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Com respostas curtas à PF, Temer se isenta de possíveis atos de corrupção de aliados

Michel Temer com José Yunes, um de seus aliados citados nas respostas à PF - 21.jun.2013 - Zanone Fraissat/Monica Bergamo/Folhapress
Michel Temer com José Yunes, um de seus aliados citados nas respostas à PF Imagem: 21.jun.2013 - Zanone Fraissat/Monica Bergamo/Folhapress

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

18/01/2018 16h10Atualizada em 18/01/2018 16h53

Nas respostas às perguntas da Polícia Federal entregue por sua defesa nesta quinta-feira (18) ao STF (Supremo Tribunal Federal), o presidente da República, Michel Temer (PMDB), utilizou frases curtas e se isentou de possíveis atos de corrupção cometidos por aliados.

As perguntas ao presidente foram feitas no inquérito em que ele é investigado por suspeitas dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. A Polícia Federal investiga se Temer teria atuado, durante o mandato, para beneficiar empresa que atua no porto de Santos, no litoral de São Paulo, por meio da edição de um decreto de regulamentação do setor.

Em diversas respostas, Temer escreveu sentenças curtas e reforçou o fato de não ter dado ordens aos auxiliares para que negociassem o Decreto dos Portos e outros tópicos investigados abordados no questionário.

Em relação ao ex-assessor especial e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), em prisão domiciliar, Temer afirma nunca ter solicitado que Loures recebesse propina ou doações de campanha em seu nome.

"Nunca solicitei que o senhor Rodrigo Rocha Loures recebesse recursos de campanha ou de qualquer outra origem em meu nome", diz uma das respostas.

"Nunca solicitei que o senhor Rodrigo Rocha Loures recebesse recursos de executivos do grupo JBS em meu nome. Nenhuma razão haveria para tanto", continua o presidente, nas respostas à PF.

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Temer também negou que tenha determinado que o ex-assessor acompanhasse as tratativas das concessões das empresas do setor portuário quando este ainda atuava na vice-presidência em 2013.

“Não determinei ao Sr. Rodrigo Rocha Loures, ainda como Vice-Presidente da República, que acompanhasse as questões das concessões das empresas do setor portuário, não sendo do meu conhecimento se alguém o procurou para tal finalidade”, escreveu.

Temer informou não saber se o ex-assessor mantém relação com empresas do setor portuário, “jamais” saber que este estaria sendo pressionado por empresários da área para mais benefícios por meio do Decreto dos Portos e que, como assessor parlamentar, “acompanhava vários projetos em tramitação pelo Congresso Nacional, de naturezas variadas, referentes ou não a serviços públicos”.

Nas perguntas, a PF também questiona o motivo pelo qual o subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Gustavo do Vale Rocha, afirma, em gravação de conversa com Rocha Loures, que achava que o setor já tinha “conseguido coisa demais” com o novo decreto dos portos. A corporação também pergunta se Temer acredita que as novas regras trouxeram benefícios em excesso às empresas concessionárias de terminais do setor portuário.

Como resposta, o presidente diz “não havia tomado conhecimento da afirmação, razão pela qual não saberia informar sobre as suas razões”.

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Temer e os ministros Moreira Franco (e) e Eliseu Padilha (c), citados nas respostas
Imagem: Pedro Ladeira 10.mai.2017 /Folhapress

A Polícia Federal questionou Temer se os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) acompanharam a edição do Decreto dos Portes e, em caso positivo, qual o interesse deles na matéria.

Temer diz não saber “com precisão”, mas não ser “improvável” que os ministros tenham acompanhado o assunto “no desempenho de suas funções”. O presidente também nega que tenha orientações sobre o que deveria ser tratado e abrangido no decreto.

Outros aliados que Temer também afirma não ter dado orientação para negociarem acordos em seu nome são o ex-assessor especial José Yunes – que, em depoimento, afirma ter recebido pacote a pedido do ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha; o delator Lúcio Funaro diz que no envelope havia dinheiro de propina –, e o coronel aposentado João Baptista Lima Filho. Ambos são amigos de longa data de Temer.

Sobre Yunes, o presidente ressalta tê-lo conhecido há mais de 50 anos quando eram estudantes de direito e que o amigo exerceu funções próprias da assessoria especial por alguns meses. Temer confirmou que Yunes o auxiliou em campanhas eleitorais – sem explicitar as funções –, mas disse que não atuou como arrecadador de recursos.

Temer afirma ter realizado “poucos negócios” no ramo imobiliário e de construções com Yunes por este ter atuado no setor por algum tempo, embora seja advogado, e se negou a informar as circunstâncias.

“Embora responda à pergunta, peço vênia para realçar a sua absoluta impertinência em face do objeto do inquérito”, justificou.

Em relação a Baptista Lima Filho, Temer afirma conhecê-lo desde 1984, quando era secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo. O presidente reconhece que o coronel aposentado o auxiliou em campanhas eleitorais, mas, como Yunes, nunca atuou como arrecadador de recursos. O peemedebista também diz nunca ter realizado negócios de qualquer natureza que envolvesse a transferência de recursos financeiros para o amigo.