Topo

Em depoimento diante de Geddel, Funaro explica por que ex-ministro era "Carainho"

Reprodução
Imagem: Reprodução

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

21/11/2017 18h55

Frente a frente com o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), que está preso desde 8 de setembro, o corretor de valores Lúcio Funaro prestou depoimento à JF-DF (Justiça Federal do Distrito Federal) na tarde desta terça-feira (21) e explicou porque o peemedebista estava salvo na agenda do telefone de sua mulher com o nome “Carainho”.

Em agosto, o ex-ministro se tornou réu de uma ação penal sob a acusação de obstrução à Justiça por ter constrangido a família de Funaro, que fechou um acordo de delação premiada com a PGR (Procuradoria-Geral da República). Prints de tela de celular entregues pela defesa do delator à Polícia Federal mostram diversas ligações de “Carainho” para Raquel Pitta, mulher de Funaro.

Segundo a denúncia aceita pelo juiz Vallisney Oliveira, da 10ª Vara Federal de Brasília, Geddel monitorou e pressionou Raquel, entre julho do ano passado, quando o hoje delator foi preso, e julho deste ano, “com a intenção de influenciar seu marido a não colaborar com as investigações”. A “pressão” foi um dos elementos que levaram o juiz a decretar, no dia 3 de julho, a primeira prisão preventiva contra Geddel, que foi autorizado a ficar em prisão domiciliar, em Salvador, dez dias depois.

Print de tela Carainho - Reprodução - Reprodução
Reprodução de tela entregue à Polícia Federal contém registro de ligação de "Carainho", apelido atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), para Raquel Pitta, mulher do corretor de valores Lúcio Funaro
Imagem: Reprodução

Funaro disse que o apelido surgiu depois que ele conheceu, na capital baiana, um “filho pequeno” de Geddel, pelo qual o ex-ministro é “muito apaixonado”. “Ele até brincava comigo porque [...] falava muito palavrão ao conversar, e esquecia que tinha criança perto. Então o filho acabou adquirindo às vezes o hábito de falar palavrão”, relatou. O peemedebista ouvia atentamente, a menos de dois metros.

“Um dia eu conheci o filho dele e o filho dele me deu um soquinho. Aí eu falei: ‘você me deu uma porrada’, e apelidei ele de carainho", disse Funaro, dividindo a última palavra em sílabas. "Carainho, era esse o apelido que tinha", completou, dizendo que a mulher pôs esse nome na agenda do celular porque “era o jeito” que ele se referia a Geddel.

Primeira a depor na audiência desta terça, Raquel confirmou que recebeu diversas ligações de Geddel e que escolheu o apelido para salvar seu nome no aparelho telefônico. Já Roberta Funaro, irmã do delator que cumpre prisão domiciliar em São Paulo e prestou depoimento por meio de videoconferência, contou ter visto no celular uma mensagem de “Carainho” no celular da cunhada.

Segundo Roberta, seu irmão havia acabado de trocar de advogados e ela estava "aborrecida" porque muitas pessoas a questionavam sobre esse movimento. "Quando ela me mostrou, não estava com o nome de Geddel, era um outro nome que aparecia na tela", comentou, sendo questionada pela procuradora Sara Moreira Leite sobre o que ela tinha lido na tela de Raquel.

"Era um nome até que eu achei estranho na época, mas acho que era Carainho", respondeu. A afirmação provocou risadas na sala de audiência. Ela explicou que sabia que se tratava do ex-ministro porque a cunhada falou 'veja o que o Geddel acabou de mandar'. Na mensagem, segundo Roberta, ele questionava “o que é que tinha dado na cabeça do Lúcio para mudar de advogado”.

Raquel, por sua vez, disse que até a delação do marido, o ex-ministro sempre foi muito solícita e disse até ter mandado mais de uma foto da filha, que tem pouco mais de um ano, para Geddel. Ela contou ainda que foi orientada por Funaro –que confirmou—a entregar os prints dos registros das ligações –feitas pelo WhatsApp—ao advogado de defesa, Bruno Espiñeira, quando o corretor começou a fechar o acordo de delação.

Na audiência de custódia realizada no dia 6 de julho, após sua primeira prisão, Geddel negou ter atuado para atrapalhar investigações e disse sempre ter colaborado com a Justiça. “Coopero com a Justiça, sempre cooperei”, disse. “Nenhuma atitude deve ser nem de longe interpretada como embaraço à Justiça”, afirmou o ex-ministro.

Na ocasião, ele se emocionou ao falar da família e o vídeo com as imagens de sua fala teve grande repercussão. Nesta terça, seu advogado, Gamil Föppel, pediu ao juiz Alexandre Vidigal --substituto de Vallisney, que está de férias—que as imagens da audiência de hoje não fossem divulgadas, contra o “sensacionalismo da pessoa presa”. O requerimento foi aceito, e apenas os áudios da audiência foram tornados públicos.

Em julho, a defesa do peemedebista chamou de ‘arremedo de documento’ as imagens da tela do celular da mulher de Lúcio Funaro em posse da Polícia Federal.

Em depoimento à Justiça, Geddel se emociona ao falar da família

UOL Notícias