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Geddel diz à Justiça ter sido jogado "em vale dos leprosos" por "amigos de longa data"

Foto: Agência Brasil
Imagem: Foto: Agência Brasil

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

06/02/2018 11h57Atualizada em 07/02/2018 05h56

Em depoimento à Justiça Federal em Brasília nesta terça-feira (6), o ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima (PMDB) declarou ter sido jogado em um "vale dos leprosos" por “amigos de longa data”.

O interrogatório foi feito no âmbito de ação penal a que ele responde por suposta tentativa de barrar a delação premiada de Lúcio Funaro, apontado como operador do PMDB em esquemas de corrupção. A delação foi homologada no início de setembro de 2017. O caso, investigado na Operação Cui Bono?, levou o peemedebista pela primeira vez à prisão, em julho de 2017, antes da descoberta do bunker dos R$ 51 milhões.

Na denúncia contra Geddel, o MPF sustenta que, após a prisão de Funaro, o ex-ministro monitorou e constrangeu a mulher do corretor, Raquel Pitta, com a intenção de "influenciá-lo" a não colaborar com as investigações referentes às operações Cui Bono e Sépsis, que tratam de desvios na Caixa.

O ex-ministro, que antes não mantinha contato com a mulher de Funaro, teria passado a fazer insistentes ligações para ela, especialmente nas sextas-feiras, dia que visitava o marido na prisão. Muitas vezes, os telefonemas eram no período da noite, a propósito de perguntar sobre o "estado de ânimo" de Funaro.

Vejo hoje que amigos, pessoas, de longa data me lançaram em um vale dos leprosos.

Em seu primeiro depoimento, Geddel havia dito que teria feito 17 ligações a Raquel. Nas declarações desta terça, Geddel mudou parcialmente sua versão sobre as ligações feitas para a mulher de Lúcio Funaro. Hoje, ele disse que dessas 17 ligações, apenas uma foi "efetivamente" feita por ele. As outras, disse o ex-ministro, teriam sido realizadas por uma falha de seu telefone celular.

“Esses telefonemas amigáveis devem ter feito bem à senhora Raquel Pita. Digo isso porque vejo hoje que amigos, pessoas, de longa data me lançaram em um vale dos leprosos”, afirmou. A declaração foi dada em resposta ao primeiro questionamento da própria defesa dele sobre as ligações que fazia à Raquel Pita enquanto Funaro estava preso. Geddel negou que estivesse intimidando Raquel ou que quisesse sondar como andava a negociação de Funaro com o MPF.

Em relação aos telefonemas feitos à mulher de Funaro, Geddel disse que o propósito era “manifestar solidariedade” para que não sentisse isolada. Em outro momento, o ex-ministro se queixou de que foi “condenado” à “morte civil” quando foi preso e, então, decidiu “abraçar completamente a verdade”.

6.set.2017 - Dinheiro atribuído a Geddel - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
A maioria das respostas dadas pelo ex-ministro partiu de questionamentos do advogado dele. Ele se recusou a responder perguntas do Ministério Público alegando que a instituição “não quis procura-lo em todos esses meses”. Em resposta aos questionamentos, Geddel dizia não ter “mais nada a declarar seguindo orientação da defesa técnica”.

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Ele também negou ter negócios com Funaro e falou que, possivelmente, ambos foram apresentados pelo ex-presidente da Câmara e deputado federal cassado, Eduardo Cunha. Geddel disse não se lembrar de detalhes, pois percebe “essa memória fantástica só em elefante e delator”. No entanto, falou que Funaro era uma pessoa “agradável” e, na época, “estava liberado conversar com todo mundo”.

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Visivelmente mais magro, Geddel chegou à 10ª Vara Federal do Distrito Federal de roupas brancas, como as usadas na prisão da Papuda, acompanhado pelo advogado Gamil Föppel.

Em função da mudança nas declarações de Geddel, o MPF pediu cinco dias de prazo para entregar suas alegações finais de acusação à Justiça Federal. A estimativa é de que o MPF encaminhe o documento antes do Carnaval. A partir de então, será a vez da defesa de Geddel contar com mais cinco dias para apresentar suas alegações finais. Só então é que o juiz federal Vallisney Oliveira poderá proferir sua sentença.

Geddel foi preso pela primeira vez em julho do ano passado e solto após 10 dias. O ex-ministro foi preso novamente em dezembro depois que a Polícia Federal descobriu malas e caixas com R$ 51 milhões em um apartamento em Salvador, na Bahia, atribuído a ele. (Com informações do Estadão Conteúdo)

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