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Operador de Cabral vira delator e diz que ex-governador negociava propina com empresários

Miranda disse que recebia propina para Cabral (foto) - Pedro Teixeira/ Agência O Globo
Miranda disse que recebia propina para Cabral (foto) Imagem: Pedro Teixeira/ Agência O Globo

Hanrrikson de Andrade e Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

07/12/2017 15h08Atualizada em 07/12/2017 16h47

Apontado como o principal operador do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) no esquema de corrupção investigado pela Lava Jato no Estado, Carlos Miranda afirmou nesta quinta-feira (7) que firmou um acordo de delação premiada, já homologado, segundo ele, pelo STF (Supremo Tribunal Federal). A declaração foi dada no começo de uma audiência com o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio e responsável pela Lava Jato no Estado.

Essa é a primeira vez que alguém tão próximo ao ex-governador depõe como colaborador da Justiça. Segundo a Folha, a homologação no STF foi feita pelo ministro Dias Toffoli.

O acordo de delação premiada pegou de surpresa a defesa do ex-governador, que chegou a pedir a Bretas que Miranda tivesse o depoimento desta quinta adiado, pedido negado pelo magistrado. Bretas argumentou que a nova condição de delator do réu não afetava o interrogatório.

Segundo Miranda, o próprio Cabral e seu ex-secretário Wilson Carlos discutiam diretamente as propinas com os empresários.

“Confirmo a existência [de uma organização criminosa]. Participava dela como responsável pelo recebimento de todas as propinas e gerenciamento dos pagamentos determinados pelo governador Sérgio Cabral”, afirmou Miranda, que está preso preventivamente desde novembro do ano passado.

“Comecei [a gerenciar a propina] na época que ele [Cabral] era deputado estadual. Posso dizer que começou a se estruturar na época que ele era presidente da Alerj [Assembleia Legislativa do Rio] e foi evoluindo até chegar ao governo [do Estado]”, declarou.

Bretas, então, questionou Miranda sobre a abrangência dos pagamentos de propina. “Pagamento de propina por parte de alguns empresários interessados em legislação, empresas de ônibus, Fetranspor, supermercados, construtoras e prestadores de serviço. Serviços de segurança, lavanderia”, enumerou.

Ele reafirmou que as propinas cobradas das empresas eram acertadas sempre no valor de 5%, como outros réus e colaboradores já haviam afirmado em juízo.

Ao confirmar a estrutura da organização criminosa supostamente comandada por Cabral, Miranda disse que os procuradores tinham traçado um panorama "próximo" da realidade.

De acordo com ele, Wilson Carlos era responsável por todas as tratativas e acordos do governo com os empresários. Ele e Carlos Bezerra, também interrogado nesta quinta, cuidavam de receber o dinheiro e distribuir. E o ex-secretário da Casa Civil Regis Fichtner era o homem de confiança de Cabral e cuidava da estrutura da propina dentro do governo.

Ele afirmou ainda que toda propina arrecadada era direcionada aos irmãos Marcelo e Renato Chebbar, que tinham a função de enviar para o exterior ou manter guardados os recursos arrecadados pela quadrilha.

A audiência desta quinta diz respeito à ação penal derivada da Operação Ratatouille, que revelou a existência de um esquema de cobrança e pagamento de propina em relação a contratos do governo do Estado com fornecedores do setor de alimentos.

Além de Cabral, foram denunciados Miranda, Luiz Carlos Bezerra (operadores financeiros) e o empresário Marco de Luca. O MPF afirma que Luca pagou R$ 16,7 milhões em vantagens ilícitas entre 2007 e 2016.

Esta não foi a primeira vez que Miranda acusou Cabral. No começo de novembro, em outro depoimento, ele declarou que o ex-governador e o ex-secretário de Estado de Saúde Sérgio Côrtes receberam propina em grandioso esquema de corrupção a partir da compra de equipamentos hospitalares.

Logo após o depoimento de Miranda, Bezerra prestou depoimento nesta tarde. Ele confirmou ter recolhido dinheiro em espécie diretamente com o empresário Marco de Luca, mas disse não saber se os valores eram ou não destinados à propina.