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Manuela D'Ávila rejeita "outsiders" e diz que fazer política "não é algo pornográfico"

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

17/11/2017 20h59

No primeiro ato oficial como pré-candidata do PCdoB à Presidência da República para as eleições de 2018, a deputada estadual Manuela D’Ávila (RS) defendeu a política como saída para a crise que o Brasil vive. “Fazer política não é uma coisa pornográfica”, declarou a gaúcha, que discursou na abertura do 14º Congresso do partido, em Brasília, no início da noite desta sexta-feira (17).

Defendendo uma “frente ampla” com partidos de esquerda, movimentos sociais, setores da indústria, acadêmicos e economistas, “com foco na retomada econômica do país, ela disse não acreditar na existência de candidaturas dos chamados ‘outsiders’ (forasteiros, em tradução livre), sem citar nomes. “Nada mais parecido com a política que nós queremos transformar, ou com aquilo que se chama de velha política, do que o uso de marketing para parecer outsider”, afirmou.

“Concorrer à Presidência é algo que as pessoas que querem fazer política devem fazer, porque fazer política não é algo pornográfico. É dialogar, é ouvir os setores econômicos importantes do Brasil, é ouvir o povo. Quem não quer isso não pode concorrer. Ser candidato já é um ‘insider’ [alguém de dentro]”, completou.

Ela também criticou o que chamou de “profetas do ódio”, negando-se a explicitar se estava se referindo ao deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidência e segundo colocado nas últimas pesquisas eleitorais para 2018.

Manuela foi recebida com música e festa por centenas de militantes e, em meio a críticas ao governo do presidente Michel Temer (PMDB), defendeu a realização de um referendo para revogar a reforma trabalhista aprovada pelo Congresso esse ano, que entrou em vigor no último sábado (11), e a emenda constitucional do teto de gastos, promulgada no ano passado.

PCdoB de volta à corrida presidencial

Em entrevista coletiva após o ato, a pré-candidata defendeu a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições do ano que vem, mas disse que não seria vice em uma eventual chapa com o petista. Segundo ela, o partido não lança candidatura “para ser vice”. “É o momento de apresentar ideias”, afirmou.

Os militantes do PCdoB aproveitaram o evento para testar gritos de guerra com o nome da pré-candidata, que foi duas vezes deputada federal e tem um mandato na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. “Brasil independente, Manuela presidente”, "Olê olê olê olá, Manu, Ela", e “Ah, eu sou mais ela, a presidente é Manuela” foram algumas das tentativas.

Com 95 anos da história, está a terceira vez que o PCdoB lança um candidato próprio às eleições presidenciais. A pré-candidatura deve ser referendada por mais de 650 delegados do partido neste sábado (18), segundo dos três dias do evento. O Congresso foi aberto com um longo discurso da presidente nacional do PCdoB, a deputada federal Luciana Santos (PE).

Para ela, a ausência de Lula na disputa eleitoral significaria o acirramento da crise e a “consumação do golpe”. Dizendo fazer uma “leitura crítica” da Operação Lava Jato, ela alardeou que o partido tem “tolerância zero” com a corrupção. 

A presidente da legenda declarou ainda que o PCdoB buscará protagonismo na disputa, classificada por ela como “atípica”, diante de uma encruzilhada histórica. A pré-candidatura tem por objetivo representar um projeto de mudança após a “ruptura democrática ocorrida em 2016”. Ela afirmou que o Brasil se encontra em um “ciclo inédito” em sua história. “Vivemos tempos adversos, camaradas”, alertou.

Sobre o período em que o partido participou dos governos petistas de Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff, Luciana fez uma “autocrítica” e disse que as iniciativas foram limitadas na questão da democratização do Estado. “Faltou aparecermos com mais cara própria”, declarou.

Único chefe do Executivo do partido no país, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) compareceu ao evento, mas não discursou, assim como a única senadora da legenda, Vanessa Grazziotin (AM), e integrantes da bancada comunista na Câmara.

Também nesta sexta, o senador Alvaro Dias (PR) teve sua pré-candidatura à Presidência da República pelo Podemos confirmada em evento no Rio de Janeiro.