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Desemprego, Lula e Lava Jato: especialistas comentam temas que podem influenciar as eleições de 2018

Getty Images
Imagem: Getty Images

Diego Toledo

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/11/2017 04h00

Daqui a um ano, o Brasil terá elegido um novo presidente. Nos próximos meses, as candidaturas serão oficialmente definidas e as campanhas eleitorais terão início.

Com preocupações tradicionais dos brasileiros, como saúde, educação e segurança pública, cinco temas do noticiário provavelmente terão um papel importante na definição do cenário político.

As decisões judiciais sobre a legalidade da candidatura do ex-presidente Lula (PT), a polarização do debate político, a situação da economia brasileira, a articulação pelas reformas trabalhista e da Previdência e as repercussões da Operação Lava Jato são assuntos recorrentes nas manchetes de jornal e no quebra-cabeça para as eleições de 2018.

"É um congestionamento de grandes questões, grandes temas que podem gerar turbulência nas intenções de voto", afirma o consultor e cientista político Alberto Carlos Almeida, autor do livro "A Cabeça do Brasileiro" e diretor do Instituto Análise.

Veja abaixo como, na opinião de especialistas, esses cinco assuntos podem influenciar a corrida eleitoral no ano que vem.

A candidatura ou não de Lula

Lula - Beto Macário/UOL - Beto Macário/UOL
Lula no interior de Sergipe, durante sua caravana pelo Nordeste
Imagem: Beto Macário/UOL
Condenado em primeira instância pelo juiz Sergio Moro, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá (SP), Lula aguarda o julgamento de recurso junto à Justiça Federal. Caso a decisão seja mantida, o ex-presidente fica impedido de se candidatar em 2018.

"Quando você tem uma candidatura com 35% dos votos (segundo a última pesquisa Datafolha) e não se sabe se ela irá para a frente ou não, isso gera muita instabilidade", observa a cientista política Luciana Veiga, da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).

A dúvida sobre o status legal da candidatura de Lula abre três cenários: um em que o petista consegue se manter na campanha, o segundo em que o PT se vê obrigado a lançar outro candidato e um terceiro em que, caso o ex-presidente seja declarado inelegível, o partido abre uma batalha jurídica para mantê-lo na disputa.

"Se Lula for novamente condenado antes da eleição, ele pode recorrer", diz o pesquisador Alberto Carlos Almeida. "Tem até a versão de que poderia conseguir um recurso, entrar na campanha e, só depois, ser impugnado. Seria algo absolutamente inédito e caótico."

Almeida lembra que, além de ter mais de um terço das intenções de voto nas últimas pesquisas, Lula tem um grande potencial de transferência de votos. Segundo o mais recente levantamento do Datafolha, 59% dos eleitores que dizem votar no petista afirmam que votariam "com certeza" em um candidato indicado por ele e outros 24% "talvez" fizessem essa escolha.

A polarização do debate político

Bolsonaro - J. Ricardo/Estadão Conteúdo - J. Ricardo/Estadão Conteúdo
Bolsonaro durante evento do 7 de Setembro, no Rio de Janeiro
Imagem: J. Ricardo/Estadão Conteúdo
Desde a campanha eleitoral de 2014, a polarização entre direita e esquerda se acirrou no país. De lá para cá, o processo de impeachment e a atuação de grupos militantes dos dois lados, principalmente nas redes sociais, contribuiu para a sensação de um ambiente político de agressividade a um ano das novas eleições.

"O que a gente está vendo é uma profunda fragmentação do voto, muita indefinição das candidaturas", diz a pesquisadora Luciana Veiga. "A única coisa mais estabelecida agora, e que por isso está ganhando evidência, é o [deputado federal Jair] Bolsonaro [PSC-RJ]."

A professora da Unirio acrescenta que Bolsonaro também tem se beneficiado da linguagem dos memes, por meio da mobilização nas redes sociais.

"Esse tipo de mensagem traz um pouco de ironia, é mais fácil de compartilhar e facilita a divulgação. É muito adaptado para a campanha e é algo que pode crescer."

Para a pesquisadora, a internet e as redes sociais aumentam a capacidade de um candidato se apresentar e divulgar sua campanha com um partido ou coligação menor, com menos tempo de propaganda na TV. Esse é um cenário que, além de Bolsonaro, outros possíveis candidatos como Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Chico Alencar (PSOL) e Manuela D'Ávila (PCdoB) também poderiam encontrar.

Mas tanto Luciana Veiga como o cientista político Alberto Carlos Almeida entendem que a falta de uma estrutura partidária mais robusta será um obstáculo significativo para candidatos de legendas menores. “Não estou dizendo que não tenham chance, mas o Brasil é um país continental, com megaestruturas montadas”, afirma Almeida. “E, embora todos cometam deslizes, qualquer declaração infeliz de um candidato de partido pequeno tende a repercutir mais.”

Os dois pesquisadores também avaliam que, com a evolução da campanha, a tendência é que os candidatos dos maiores partidos tentem conter o acirramento da polarização.

“Os dois principais candidatos, sendo ou não o Lula pelo PT e Geraldo Alckmin pelo PSDB, vão evitar a polarização”, afirma o diretor do Instituto Análise. “Eles já estão fazendo isso, pelas declarações que a gente tem visto. Isso não significa que eles vão controlar as redes sociais, mas vão tentar no que for possível.”

“Pensando no segundo turno, quem tiver mais discurso de consenso tem mais chance de ganhar a eleição”, diz a professora da Unirio. “Esse discurso de consenso pode vir tanto de um outsider como de um político tradicional.”

Entre os possíveis "outsiders", os nomes mais citados têm sido os do prefeito João Doria (PSDB-SP) e do empresário e apresentador Luciano Huck. Para os pesquisadores ouvidos pela reportagem do UOL, no entanto, ambos ainda terão de viabilizar uma articulação política para terem um partido pelo qual se candidatar, e essa pode ser uma dificuldade adicional.

A crise econômica e o desemprego

Desemprego - José Lucena/Futura Press/Folhapress - José Lucena/Futura Press/Folhapress
Trabalhadores da construção civil demitidos protestam no Rio
Imagem: José Lucena/Futura Press/Folhapress
Após atingir o pico de 13,7% no primeiro trimestre do ano, a taxa de desemprego no país caiu para 12,4% no período entre julho e setembro. Mesmo assim, o Brasil terminou o trimestre com 12,9 milhões de pessoas desocupadas, em busca de trabalho, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Depois de dois anos de recessão, em 2015 e 2016, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro voltou a crescer no início deste ano, ainda que de forma tímida.

"A economia é um tema crucial para o eleitor, porque tem a ver com a renda", aponta Alberto Carlos Almeida. "É tão importante que está na alça de mira de todo o governo. Em 2002, foi o principal elemento para eleger Lula. O desemprego estava elevado no último ano do governo Fernando Henrique, e a campanha do Lula foi toda em cima da ideia de gerar 10 milhões de empregos."

A cientista política Luciana Veiga observa que o desempenho ruim da economia nos últimos dois anos ajuda a explicar os bons resultados do ex-presidente nas pesquisas para 2018. "As pessoas estão revisitando o Lula e seu governo, depois da experiência ruim com o governo Temer. Se a situação não melhorar --ou se essas melhorias não forem sensíveis para a população--, Lula pode crescer mais."

Para a campanha do ano que vem, Almeida avalia que o cenário atual indica uma luta entre duas visões diferentes sobre a situação.

"De um lado, temos a narrativa do PSDB, dizendo que o desemprego que aí está foi causado pela Dilma, indicada pelo Lula", afirma. "De outro, o PT, dizendo que a Dilma foi prejudicada pelo [ex-presidente da Câmara dos Deputados] Eduardo Cunha [PMDB-RJ], que o partido nunca permitiu o desemprego e que, na verdade, ele cresceu depois. Vai ser uma guerra nos discursos e na simbologia em torno disso."

As reformas trabalhista e da Previdência

reformas - Daniela Garcia/UOL - Daniela Garcia/UOL
Protesto na avenida Paulista (SP) contra a reforma da Previdência
Imagem: Daniela Garcia/UOL
Em vigor desde o último dia 11, as mudanças previstas na reforma trabalhista aprovada pelo Congresso e pelo governo neste ano são outro elemento da atual situação econômica que pode ter reflexo na campanha eleitoral de 2018.

"Vamos ver o que vai acontecer em termos de contratação. Se a reforma trabalhista reduzir o desemprego e você conseguir associar uma coisa a outra, é uma vantagem para o PSDB", diz Alberto Carlos Almeida. "Se o desemprego não diminuir, aí vira uma vantagem para o PT. Vai depender dos desdobramentos ao longo dos próximos meses e do ano que vem."

O governo Temer também segue buscando apoio para uma reforma da Previdência. A ideia é tentar aprovar uma versão mais enxuta, centrada em apenas três pontos: idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres, regra de transição para a idade mínima passar a valer e equiparação das regras de aposentadoria do serviço público com o regime geral da Previdência.

Para a professora Luciana Veiga, da Unirio, o desafio de aliados do governo Temer em 2018 será convencer o eleitorado de que as mudanças terão impacto positivo na economia e um reflexo direto no dia a dia da população.

"Para os trabalhadores, a ideia é que as reformas os prejudicam e favorecem os empresários", afirma. "Para o governo passar a ter uma avaliação um pouco melhor, o segmento mais pobre do eleitorado precisa de resultados práticos, tem que começar a sentir um incremento do poder de compra."

A Lava Jato e o combate à corrupção

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Agentes da força-tarefa da Lava Jato durante operação no Rio
Imagem: Alessandro Buzas/Futura Press/Estadão Conteúdo
Outro elemento que tende a causar impacto na disputa são os desdobramentos da Operação Lava  Jato.

"Recentemente, em momentos cruciais, procuradores e juízes no Brasil tomaram decisões de impacto público, com a divulgação de informações que prejudicaram determinadas forças políticas", afirma o pesquisador Alberto Carlos Almeida. "A campanha do ano que vem está sujeita a isso."

Almeida observa ainda que a grande maioria dos eleitores acha que todos os políticos são iguais e que o impacto das investigações da Lava Jato varia de acordo com a afinidade política de cada um. "O eleitor que gosta do PSDB acha que o PT é mais corrupto, e o eleitor petista acha que o PSDB é que é."

"A Operação Lava Jato, de maneira geral, vai atrapalhar os grandes partidos", concorda a cientista política Luciana Veiga, da Unirio. "Mas, na medida em que forem para a disputa, eles vão se igualar, porque tanto o PT como o PSDB vão estar manchados, assim como o PMDB."