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Lava Jato: Delação de empresa de engenharia levou a ex-gerente da Transpetro vinculado ao PT

Agentes policiais chegam à sede da Polícia Federal, no bairro da Lapa, em São Paulo. - FELIPE RAU/ESTADÃO CONTEÚDO
Agentes policiais chegam à sede da Polícia Federal, no bairro da Lapa, em São Paulo. Imagem: FELIPE RAU/ESTADÃO CONTEÚDO

Vinicius Boreki

Colaboração para o UOL, em Curitiba

21/11/2017 12h55

A nova fase da Operação Lava Jato (47ª) teve início após a empresa NM Engenharia se apresentar ao MPF (Ministério Público Federal) no meio do ano passado para negociar um acordo de leniência e delação premiada para seus executivos. As informações fornecidas pela empresa serviram de base para a prisão nesta terça-feira do ex-gerente da Transpetro, José Antônio de Jesus -- acusado de desviar recursos em benefício do Partido dos Trabalhadores.

A Transpetro é uma subsidiária da Petrobras que atua na área de logística e transporte de combustíveis.

O PT afirmou que não tem qualquer participação nos fatos investigados e a Transpetro disse que é uma vítima no caso.

A NM Engenharia confirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que parte das informações prestadas pelo MMPF "é resultado da colaboração premiada celebrada por sócios da empresa".

O MPF não entrou em detalhes a respeito da delação premiada dos executivos e nem da leniência firmada com a empresa.

Sabe-se apenas que o acordo ocorreu após a colaboração premiada do ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, negociada no primeiro semestre de 2016. Ele comandou a Transpetro por 12 anos e gravou conversas com políticos como o presidente do Senado, Renan Calheiros, o senador Romero Jucá e o ex-senador José Sarney, todos do PMDB.

“A MN Engenharia procurou o MPF e, diante dos relatos, constatou (que havia) interesse público. As provas eram relevantes e, para dar aprofundamento, foi celebrado acordo com os executivos e leniência com a empresa”, disse o procurador do MPF Athayde Ribeiro Costa.

De acordo com o MPF, a investigação das informações fornecidas apontou que o ex-gerente da Transpetro, José Antônio de Jesus, teria recebido suborno para favorecer empresas em contratos de R$ 1,5 bilhão com a subsidiária da Petrobras. Os pagamentos teriam sido dissimulados por meio de depósitos realizados em contas bancárias de terceiros e de familiares.

Esse esquema foi considerado “rudimentar” pelo MPF. “Em outras investigações, as operações eram sofisticadas, com a utilização de (empresas) offshores e doleiros. No caso atual, o pagamento da propina partia da própria empresa beneficiada para contas de empresas cujo sócio era o ex-gerente (da Transpetro)”, afirmou a procuradora do MPF Jerusa Burman Viecili.

Segundo Costa, o esquema identificado na companhia era semelhante ao investigado na Petrobras. “Os crimes praticados na Transpetro são uma nova frente de investigações da Lava Jato, em expansão. Como ocorreu no caso da Petrobras, este é o momento mais favorável para quem quiser colaborar com a Justiça se apresentar“, afirmou.

Vínculo informal com o PT

O ex-gerente da Transpetro, José Antônio de Jesus, preso na manhã desta terça-feira (21), na 47ª fase da Operação Lava Jato, teria desviado recursos a pedido do Partido dos Trabalhadores.

O Ministério Público Federal e a Polícia Federal não deram mais detalhes do destino deste dinheiro e de possíveis beneficiados, mas confirmaram que uma parte dos desvios se destinou ao PT.

“As investigações revelaram indícios de que esse ex-gerente era vinculado ao PT e ao movimento sindical, embora não de maneira formal. Quando solicitou o pagamento de vantagens indevidas, avisou que seria revertido ao PT”, afirmou Jerusa.

“Foram feitos repasses em favor de terceiros, que ainda estão em investigação”, afirmou Jerusa. No entanto, o MPF disse que o dinheiro não seria destinado a fins eleitorais, embora o fato tenha ocorrido entre 2009 e 2014.

Segundo a investigação, o ex-gerente teria pedido como propina 1% do valor dos contratos firmados entre a empresa de engenharia e a Transpetro – em torno de R$ 1,5 bilhão –, mas o acerto final teria sido de 0,5%.

Além de Jesus, estão sendo investigados contratos com a empresa de seu filho e familiares. Ao todo, nesta manhã, a Polícia Federal cumpriu oito mandados de busca e apreensão, cinco de condução coercitiva e um de prisão temporária em cinco estados (Bahia, Sergipe, Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo).

O grupo – composto de familiares de Jesus e intermediários – é suspeito de coordenar o recebimento de R$ 7 milhões em propinas, entre setembro de 2009 e março de 2014. Eles responderão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Jesus deve chegar em Curitiba por volta das 22 horas.

O PT afirmou por meio de sua assessoria de imprensa que a operação Lava Jato "busca os holofotes da mídia para fazer acusações ao PT, sem apresentar fatos para comprovar o que diz."

"A cada dia fica mais claro que os procuradores de Curitiba se desviaram do combate à corrupção para fazer guerra judicial e midiática contra o partido. O PT não tem qualquer participação nos fatos investigados e tomará as medidas judiciais cabíveis diante das condutas levianas e ilegais de quem acusa sem provas."

A Transpetro informou por meio de nota que que vem apurando denúncias de irregularidades em contratações da companhia envolvendo o ex-funcionário José Antônio de Jesus.

"Todas as informações obtidas nas apurações foram encaminhadas ao Ministério Público Federal e demais órgãos competentes. A Transpetro reitera que é vítima nestes processos e presta todo apoio necessário às investigações da Operação Lava Jato."

A NM Engenharia disse que está "à disposição das Autoridades Públicas para quaisquer esclarecimentos adicionais que se façam necessários".

Sothis

A 47ª fase da Lava Jato foi batizada de Sothis. O nome é uma referência à uma das empresas investigadas, denominada Sirius, que teria sido aberta para receber os recursos provenientes do desvio de recursos. Sirius era como os egípcios chamavam a estrela Sothis.

A companhia informou que está "à disposição das Autoridades Públicas para quaisquer esclarecimentos adicionais que se façam necessários".A companhia informou que está "à disposição das Autoridades Públicas para quaisquer esclarecimentos adicionais que se façam necessários".