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Com fuzil na mão, juiz da Lava Jato no RJ publica foto de treinamento de tiro

O juiz Marcelo Bretas, à esquerda do alvo, e o desembargador Paulo Rangel, à direita - Reprodução/Twitter
O juiz Marcelo Bretas, à esquerda do alvo, e o desembargador Paulo Rangel, à direita Imagem: Reprodução/Twitter

Gustavo Maia e Paula Bianchi

Do UOL, em Brasília e no Rio

01/12/2017 16h45Atualizada em 01/12/2017 21h32

O juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos processos na 1ª instância da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, divulgou nesta sexta-feira (1º) uma foto na qual empunha um fuzil durante um treinamento de tiro ao alvo com a Polícia Civil do Estado.

No texto que acompanha a imagem publicada na conta de Bretas no Twitter, o juiz agradeceu à corporação e à Polícia Militar do Rio, responsável por sua escolta pessoal.

No primeiro semestre deste ano, o titular da 7ª Vara Federal Criminal recebeu ameaças de morte e passou a ser acompanhado por agentes de segurança.

Fontes ouvidas pelo UOL comentaram que o juiz, por ter feito diversas doações de materiais apreendidos à Polícia Civil, fez amizade com os agentes e foi convidado junto ao desembargador Paulo Rangel, do TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro), para realizar um treinamento de tiro. Amigo de Bretas, Rangel também aparece na foto.

De acordo com Bretas, o alvo que aparece no centro das fotos estava a 25 metros dele --18 tiros acertaram o tronco da silhueta, sendo um no centro, pintado de vermelho. Ao menos 15 disparos, segundo contagem realizada pela reportagem, atingiram o papelão onde o alvo foi afixado.

"Estamos juntos!", escreveu o juiz no post.

Na quarta (29), ele havia usado a rede social para dizer que o medo nunca o impediu de fazer seu trabalho. "Não faço desafios, mas estamos prontos pro que der e vier", declarou, citando o verso 1 de Salmos 127.

"Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela", diz o texto bíblico.

Procurado pelo UOL, o magistrado não se pronunciou até a publicação desta reportagem. Ao jornal "O Estado de S.Paulo", ele explicou que fez o curso depois de ter recebido orientações da equipe que cuida de sua segurança. "Passei a manhã (desta sexta-feira) fazendo (o curso). Este foi o primeiro. Serão várias sessões de treinamento", disse, acrescentando que o nível de segurança em torno dele foi aumentado.

Questionado se sabia como manusear o armamento, Bretas disse que sempre teve pistola, "mas fuzil ainda não". Ele não respondeu a uma pergunta sobre se tem recebido ameaças, mas deu a entender que sim. "Essas coisas pediram para não falar. Há informações em andamento", afirmou.

O juiz chegou a determinar que o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) fosse transferido para um presídio federal depois que o peemedebista citou informações sobre a sua família durante uma audiência.

Bretas condenou o peemedebista a 58 anos de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e supostamente exercer a liderança de organização criminosa, em duas ações penais.

“É no mínimo suspeito e inusitado o acusado, que não só responde a este processo como a outros, venha aqui trazer em Juízo informações sobre a rotina da família do magistrado. Além de causar espécie, como bem observou o Ministério Público Federal, de que apesar de toda a rigidez ele tenha se privilegiado de informações que talvez ele não devesse”, argumentou Bretas na ocasião.

Duas semanas depois, uma investigação sigilosa da Polícia Federal apontou a possibilidade de Cabral estar montando um dossiê contra Bretas e sua mulher, que também é juíza. Houve, segundo a polícia, consultas suspeitas a registros de ocorrências contra os dois em ao menos três delegacias no Rio.

Os acessos foram feitos após o ex-governador ser preso, em novembro de 2016. Também houve consultas no sistema da Secretaria de Segurança Pública por um inspetor da Polícia Civil lotado na 22ª Delegacia de Polícia.

No Twitter desde outubro passado, o juiz costuma interagir frequentemente com seus seguidores. Depois de publicar a foto, ele foi elogiado por usuários, foi chamado de "herói nacional" e recebeu sugestões para "mirar na cabeça dos corruptos" e disparar "bala nos vagabundos".

Mas também foi alvo de críticas. "Esses juízes do nosso país estão se perdendo. Ao invéz [sic] de falarem pelo autos ficam procurando holofotes", escreveu um internauta. "Não se esqueça: a maior arma que um magistrado pode ter é a sua caneta!", afirmou outro.

Cabral discute com Bretas durante interrogatório

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