Ex-sócia se diz "bode expiatório" e quer ver contrato de Miller com escritório que fez acordo da JBS
Uma disputa judicial pode revelar novos elementos sobre a contratação do ex-procurador da República Marcelo Miller pelo escritório de advocacia Trench Rossi Watanabe, que atuou no acordo de leniência da J&F, controladora da JBS.
A advogada Esther Flesch, que foi sócia da banca por 20 anos, entrou nesta segunda-feira (4) com processo na Justiça Estadual de São Paulo para ter acesso a uma série de documentos --entre eles contratos e e-mails sobre Miller.
A defesa de Esther alega que ela tem direito de acessar os arquivos por ter sido sócia do escritório. Os advogados justificam o pedido dizendo que tais documentos são necessários para que Esther possa calcular pagamentos que, segundo ela, são devidos pelo Trench Rossi Watanabe; e para que ela possa se defender em processo "pré-disciplinar" que corre na OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo) sobre a contratação de Miller.
Entre os documentos pedidos por Esther, estão o contrato "pelo qual se pactuou a retirada" de Miller do Trench Rossi Watanabe e do escritório americano Baker Mckenzie, ao qual a banca brasileira é associada; e o relatório final de uma investigação do Baker Mckenzie em razão da contratação do ex-procurador, processo no qual a advogada diz ter sido entrevistada nos Estados Unidos.
Segundo reportagem da revista "piauí" publicada em outubro, Esther foi quem convidou Miller para trabalhar no escritório, ainda em janeiro deste ano. Ela deixou o Trench Rossi Watanabe em setembro. Dias depois de sua saída, o escritório entregou à PGR e-mails nos quais Esther e Miller trataram do acordo de delação da JBS enquanto o ex-procurador ainda integrava o Ministério Público.
A defesa de Esther afirma que, com a polêmica em torno de Miller, ela passou a ser tratada pelo Trench Rossi Watanabe "como bode expiatório, ao ponto de forçá-la a se retirar das sociedades", apesar de a contratação do ex-procurador "ter sido fruto de uma deliberação colegiada" dos sócios do escritório e do Baker Mackenzie.
Em nota enviada por sua assessoria de imprensa, o Trench Rossi Watanabe informou que não comenta assuntos internos. O advogado de Marcelo Miller, André Perecmanis, disse ao UOL nesta quarta (6) que a contratação de seu cliente foi, sim, definida em conjunto pelos sócios do escritório.
"Ameaças psicológicas"
Esther Flesch deixou o Trench Rossi Watanabe no dia 1º de setembro deste ano, dois meses depois de Miller sair da empresa --o ex-procurador ficou cerca de dois meses no escritório. No pedido de acesso aos documentos, a defesa da advogada diz que "os motivos desse desligamento serão declinados no foro e momento próprios."
Apesar de não detalhar as razões da saída, os advogados de Esther dizem que ela foi "hostilizada" pelos sócios do Trench Rossi Watanabe e do Baker Mckenzie, "que a forçaram a assinar documentos e entregar arquivos, inclusive pessoais, sob forte pressão e ameaças psicológicas." Eles relatam uma reunião em Miami, em junho deste ano, em que Esther teria sido interrogada por quatro integrantes do Baker Mckenzie por dez horas seguidas.
A PGR (Procuradoria-Geral da República) investiga a conduta de Miller, suspeito de ter feito "jogo duplo" ao ajudar a JBS e seus executivos na negociação de seus acordos de delação premiada enquanto ainda era procurador.
Miller nega ter cometido crimes, mas reconheceu ter feito "uma lambança" na delação premiada da JBS. A OAB suspendeu a carteira profissional de Miller por 90 dias, e o presidente da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da JBS quer que a PGR faça um novo pedido de prisão do ex-procurador.
A delação da JBS serviu de base para as duas denúncias da PGR contra o presidente Michel Temer (PMDB), ambas derrubadas na Câmara dos Deputados. Os acordos de delação foram suspensos pela PGR sob a justificativa de que os colaboradores não contaram tudo o que sabiam. Já o acordo de leniência da J&F acabou sendo fechado pelo advogado Pierpaolo Bottini.
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