não está muito vinculado à vida social. O parlamentar vai te dar informações muito mais seguras e muito mais profundas do que o juiz", declarou.

"Todas as leis que o Supremo Tribunal utiliza são feitas aqui. Quem faz a lei, quem faz a Constituição é o Poder Legislativo", disse, exaltado.

Perguntado sobre pesquisas que indicam o distanciamento dos políticos perante a sociedade e a preferência pelo prosseguimento das investigações contra Temer, Bonifácio minimizou: "são estatísticas".

Oficializado nesta tarde, o desligamento de Bonifácio da CCJ foi acertado pelo deputado Ricardo Trípoli (PSDB-SP), líder tucano na Câmara, e pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente em exercício do partido, durante reunião com o deputado mineiro pela manhã.

Cabe aos líderes partidários indicar ou retirar parlamentares para ocupar vagas em comissões da Casa. Trípoli disse ter levado em conta a divergência interna no PSDB com relação ao governo Temer para tomar a decisão, visto que a relatoria da denúncia nas mãos de um tucano causaria um "problema partidário".

"Ficaria sendo o relatório do PSDB", comentou.

Em nota conjunta divulgada à imprensa no fim da tarde, Tasso, Trípoli e o senador Paulo Bauer, líder do partido no Senado, informaram que o partido "nada tem a opor à possibilidade de que o mesmo venho a assumir uma outra vaga naquela comissão". Os tucanos registraram ainda as "qualificações pessoais e intelectuais que o credenciam a um trabalho que honra seu passado de grandes serviços prestados ao país".

Situação e oposição criticam PSDB

Um dos vice-líderes do governo na Câmara, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) disse que decisão do PSDB foi de "uma incoerência muito grande" e que o partido está "muito dividido". "Ele vai fazer o relatório da cabeça dele, meu Deus", comentou.

Também vice-líder do governo, o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) disse que a atitude não teve "consequência nenhuma, a não ser causar um constrangimento por alguns minutos". 

Mansur ainda criticou os tucanos por afastarem Bonifácio. "É uma coisa muito chata de se fazer com um deputado que está há dez mandatos", declarou. O relator da denúncia está na Câmara desde 1979.

Da oposição a Temer, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) criticou o PSDB por querer "se equilibrar e se desresponsabilizar". "O PSDB não desce do muro. Ele quer ser oposição e manter os cargos ao mesmo tempo", declarou.

"O próprio PSDB procurar outro partido para ele ser o relator é ridículo. Entendemos que o Bonifácio de Andrada é um relator escolhido a dedo para dar um relatório favorável ao Temer. Pela resistência que ele mostra em largar a relatoria, ele já tem um relatório pronto para salvar a pele do Temer", comentou Valente.

A situação foi classificada por ele como esdrúxula. "Ao invés de tirá-lo e pronto, vai procurar um caminho para que ele seja o relator de uma matéria que qualquer aceitação pela Câmara dos Deputados será uma nova vergonha nacional", concluiu.

PSDB tentou tirar Bonifácio da relatoria

Na primeira denúncia, parte da bancada tucana teve que passar pelo constrangimento de votar contra um correligionário quando o deputado Paulo Abi-Ackel (MG) foi escolhido para relatar um parecer favorável ao presidente.

Isso ocorreu após a derrota na CCJ do relatório pela admissibilidade da denúncia, do deputado Sergio Zveiter (Podemos-RJ), que era do PMDB e foi pressionado a se desfiliar do partido após o imbróglio.

Para evitar outro embaraço, os tucanos tentaram sensibilizar o deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), presidente da CCJ, antes que ele anunciasse quem assumiria a relatoria. De acordo com Trípoli, o peemedebista chegou a lhe dizer que não escolheria ninguém do PSDB.

Em seguida, quando o nome de Bonifácio começou a ser ventilado pela imprensa, ele contou ter ligado para o mineiro de 87 anos. O tucano teria respondido que, se convidado fosse, não aceitaria.

Na última quinta (28), ao receber a notícia de que Pacheco anunciaria sua escolha uma hora mais tarde, Trípoli disse que foi questionado por Tasso Jereissati e voltou a falar com Bonifácio. O retorno, segundo o líder tucano, teve um tom diferente. "Achei estranho, ele disse que estava sofrendo muita pressão", relatou.

Desde então, segundo Trípoli, oito ou nove deputados e dois senadores falaram com Bonifácio para convencê-lo a deixar a relatoria. "A gente não tinha muitas opções diante do que vinha ocorrendo. Teria que achar um caminho", comentou.

Na manhã de quarta (4), surgiu a ideia de que Bonifácio se licenciasse do partido. "Não ficaria sendo 'o relatório do PSDB'. Foi a fórmula encontrada. Acho que, bem ou mal, a bancada aceitaria".

Mas o mineiro não cedeu, apesar de ter dito que faria uma reflexão. Ao UOL, ele afirmou que "todas as cartas ainda estão na mesa" ao ser questionado sobre a permanência na legenda e à frente da análise da denúncia, no fim da tarde desta quarta.