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Novo diretor da PF diz que combate à corrupção será prioridade e promete independência

Luciana Amaral

Do UOL em Brasília

20/11/2017 11h02Atualizada em 20/11/2017 12h51

Em cerimônia de transferência de cargo nesta segunda-feira (20), o novo diretor geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, afirmou ter o combate à corrupção como prioridade e prometeu independência partidária nas ações à frente da corporação.

Sem citar nomes ou situações específicas ao longo de seu discurso, Segovia afirmou que o Brasil vive "vendaval de dúvidas e questionamentos quanto ao futuro da Polícia Federal", mas que recebeu a missão de comandar a corporação com honra e senso de responsabilidade.

"Gostaria de reafirmar que a minha postura, como tradição, é obedecer sempre e estritamente as leis e a Constituição, respeitando os direitos humanos, com base na hierarquia, e, ao mesmo tempo, a independência no cumprimento de meu dever”, declarou.

Segovia, que é ex-superintendente da PF no Maranhão, teve sua indicação ao comando do órgão patrocinada por caciques do PMDB, entre eles o ex-presidente José Sarney e o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. A palavra final coube ao presidente Michel Temer (PMDB).

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Segundo o novo diretor da PF, ele tem uma "indignação que jamais termina", pois são muitos os males que "afligem a sociedade". No entanto, disse ser um “otimista convicto e com sede de Justiça”, mas ressaltou ter os pés no chão.

“É nesse espírito de equipe, todos unidos, que buscaremos o combate incansável à corrupção no Brasil, que continuará sendo a agenda prioritária da Polícia Federal tendo como premissa a continuidade de operações especiais tais como Lava Jato, Cui Bono?, Sermão aos Peixes, Cadeia Velha, Lama Asfáltica e tantas outras em andamento nos inquéritos que tramitam no STF [Supremo Tribunal Federal] e nas varas da Justiça Federal Brasil afora”, afirmou.

Fernando Segovia - Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo - Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo
Segovia disse ser necessário reconhecer a disputa institucional entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, que denominou de "triste e infeliz situação"
Imagem: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

PF garantirá a lisura das eleições, diz Segovia

Outras prioridades em sua gestão, disse, serão o combate ao crime organizado nas diversas modalidades --com destaque para o tráfico de drogas, armas e munições-- e aos crimes ambientais. Ele ainda citou ainda que a Polícia Federal agirá com imparcialidade no “capítulo especial” que se desenrolará no ano que vem nas eleições.

“É esperado um papel republicano da Polícia Federal, isenção total no processo eleitoral coibindo qualquer tipo de crime, independentemente de partidos políticos, garantindo assim a lisura do processo eleitoral e que a vontade do eleitor prevaleça a qualquer tipo de ação criminosa”, disse.

Para tanto, ressaltou, é preciso uma PF “forte, una e indivisível com todos os servidores”. Ele então citou diversas categorias da corporação, como delegados, peritos, agentes, escrivãs, papiloscopistas.

A atitude foi vista como uma sinalização de valorização das demais áreas da PF. Internamente, há queixas de que somente os delegados são reconhecidos pela sociedade e por políticos, sendo que todos contam com papéis integrados para as atividades da corporação.

Ex-diretor da PF fala em "ameaças" e "riscos"

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PF X MPF

Em seguida, Segovia disse ser necessário reconhecer a disputa institucional entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal, que denominou de “triste e infeliz situação”.

As duas instituições travam uma batalha pelo direito de fechar acordos de delação premiada. A reivindicação por parte de PF de também poder aprovar acordos ainda precisa ser avaliada pelo STF.

Segovia afirmou ser necessário superar a rixa e confiar na maturidade dos membros das instituições.

“Agora têm oportunidade de escrever um novo capítulo em sua história deixando de lado a vaidade, a sede de poder. Buscando o equilíbrio e entendimento em nossas ações em prol de toda a nação brasileira”, declarou.

Temer não discursou

Segovia foi anunciado como substituto de Leandro Daiello em 8 de novembro. Daiello estava desde 2011 no comando da corporação e sua saída era negociada desde o início do governo Temer, no ano passado. Nesta segunda, a aposentadoria de Daiello, a pedido do próprio, foi publicada no Diário Oficial da União.

Temer compareceu à solenidade na sede do Ministério da Justiça, em Brasília, mas não discursou.

Já no Planalto, após o evento, por meio do perfil no Twitter, Temer agradeceu a Daiello pelos serviços prestados e desejou sucesso a Segovia.

“Ao doutor Fernando Segovia, desejo sucesso nesta função que agora assume. Com a capacidade de trabalho e o preparo profissional, estou certo de que teremos uma Polícia Federal cada vez mais forte”, escreveu.

 

Em seu discurso, Daiello falou em “ameaças” e “riscos” sofridos, mas disse ter a certeza que cumpriu a missão.

Presença de Temer demonstra o “vigor e diálogo”, diz ministro

O ministro da Justiça, Torquato Jardim, afirmou que a presença de Temer e de demais autoridades demonstra o “vigor e diálogo”, além da harmonia dos Três Poderes, no atual governo.

Ele ressaltou serem todos iguais perante a lei e que cumpre à PF “papel crítico” como elo entre Judiciário, Executivo e Ministério Público Federal.

“Sob a Constituição e as leis, não há lugar para o talvez ou o quem sabe. Não se pode admitir a ilação especulativa. Não se pode convalidar imputações sem referência sólida nos fatos e nos documentos. Não cabe à vaidade fruto da ambição nem propósitos ocultos nas decisões dos processos”, afirmou.

Ele agradeceu a Daiello pelo trabalho e disse que este teve “irretocável carreira”. A Segovia, disse ter “irrestrita confiança” e estar certo de seu sucesso na nova função.

Também estiveram presentes o presidente do Congresso Nacional e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB), e o ministro do STF, Dias Tóffoli, próximo a assumir a presidência da Corte.

Embora a cerimônia desta segunda seja de transferência de cargo, Segovia já havia tomado posse no dia 10 em compromisso fora da agenda oficial de Torquato Jardim. Na ocasião, Segovia afirmou querer ampliar operações da corporação e disse haver "corrupção sistêmica" no Brasil.