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"Juiz que posa armado é justiceiro", diz deputado do PT sobre foto de Bretas

Deputado Wadih Damous (foto) criticou a foto postada pelo juiz da Lava Jato no Rio - Maryanna Oliveira / Câmara dos Deputados
Deputado Wadih Damous (foto) criticou a foto postada pelo juiz da Lava Jato no Rio Imagem: Maryanna Oliveira / Câmara dos Deputados

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

01/12/2017 20h14

“Juiz que posa armado, para mim, não é juiz, é justiceiro”. A declaração do deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) é uma crítica ao juiz federal Marcelo Bretas, responsável pelos processos da operação Lava Jato no Rio de Janeiro, que nesta sexta-feira (1º) publicou uma foto na qual empunha um fuzil durante um treinamento de tiro ao alvo.

À reportagem do UOL, o petista classificou a imagem como “lamentável” e “absurda”. “Ao aparecer com um fuzil na mão, ele simboliza o que entende que deva ser o exercício da magistratura hoje”, declarou Damous, que é ex-presidente da OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil no Rio) e da Comissão Estadual da Verdade, e costuma criticar o que chama de “abusos” da Lava Jato.

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No texto que acompanha a imagem publicada na conta de Bretas no Twitter, o juiz agradeceu à Polícia Civil e à Polícia Militar do Rio, corporação responsável por sua escolta pessoal. No primeiro semestre deste ano, o titular da 7ª Vara Federal Criminal recebeu ameaças de morte e passou a ser acompanhado por agentes de segurança.

1.dez.2017 - Juiz Marcelo Bretas agradece treinamento de tiro - Reprodução/Twitter - Reprodução/Twitter
Juiz Marcelo Bretas postou foto de um treinamento de tiro
Imagem: Reprodução/Twitter

Para o parlamentar, a foto demonstra que Bretas, “assim como Sérgio Moro”, juiz federal responsável pela Lava Jato no Paraná, é “um mau exemplo para a magistratura, porque distorcem o papel do verdadeiro juiz, que deve se pautar pela discrição”. “Eles fazem exatamente o contrário”, afirmou.

“Ele se fez fotografar e fez questão de divulgar. Então é assim que ele quer ser visto. Me chama atenção por que um juiz faz treinamento de tiro”, comentou Damous.

Procurado pelo UOL, o magistrado não se pronunciou até a publicação desta reportagem. Ao jornal “O Estado de S.Paulo”, ele explicou que fez o curso depois de ter recebido orientações da equipe que cuida de sua segurança.

"Passei a manhã (desta sexta-feira) fazendo (o curso). Este foi o primeiro. Serão várias sessões de treinamento", disse, acrescentando que o nível de segurança em torno dele foi aumentado.

Questionado se sabia como manusear o armamento, Bretas respondeu: "Pistola sempre tive. Mas fuzil ainda não", declarou. Ele não respondeu a uma pergunta sobre se tem recebido ameaças, mas deu a entender que sim. "Essas coisas pediram para não falar. Há informações em andamento", afirmou.

Damous, por sua vez, criticou a exposição do magistrado. “Se de fato ele está preocupado com a segurança pessoal dele, é mais uma razão para manter possíveis ameaças sob sigilo. Ele não tem que fazer estardalhaço disso. Pode acabar incentivando que pessoas que queiram atentar contra a integridade física dele.”

Me parece que [Bretas] é mais um juiz metido a celebridade e que quer holofotes sobre ele
Wadih Damous (PT-RJ), deputado federal

Na quarta (29), Bretas já havia usado a rede social para dizer que o medo nunca o impediu de fazer seu trabalho. "Não faço desafios, mas estamos prontos pro que der e vier", declarou, citando o verso 1 de Salmos 127.

"Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela", diz o texto bíblico.

No Twitter desde outubro passado, o juiz costuma interagir frequentemente com seus seguidores. Depois de publicar a foto, ele foi elogiado por usuários, foi chamado de "herói nacional" e recebeu sugestões para "mirar na cabeça dos corruptos" e disparar "bala nos vagabundos".

“É isso que ele quer fazer passar para as pessoas. É esse tipo de gente que esse tipo de magistrado acaba despertando da sua imbecilidade, da sua mediocridade, para virem a público”, afirmou o petista.