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Presidente de associação de delegados se diz "preocupado" com fala de Segovia sobre mala

O diretor-geral da PF, Fernando Queiroz Segovia, em cerimônia de posse, no Ministério da Justiça - Mateus Bonomia/Estadão Conteúdo
O diretor-geral da PF, Fernando Queiroz Segovia, em cerimônia de posse, no Ministério da Justiça Imagem: Mateus Bonomia/Estadão Conteúdo

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

27/11/2017 16h20

O novo presidente da ADPF (Associação dos Delegados da Polícia Federal), Edvandir Feliz de Paiva, afirma que causou “surpresa” e preocupação aos policiais a declaração do diretor-geral da PF, Fernando Segovia, sobre a investigação de corrupção contra o presidente Michel Temer (PMDB).

“Obviamente que assim como toda a sociedade brasileira a gente recebeu com estranhamento, porque muitas das declarações foram polêmicas, foram até surpreendentes”, disse Paiva.

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Ao assumir o cargo no início do mês, Segovia fez críticas à investigação que apontou o envolvimento de Temer em corrupção. As suspeitas contra Temer foram afirmadas por relatório da própria PF que embasou uma das denúncias contra o presidente.

"A gente acredita que, se fosse sob a égide da Polícia Federal, essa investigação teria de durar mais tempo, porque uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção", disse Segovia, em entrevista na última segunda-feira (20). "É um ponto de interrogação que fica hoje no imaginário popular brasileiro e que poderia ser respondido se a investigação tivesse mais tempo", afirmou o chefe da PF.

O futuro presidente da ADPF, que tomará posse esta sexta-feira (1º), porém, afirma que, até o momento Segovia, não adotou medidas no comando da PF que indiquem um compromisso menor com o combate à corrupção.

“Nós fomos pegos de surpresa e estamos aguardando as primeiras atitudes da administração da Polícia Federal para, aí sim, em cima de fatos, nos posicionarmos”, afirmou Paiva.

“Sobre a mala, a história da mala, nós até entendemos que ele estava querendo dizer que a operação teria sido rápida demais, que poderia ter demorado um pouco mais para conseguir uma maior quantidade de provas e uma maior quantidade de pessoas”, disse.

“Mas da maneira como ele disse, a gente ficou, realmente, junto com toda a sociedade, preocupado, porque na condição de indicado por um presidente que é um investigado”, afirmou o presidente eleito da associação dos delegados da PF.

Edvandir Paiva conversou com jornalistas na manhã desta segunda-feira, em Brasília. Nas próximas semanas, após a posse no cargo, está previsto um encontro com o novo diretor geral da PF para uma conversa de trabalho.

Novo chefe da PF

Fernando Segovia tomou posse como diretor geral da Polícia Federal no último dia 10, e assumiu o cargo com um discurso de reforçar as ações de combate à corrupção.

"A Lava Jato na realidade é uma das operações de combate à corrupção no país. O que a PF pretende é aumentar, ampliar o combate à corrupção. Então não será só uma ampliação, uma melhoria na Lava Jato, será em todas as operações que a PF já vem empreendendo. Bem como ampliar, criar novas operações", afirmou na cerimônia de posse. 

O presidente Michel Temer foi alvo de duas denúncias apresentadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por suspeitas dos crimes de corrupção, obstrução de Justiça e organização criminosa. As duas denúncias tiveram a tramitação suspensa por decisão da Câmara dos Deputados, onde a base de apoio ao governo é maioria. 

O presidente tem afirmado não ter cometido crime e disse que "a verdade venceu" ao comentar a decisão dos deputados de barrar a 2ª denúncia.