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MP aciona Justiça para anular votação na Alerj que revogou prisão de deputados

17.nov.2017 -  Confusão entre manifestantes e policiais durante protesto na região da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), no centro do Rio de Janeiro (RJ), nesta sexta-feira (17). A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da ALERJ e deputados votaram pela saída da prisão dos deputados Jorge Picciani, Edson Albertassi e Paulo Melo, todos do PMDB -  jose lucena/Futura Press/Folhapress -  jose lucena/Futura Press/Folhapress
Confusão entre manifestantes e policiais durante protesto na região da Alerj no dia da votação
Imagem: jose lucena/Futura Press/Folhapress

Do UOL, em São Paulo e no Rio*

19/11/2017 08h51Atualizada em 21/11/2017 14h15

O MP-RJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro) informou neste domingo (19) que protocolou ontem mandado de segurança em que pede a nulidade da votação realizada nessa sexta-feira (17, na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). Na sessão, foi revogada a prisão e restituído o mandato dos deputados Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, todos, do PMDB. Também hoje, Picciani informou, por nota, que se licenciou do mandato até fevereiro de 2018, após o recesso.

O mandado foi apresentado pela Subprocuradoria-Geral de Justiça de Assuntos Cíveis e Institucionais, com o apoio do GAECC (Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção). A requer ainda que seja realizada uma nova sessão para repetir a votação, mas “com total acesso a todo e qualquer cidadão interessado”.

Em nota, o MP afirmou que o presidente em exercício da Alerj durante a sessão, deputado Wagner Montes (PRB), e a mesa diretora “ignoraram a liminar concedida pela Justiça que determinava a abertura da sessão para todos os cidadãos, e, assim desrespeitaram os princípios mais basilares do Estado Democrático de Direito, vedando o livre acesso de cidadãos fluminenses às galerias da Assembleia, de forma a camuflar a sessão pública”.

Ainda conforme o MP, “não há qualquer dúvida de que os atos praticados pelo presidente em exercício da Alerj são arbitrários e ilegais”.

Procurada, a assessoria de imprensa da Alerj informou que não foi notificada a respeito do mandado de segurança, e, "por enquanto, não vai comentar" o assunto. Sobre os movimentos em curso para que ele e os deputados Paulo Melo e Edson Albertassi sejam afastados do cargo, Picciani disse que aguarda a decisão com serenidade e, se for o caso, vai recorrer.

Associação de Magistrados vai ao STF questionar decisão

Além do MP, o presidente da AMB (Associação de Magistrados Brasileiros) informou ontem que a entidade vai entrar com uma ação pedindo esclarecimentos ao STF (Supremo Tribunal Federal) sobre a decisão da Corte usada pela assembleia para reverter medidas cautelares contra os parlamentares.

Do lado de fora, protesto pressiona Alerj por prisões de deputados

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“Só juiz tem competência no Brasil para assinar alvará de soltura e decretar prisão”, afirmou Oliveira ao comentar a decisão dos deputados fluminenses. Picciani, Melo e Albertassi deixaram a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, onde também está preso o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e outros envolvidos na operação Lava Jato no Rio, pouco mais de uma hora depois dos parlamentares votarem pela soltura dos três, sem que a decisão tivesse sido informada à Justiça.

No dia 11 de outubro, o plenário do STF decidiu, por 6 votos a 5, que a aplicação de medidas cautelares previstas no Código de Processo Penal, entre elas o afastamento do cargo, deverá ser encaminhada à Casa Legislativa "a que pertencer o parlamentar" sempre que impossibilitarem o exercício regular do mandato.

Desde então, o resultado já foi usado, por analogia, para revogar decisões judiciais contra deputados estaduais do Mato Grosso e do Rio Grande do Norte, e foi novamente evocado na sessão convocada pela Alerj para esta sexta (17), que acabou revogando a prisão de Picciani, Melo e Albertassi.

O Legislativo fluminense também evocou a Constituição do Estado do Rio de Janeiro, que nesse ponto segue a Carta federal. O artigo 102 do texto estabelece que o plenário da Casa deve ser consultado para confirmar ou revogar a prisão de deputados estaduais.

"Isso já ocorreu em três Estados. Daqui a pouco, nenhum vereador, deputado, poderá ser preso pelo motivo que for porque as Casas vão liberar", disse Oliveira, que defende que o Supremo suspenda as decisões dos parlamentos estaduais. "Isso é fruto de uma má interpretação da decisão do STF que desmoraliza o Judiciário."

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O resumo da decisão final do julgamento redigido pelo ministro Alexandre de Moraes, publicado nessa sexta-feira (17)delimita textualmente seus efeitos para "parlamentares federais", como adiantado pelo UOL. Está expresso, portanto, que a decisão vale exclusivamente para os 594 integrantes do Congresso Nacional --513 deputados e 81 senadores.

aécio picciani - Gustavo Miranda/ Agência O Globo - Gustavo Miranda/ Agência O Globo
Julgamento do Supremo que beneficiou Aécio foi usado na Alerj
Imagem: Gustavo Miranda/ Agência O Globo

Colocar a análise da Adin na pauta do Supremo foi a solução institucional encontrada para diminuir a temperatura da crise aberta entre o STF e o Senado depois que a 1ª Turma da Corte afastou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) do exercício do mandato e determinou o seu recolhimento noturno –entre outras sanções.

Dias depois, a maioria dos senadores decidiu rejeitar o afastamento do tucano e anular as medidas cautelares impostas contra ele.

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Repercussões

Ouvido pelo UOL nesta quinta, o ministro do STF Marco Aurélio Mello, que votou pela necessidade do aval do Congresso, foi categórico ao dizer que "o que foi decidido pelo STF foi só pelo ângulo da Constituição Federal", que diz respeito "unicamente" à situação dos congressistas.

Não sei como surgiu essa ideia de que nossa decisão abrangeria deputados estaduais, e quem sabe até vereadores. Eu fiquei pasmo.

Marco Aurélio Mello, ministro do Supremo

Presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), o juiz Jaime de Oliveira compartilha desse entendimento. “O que está acontecendo em vários Estados, no Mato Grosso e no Rio Grande do Norte, em que assembleias expediram alvarás de soltura, é uma completa aberração”, declarou, ponderando em seguida que as decisões já estão sendo questionadas judicialmente.

No último dia 8, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região), sediado em Brasília, começou a analisar a validade da decisão da Assembleia Legislativa do Mato Grosso que mandou soltar o deputado estadual Gilmar Fabris (PSD), preso em setembro por determinação do STF, mas o julgamento foi interrompido após um pedido de vista --e não tem data para ser retomado.

Oliveira defendeu que o Supremo publique o acórdão rapidamente porque a situação está se repetindo e, para ele, traz "um desprestígio muito grande para o Poder Judiciário". "São prisões que têm sido decretadas e mantidas pelos tribunais superiores, e agora praticamente está se criando uma blindagem para tudo quanto é político", afirmou o juiz.

Já o professor de direito constitucional Rubens Beçak, da USP (Universidade de São Paulo), aponta que, sendo o Brasil um país federalista, existe um “princípio de repetição obrigatória” nas instâncias menores da Federação daquilo que é determinado na área federal.

Não me causa estranheza que as assembleias legislativas estejam cumprindo, mesmo que o acórdão não tenha saído [...] Nesse caso que fala de conflito de competência da Corte Constitucional, eu acho muito difícil que não seja repetido nas instâncias menores”, argumentou Beçak, que, no entanto, considerou a decisão do STF dúbia. “Foi um absurdo, um desastre, e por isso ficou nesse limbo.”

Para Marco Aurélio Mello, não cabe o princípio da reprodução obrigatória porque a regra é "excepcionalíssima", assim como a que garante ao presidente da República, durante o mandato, não responder por atos anteriores. “Indaga-se: governadores e prefeitos também estão alcançados por essa regra?”, questionou, retoricamente.

"Você tem cláusulas na Constituição Federal que são exclusivas, não são de repetição obrigatória. E se transportarem para a Constituição do Estado ou para a Lei Orgânica do município, se houver questionamento, vamos decidir”, explicou o ministro, reconhecendo que o tema fatalmente deverá cair no STF.

A Adin julgada em outubro foi protocolada em maio do ano passado por três partidos e pedia que o eventual afastamento de parlamentares por decisão judicial fosse submetido em até 24 horas ao Congresso Nacional, que teria o poder de confirmar ou revogar a medida, como já ocorre nos casos de prisão em flagrante de membros do Legislativo.

A ação foi apresentada dias depois de o Supremo afastar o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) do mandato e, consequentemente, da Presidência da Câmara, por PP, PSC e Solidariedade, que apoiavam o peemedebista. Cunha foi cassado e está preso há mais de um ano.

* Com informações de Paula Bianchi, no Rio, e Gustavo Maia, em Brasília