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Presidente da Alerj diz que ministro mente, é "irresponsável" e "age com má-fé"

Do UOL, no Rio

31/10/2017 16h51Atualizada em 31/10/2017 16h59

O presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Jorge Picciani (PMDB), rebateu nesta terça-feira (31) as declarações do ministro da Justiça, Torquato Jardim, que afirmou, em entrevista ao blog do colunista do UOL Josias de Souza, que as autoridades do Rio não controlam a Polícia Militar.

Segundo o chefe do Legislativo fluminense, o ministro "mente", é "irresponsável" e "age com má-fé". "Quando ele acusa todos os comandantes de estarem acumpliciados com o crime organizado, ele mente. A polícia tem punido os seus maus profissionais", declarou o deputado estadual, em vídeo publicado no Facebook.

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Na entrevista publicada nesta terça (31), Torquato critica o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e o atual secretário de Estado de Segurança Pública do Rio, Roberto Sá. Diz que eles não têm efetivo controle sobre a PM e que o comando da corporação decorre de "acerto com deputado estadual e o crime organizado". O ministro ainda acrescentou que "comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio".

"Em relação à influência de deputados, sejam estaduais ou federais, a mentira é ainda mais grosseira. Ela é de quem não tem nenhum conhecimento, de quem é irresponsável e de quem age com má-fé", rebateu Picciani.

"Não tem interferência de nenhum deputado estadual. É lamentável que ele minta, que contribua para mais confusão e não ajude com aquilo que o Ministro da Justiça, dentro das suas atribuições, é da sua responsabilidade fazer", completou.

Mais cedo, Pezão também já havia emitido posicionamento a respeito da entrevista de Torquato. Em nota, o peemedebista afirmou que "o governo do Estado e o comando da Polícia Militar não negociam com criminosos".

O governador disse ainda que as escolhas de comandos de batalhões e delegacias fluminenses são decisões técnicas e que jamais recebeu pedidos de deputados para tais cargos. "O governador destaca ainda que o ministro da Justiça, Torquato Jardim, nunca o procurou para tratar do assunto abordado pelo ministro na entrevista concedida ao UOL", declarou.

Por fim, Pezão defendeu o atual comandante da Polícia Militar: "(...) o comandante da PM, coronel Wolney Dias, é um profissional íntegro".

Secretário nega acerto de contas em morte de comandante

O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Roberto Sá, também refutou possíveis interferências políticas para nomeações na segurança pública do Estado. Segundo ele, a premissa para que assumisse o cargo foi "a total autonomia para a escolha dos comandados". Sá diz que o comandante geral da Polícia Militar, coronel Wolney Dias, tem autonomia para as escolhas de comandantes de batalhões, feitas por critérios técnicos.

Ao blog de Josias de Souza, Torquato se disse convencido de que o assassinato do tenente-coronel Luiz Gustavo Teixeira, que comandava o 3º Batalhão da PM carioca, no bairro do Méier, não foi resultado de um assalto. "Esse coronel que foi executado e ninguém me convence que não foi acerto de contas.”

“Ninguém assalta dando dezenas de tiros em cima de um coronel à paisana [em verdade, o oficial da PM estava fardado], num carro descaracterizado. O motorista era um sargento da confiança dele”, acrescentou Torquato.

Por meio de nota, o secretário reiterou que as investigações apontam para tentativa de roubo. "Em relação ao assassinato do coronel Luiz Gustavo Teixeira, profissional respeitado e muito querido, que estava fardado e não à paisana no momento do crime, as primeiras linhas de investigação da Divisão de Homicídios apontam para a tentativa de roubo."

Sá relata que vinha recebendo do Ministério da Justiça manifestações de solidariedade e apoio que "não coadunam com o conteúdo divulgado", em referência às declarações de Torquato Jardim.

Crise de segurança

O Rio de Janeiro passa por uma escalada de violência. Na última quinta-feira (26), o comandante do 3º BPM foi assassinado a tiros no Méier. Mais cedo, no mesmo dia, uma adolescente de 12 anos foi vítima de bala perdida quando deixava uma festa evangélica na Rocinha, favela na zona sul.

No começo da semana passada, uma turista espanhola morreu depois que um policial militar atirou contra o carro em que ela estava junto com outros turistas, segundo a polícia. Os agentes envolvidos na ocorrência disseram que o veículo furou um bloqueio feito pela corporação. O motorista do carro nega.

Desde setembro, traficantes se enfrentam pelo controle da venda de drogas na região da Rocinha. Por uma semana, quase mil homens das Forças Armadas e polícias fizeram um cerco à favela --parte do contingente de cerca de 8.500 militares que reforçam a segurança no Estado desde o fim de julho.

Em agosto, o governo do Rio decidiu reduzir em 30% o efetivo das UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora) como forma de aumentar o número de policiais nas ruas, movimento que foi considerado um recuo no programa implantado em 2008 para tentar retomar áreas dominadas pelo tráfico de drogas.

No começo de outubro, pesquisa Datafolha revelou que, se pudessem, 72% dos moradores iriam embora do Rio por causa da violência. O desejo de deixar a cidade é majoritário em todas as regiões e faixas socioeconômicas --foram ouvidas 812 pessoas, e a margem de erro do levantamento é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos.

Nas últimas semanas, segundo o Datafolha, um terço dos moradores mudou sua rotina e presenciou algum disparo de arma de fogo. O levantamento revela que 67% das pessoas ouviram algum tiro recentemente.