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Novo diretor da PF critica investigação da PGR que sustentou denúncias contra Temer

Ex-diretor da PF fala em "ameaças" e "riscos"

UOL Notícias

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

20/11/2017 14h02Atualizada em 21/11/2017 09h07

O novo diretor da Polícia Federal, Fernando Segovia, criticou nesta segunda-feira (20) a investigação da PGR (Procuradoria-Geral da República), então comandada por Rodrigo Janot, que sustentou as duas denúncias contra o presidente da República, Michel Temer (PMDB).

O peemedebista foi denunciado inicialmente por corrupção passiva e, depois, por obstrução de Justiça e organização criminosa junto aos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência). Ambas as peças foram rejeitadas pelo plenário da Câmara dos Deputados.

As denúncias tiveram como principal sustentação os fatos relatados nos acordos de delação premiada dos executivos do grupo J&F, que controla o frigorífico JBS, entre os quais os irmãos Joesley e Wesley Batista.

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Para Segovia, seria melhor se a maneira como foi conduzida a investigação tivesse maior transparência. Ele então criticou o que avaliou como curto tempo aplicado no trabalho.

Segundo ele, se à época a investigação estivesse sob o comando da Polícia Federal, somente o flagrante de Rodrigo Rocha Loures (PMDB), ex-assessor especial de Temer, com uma mala com R$ 500 mil em São Paulo não seria o suficiente para resolver todos os pontos do caso.

“Talvez seria bom se o Brasil inteiro soubesse e houvesse transparência maior sobre como foi conduzida a investigação. Porque a gente acredita que, se fosse sob a égide da Polícia Federal, essa investigação teria que durar mais tempo, porque uma única mala [de dinheiro] talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partidos e se haveria ou não corrupção”, afirmou Segovia.

A declaração foi dada em entrevista coletiva à imprensa logo após cerimônia de transferência de posse na sede do Ministério da Justiça, em Brasília, com a presença do presidente, de ministros, autoridades e do antecessor, Leandro Daiello.

Temer e Segovia - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Temer não discursou no evento de transferência do cargo para Segovia
Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

De acordo com o novo diretor, o prazo pequeno para o encerramento da investigação é “um ponto de interrogação que fica hoje no imaginário popular brasileiro e que poderia ser respondido se houvesse mais tempo”.

Ele ressaltou que quem determinou o prazo final foi a PGR e a instituição é quem melhor pode explicar o porquê das constatações feita por ele.

Segovia também criticou a viagem de Joesley Batista com a família aos Estados Unidos dias antes da revelação do conteúdo da delação premiada e reiterou que a JBS havia ganhado “muito dinheiro no mercado de capitais de maneira ilegal”.

Questionado sobre uma possível investigação da Polícia Federal contra Janot, Segovia disse que depende se alguém vai pedir a abertura de uma apuração.

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“Se vamos ou não investigar o doutor Janot dependerá justamente de uma abertura de investigação, se é que alguém vai pedir alguma coisa em relação a tais fatos.”

Em relação a Temer, Segovia afirmou que este “continuará a ser investigado sem nenhum problema” no inquérito da Rodrimar, que apura possíveis esquemas de corrupção no Porto de Santos.

Sobre as denúncias rejeitadas pela Câmara, a PF só poderá investigar os casos após a saída de Temer da Presidência da República, se necessário.

Temer não discursou no evento de transferência do cargo. Já no Planalto, após o evento, por meio do perfil no Twitter, o presidente desejou sucesso a Segovia.

Além de falar da duração da investigação da PGR, Segovia criticou a condução da própria PF no âmbito da operação Carne Fraca --que investigou irregularidades em frigoríficos e exportações de carne. Para ele, houve falta de avaliação efetiva nas conclusões da investigação e falha da comunicação da corporação.

“A maneira como foi passado para a imprensa pela nossa comunicação social foi exacerbada. Ela passou um pouco dos limites onde até atinge o mercado e a balança comercial brasileira em um momento em que não haveria necessidade tão grande de se criar uma crise até, vamos dizer assim, no mercado por conta de uma ação de corrupção onde haveria algumas pessoas a serem investigadas”, falou.

Em fala aos jornalistas, Segovia reiterou a importância das delações premiadas e defendeu a prerrogativa de a Polícia Federal fechar esses tipos de acordos. A possibilidade existe atualmente, mas ainda terá palavra final em julgamento pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

“Com certeza, a direção-geral não vai mudar o foco na questão das delações premiadas feitas pela Polícia Federal. Devemos voltar a fazer visitas aos ministros do STF para justamente explicar os motivos que a lei já expõe. [...] Não vamos desistir dessa atribuição. Vamos ao STF e conversar com cada ministro se necessário para que a gente mantenha as delações junto à PF”, disse.

Ele afirmou estar em contato com a atual presidente do Supremo, Cármen Lúcia, para acelerar os inquéritos da PF na Corte.

Segovia também confirmou que a diretoria da polícia será praticamente toda substituída com exceção da corregedoria. Alterações de comando deverão acontecer nas superintendências por serem cargos de confiança.

Ao falar de combate à corrupção, Segovia relatou ter recebido “carta branca” de Temer e afirmou que a corporação não pode tomar vieses político-partidários, como, segundo ele, aconteceu com o ex-delegado Protógenes Queiroz – condenado por vazar informações na Operação Satiagraha.

O novo diretor afirmou que a Lava Jato não tem viés político e elogiou a condução dos processos na primeira instância pelo juiz federal Sergio Moro.