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Delator da J&F não responde perguntas de parlamentares em CPI

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

31/10/2017 10h43Atualizada em 01/11/2017 15h37

Ex-diretor de Relações Institucionais do grupo J&F e delator, Ricardo Saud compareceu à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da JBS nesta terça-feira (31), mas preferiu utilizar o seu direito de ficar em silêncio e não responder as perguntas feitas pelos parlamentares.

Ele foi convocado pelos membros do colegiado para prestar esclarecimentos sobre o processo de delação premiada de executivos da JBS, controlada pelo grupo J&F, ao Ministério Público Federal em 21 de setembro.

“Eu queria, não frustrando vossas excelências, lembrar que o meu acordo [de delação premiada], minha suspensão está cautelar, e eu vou permanecer em silêncio dentro do meu direito constitucional”, afirmou Saud ao ter a primeira oportunidade de depor.

O presidente da CPI, senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), ainda tentou convencer Saud a prestar depoimento, mas sem sucesso.

“Acho que aqui a vossa senhoria tem uma tribuna, inclusive diante da nossa competente imprensa, de poder fazer a sua defesa. Vossa senhoria não era dono do grupo J&F”, argumentou Oliveira.

Em resposta, Saud disse “pode ter certeza de que, tão logo as premissas do acordo sejam restabelecidas, ninguém tem mais interesse em falar do que eu”.

Os membros da CPI chegaram a propor que Saud falasse em uma sessão fechada, sem a presença da imprensa e do público, mas o ex-diretor da JBS negou.

“Mais uma vez desculpas [por] frustá-los, mas a imprensa tem cobrido [sic] com tanta honestidade e dignidade todo esse processo. No dia em que eu for falar, faço questão de que estejam todos presentes. Não me escondo atrás de ninguém para falar. Acho que a imprensa está fazendo um bom trabalho. Pelo contrário, quando minhas premissas forem restabelecidas, quero falar e muito”, afirmou Saud.

O relator da CPI e aliado do presidente da República, Michel Temer (PMDB), deputado Carlos Marun (PMDB-MS), declarou que “quem cala, consente” e, mesmo diante do silêncio de Saud, fez várias perguntas ao delator.

A primeira questionava o relacionamento de Saud com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin e a suposta ajuda do delator na época em que o magistrado seria sabatinado pelo Senado.

Outras se ambos mantinham amizade de longa data, se houve interesse do grupo J&F na chegada de Fachin ao Supremo, se houve jantar de Saud com um dos donos da JBS Joesley Batista, Fachin e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o motivo dele, se Saud já tinha documentos prontos para uma delação premiada antes do acordo conjunto da JBS, entre outras.

Em um momento da CPI, o senador Lasier Martins (PSD-RS) questionou se Saud esperava conseguir novamente sua liberdade para explicar a delação da JBS.

O delator rebateu “o meu acordo que fiz com a PGR, com o Brasil, com a União”. Saud também não quis comentar supostas ameaças de morte vindas do ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência Geddel Vieira Lima.

Ausência de ex-chefe de gabinete de Janot

Eduardo Pelella , ex-procurador da República e ex-chefe de gabinete do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, não compareceu à CPI da JBS nesta terça-feira. Ele havia sido convidado --quando não há obrigação de sua presença-- para explicar em que circunstâncias aconteceram as tratativas da delação premiada dos executivos do frigorífico ao Ministério Público Federal.

Pelella alegou como justificativa o sigilo profissional imposto aos servidores do MPF. Por isso, informou por meio de nota, está impedido de prestar esclarecimentos sobre o caso.

O senador Ataídes Oliveira defendeu que Pelella seja sabatinado no colegiado para “explicar [as acusações]” e protocolou um novo requerimento de convocação de testemunha para que o ex-procurador compareça à CPI. O pedido foi aprovado pelo plenário do colegiado.

Ainda foi convocado o empresário Victor Garcia Sandri, amigo do ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) dos governos petistas, Guido Mantega.

Durante a sessão, os membros da CPI aprovaram também promover audiências públicas para debater a instituição da delação premiada. Serão convidados a participar desses eventos o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, o juiz federal Sérgio Moro, o procurador Deltan Dellagnol, o juiz Marlon Reis e o presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Cláudio Lamachia.