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Miller diz que nunca foi braço direito do Janot, mas admite "lambança" no caso JBS

Fiz uma lambanc?a, diz ex-procurador sobre JBS

UOL Notícias

Felipe Amorim*

Do UOL, em Brasília

29/11/2017 10h26Atualizada em 29/11/2017 15h26

Pivô da crise em torno da delação premiada da JBS, o ex-procurador da República Marcello Miller afirmou nesta quarta-feira (29) que nunca foi "braço direito" do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, mas admitiu que fez "lambança" no caso.

Miller, que prestou depoimento à CPI da JBS, também afirmou que Janot não sabia que ele manteve contatos com executivos da JBS na fase preparatória do acordo de delação.

Ao contrário de outros depoentes, como os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, Miller optou por responder as perguntas dos parlamentares.

"Há um bocado de mistificação e desinformação em torno da minha relação funcional com o doutor Rodrigo Janot. Eu achei graça quando vi no jornal dizerem que eu era braço direito dele. Eu nunca fui", disse o ex-procurador.

Segundo Miller, nem Janot nem o então chefe de gabinete da Procuradoria-Geral da República, Eduardo Pelella, sabiam de seu contato com a JBS.

O ex-procurador disse que, quando estava se desligando da Procuradoria, recebeu uma proposta de trabalho para o setor jurídico da JBS. Naquele momento, Miller também negociava sua contratação por um escritório de advocacia.

lambança miller - Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo - Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo
"Eu não cometi crime, mas eu fiz um erro brutal de avaliação. Eu fiz uma lambança", disse Miller
Imagem: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo

"O doutor Pelella, pelo menos por mim, não teve nenhum conhecimento da atividade preparatória que desempenhei em fevereiro e março [deste ano] na JBS", disse Miller.

Ao ser perguntado sobre se Janot teve conhecimento dessa atividade, o ex-procurador respondeu que "menos ainda".

Um dos fatores que colocaram a delação da JBS sob suspeita foi um áudio, apresentado pelos próprios delatores, em que eles citam a atuação de Miller na preparação da delação.

A delação da JBS serviu de base para as duas denúncias apresentadas por Janot contra o presidente Michel Temer (PMDB), que tiveram a tramitação barrada pela Câmara dos Deputados.

Após assinar o acordo de delação da JBS, a própria Procuradoria-Geral da República, então chefiada por Janot, abriu uma investigação sobre a assinatura do termo de colaboração para apurar se houve atuação irregular de Miller nas negociações para fechar a delação da JBS.

A Procuradoria quer descobrir se Miller auxiliou os delatores durante a negociação do acordo quando ainda estava ligado à Procuradoria.

Após deixar o cargo de procurador, Miller passou a atuar como advogado num escritório que trabalhou na negociação do acordo de leniência da JBS, espécie de delação premiada feita pela empresa. Esse escritório, porém, não chegou a concluir o acordo de leniência, que foi fechado por outra banca de advogados.

À CPI, Miller afirmou que manteve contato com a JBS antes de ter pedido exoneração da Procuradoria, no final de fevereiro, mas afirmou não haver irregularidade no fato.

"De fato eu comecei a ter contato com a J&F [controladora da JBS] antes da exoneração se perfazer. Foi quando comecei a ter diálogos com eles, sobretudo receber informações, mas, sim, também respondia perguntas, refletia sobre o caso e não estou negando nada disso", disse.

Eu não cometi crime nenhum, mas eu fiz uma lambança

Marcelo Miller, ex-procurador da República

Miller disse que não praticou nenhum ato irregular, mas que avaliou mal a repercussão que sua decisão poderia ter.

Ele afirmou que manteve apenas contatos "prévios" com a JBS, sobre a proposta de trabalho futuro, e que não chegou a atuar como advogado da empresa e nem prestar qualquer tipo de consultoria ou assessoria jurídica.

“Não havia ilícito, mas eu não atentei para as interpretações que isso podia suscitar”, afirmou.

Segundo o ex-procurador, desde antes de pedir exoneração ele já havia se retirado de grupos de mensagens da Procuradoria por onde circulavam informações sobre as investigações.

Em resposta ao deputado delegado Francischini (SD-PR), Miller negou ter orientado os delatores da JBS a gravarem o presidente Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), envolvidos nas investigações das delações da JBS por áudios feitos pelos executivos da empresa.

"Nunca mandei nem orientei como membro do Ministério Público ninguém a gravar ninguém", disse.

Miller também classificou de "disparate completo" o pedido de prisão feito contra ele pelo por Janot.  "Ele não tinha atribuição para pedir minha prisão porque eu não tinha foro privilegiado. Meu pedido de prisão foi feito para garantir a busca e apreensão na minha casa. Foi um disparate completo", afirmou.

Questionado pelo senador José Medeiros (Podemos-MT), Miller disse estar à disposição da comissão para participar de uma acareação [confrontação entre duas testemunhas] com Janot.

Os deputados e senadores que integram o colegiado já aprovaram um requerimento de convite ao ex-procurador-geral, mas ele não é obrigado a aceitar.

*Colaboração de Gustavo Maia, em Brasília