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Lava Jato: Paes diz desconhecer que seu ex-secretário de Obras tenha recebido propina

Paes e Pinto - Luiz Ackermann/Agência O Globo - Luiz Ackermann/Agência O Globo
25.mai.2012 - Francisco Dorneles (PP), vice-governador do RJ, Alexandre Pinto, ex-secretário municipal de Obras, e Eduardo Paes, em inauguração em Madureira
Imagem: Luiz Ackermann/Agência O Globo

Marina Lang

Colaboração para o UOL, no Rio*

08/03/2018 15h52Atualizada em 08/03/2018 19h28

O ex-prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes (MDB) prestou depoimento nesta quinta-feira (8) na condição de testemunha convocada pela defesa do seu ex-secretário de Obras, Alexandre Pinto, preso pela Operação Lava Jato no Rio. Em depoimento de pouco menos de meia hora ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal, Paes disse desconhecer que o ex-subordinado tenha recebido propina de empreiteiras durante sua gestão, conforme denúncia do MPF (Ministério Público Federal).

"Se houvesse alguma denúncia de corrupção, ele [Alexandre Pinto] teria sido demitido. Essas obras todas acompanhamos em certa lupa. Você tem os órgãos de controle do Estado brasileiro e havia um acompanhamento muito próximo, sim. Não houve nada que eu soubesse nesse sentido de preço de propina", declarou o ex-prefeito ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal.

O ex-prefeito afirmou que a indicação de Pinto foi "totalmente técnica", e não política. "Priorizava sempre detalhes técnicos. Meu secretário de Obras preferi escolher um servidor. Ele que escolhia os presidentes das estruturas subordinadas a ele. No desempenho, eu diria que entregamos muita coisa, a contento."

Pinto esteve à frente da pasta de Obras durante toda a gestão de Paes --entre 2009 e 2016.

Questionado sobre se recebeu algum tipo de pressão das empreiteiras, Paes disse que a situação era constantemente difícil. "Todo o prestador de serviço está sempre pressionando, dizendo que não estão recebendo, mas é sempre difícil. Até as coisas que não tinham a ver com Olimpíada eram tratadas como Olimpíada", disse.

Candidatura ameaçada

Em conversa com jornalistas, Paes disse esperar que o presidente do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), desembargador Carlos Eduardo da Rosa da Fonseca Passos, aceite recurso em que pede para cancelar decisão que o tornou inelegível.

No entanto, ele evitou falar sobre a possível candidatura ao governo do Estado e sobre uma eventual filiação partidária. "Não tenho partido, não tenho candidato, estou inelegível", brincou. "Primeiro é preciso resolver essa questão", completou.

Quando lhe perguntaram se acha que Pinto é inocente, ele disse que "não acha nada". "Quem tem que achar é a Justiça", disse. "É minha obrigação prestar depoimento. Eu quero, mais do que ninguém, que as coisas sejam esclarecidas. Quanto mais rápido a Justiça for feita, melhor", disse.

Sobre o fato de ter ex-aliados políticos de partido e palanque presos, como o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e o presidente afastado da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), Jorge Picciani, Paes disse que "a Justiça está tomando as decisões que acha adequada".

A audiência de hoje se refere à Operação Rio 40 Graus --segundo o MPF, Pinto fazia parte de uma esquema criminoso que, entre 2009 e 2016, solicitou cerca de R$ 36 milhões em propina para empreiteiras envolvidas nas obras investigadas.

O ex-secretário de Obras foi preso pela primeira vez em agosto do ano passado. Solto em novembro, Pinto voltou a ser detido em fevereiro.

De acordo com denúncia do MPF, houve pagamento de propina em obras da linha Vermelha, BRT Transbrasil, Transcarioca, Transoeste, Maracanã e do programa Asfalto Liso. A operação foi desencadeada a partir de acordo de leniência com a Carioca Engenharia.

O esquema de propina descoberto pela força-tarefa da Lava Jato na Secretaria Municipal de Obras do Rio era uma reprodução, segundo os investigadores, da chamada "taxa de oxigênio", percentual de 1% supostamente cobrado na gestão do ex-governador Sérgio Cabral (MDB), preso desde novembro de 2016, sobre os contratos da Secretaria de Estado de Obras com empreiteiras.

Procurada, a defesa do ex-secretário de Obras ainda não se manifestou.

"Na minha campanha eu me comprometi com um BRT, a Transcarioca. Era um compromisso da cidade, uma obra importante. O projeto mais importante e adiantado que nós tínhamos era a BRT", disse Eduardo Paes nesta quinta.

"Quero deixar claro que foi a única obra entregue completa do pacote da Copa do Mundo (...) O papel político do Alexandre Pinto ali era entregar as obras, o que a gente acabou fazendo", acrescentou.

*Com Estadão Conteúdo