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Ele não tem ligação com política, mas nunca foi petista, diz mulher de homem agredido no Instituto Lula

Agredido Instituto Lula - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
O empresário Carlos Alberto Bettoni, 56, agredido próximo ao Instituto Lula
Imagem: Arquivo Pessoal

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

07/04/2018 04h00

Um instante isolado de indignação de um homem geralmente tranquilo. É assim que a esposa de Carlos Alberto Bettoni, Tereza Aguiar, define o que aconteceu na noite da última quinta-feira (5), quando o marido foi agredido em uma confusão na frente do Instituto Lula, em São Paulo.

O empresário de 56 anos é descrito pela mulher como um cidadão sem ligação com nenhuma frente política, que cruzou quase por acaso com a comitiva do senador Lindbergh Farias (PT-RJ), entre outros simpatizantes do PT.

Calçando chinelos, Bettoni estava passando na frente do Instituto Lula logo depois de uma sessão de podologia, no bairro paulistano do Ipiranga, segundo relato de Aguiar. Sem saber previamente, caminhou diante da aglomeração bem no local onde estava o ex-presidente da República, no dia em que o juiz Sérgio Moro determinou a prisão do líder petista no caso do tríplex do Guarujá.

Então, depois de proferir palavras de ordem e xingamentos contra Lindbergh Farias, Bettoni se envolveu em confusão com militantes que acompanhavam o senador. O empresário paulista foi empurrado no meio da rua e bateu a cabeça no para-choque de um caminhão que passava. Após alguns minutos de perda de consciência, Bettoni foi encaminhado ao Hospital São Camilo, bem na frente da sede do Instituto Lula.

“O Carlos me ligou um pouco antes, disse que tinha uma ‘muvuca’ ali, que iria passar na frente. A moto dele estava estacionada ali perto. Ele não sabia direito o que estava acontecendo”, afirmou Tereza Aguiar.

Segundo ela, Bettoni ainda não tem candidato a presidente para este ano e geralmente não se inflama com a tensão política dos últimos anos no país – apesar de recentemente ter compartilhado nas redes sociais uma foto da participação de Sérgio Moro no programa Roda Viva, da TV Cultura.

Na avaliação de Tereza Aguiar, o empresário dono de um estacionamento se deixou levar pelo furor num ápice do clima de tensão política.  

“Ele é mais tranquilo. Não fiquei perguntando muito, o médico falou para não forçar a barra. Mas ele encontrou pessoas falando palavras de ordem e acabou na confusão também. Ele não tem ligação política nenhuma. Estamos bastante desiludidos, porque a cada lado que a gente olha tem corrupção. A gente só foi em manifestação uma vez, aquela que reuniu 3 milhões de pessoas a favor do Impeachment da Dilma (em março de 2016). Um pessoal do nosso prédio se reuniu e fomos”, relatou Tereza. “Só nunca fomos petistas. Nunca gostamos do PT”, acrescentou.

Tereza afirmou que até o momento não teve coragem de ver as imagens do incidente e que foi avisada da internação do marido por meio de um telefonema do Hospital São Camilo. Carlos Alberto teve momentos de lucidez antes e depois da cirurgia, realizada na noite de quinta.   

Até o momento, a família de Bettoni indica que não recebeu nenhum contato do estafe do senador Lindbergh Farias. A reportagem entrou em contato com o estafe do político do Rio de Janeiro, mas não obteve resposta até agora. 

Ex-vereador do PT é tratado como suspeito de agressão

Na última sexta-feira (6), a Polícia Civil de São Paulo instaurou inquérito para apurar a agressão. O caso tramita no 17° DP, no bairro do Ipiranga, e trata Manoel Eduardo Marinho, o “Maninho do PT”, ex-vereador da cidade de Diadema, como suspeito do crime de lesão corporal dolosa.

“Temos uma imagem feita por celular, ela está muito boa, perfeitamente clara. Nela é possível identificar três indivíduos entre os agressores. Eles primeiro empurram a vítima e depois desferem chutes, antes de empurrar a vítima na direção do caminhão”, afirmou o delegado Wilson Roberto Zampieri, responsável pela investigação.

A reportagem tentou em contato com o ex-vereador, mas não conseguiu uma resposta. Em nota enviada ao Jornal Nacional, da TV Globo, Maninho disse que está à disposição da polícia para prestar esclarecimentos. 

Segundo o delegado do 17º Distrito Policial, os investigadores esperam a melhora no quadro clínico de Carlos Alberto Bettoni para tomarem o primeiro depoimento.   

Cirurgia e perda de osso na região do crânio

Carlos Alberto Bettoni foi levado ao Hospital São Camilo, em São Paulo, minutos após o incidente na frente do Instituto Lula. O empresário passou por uma intervenção cirúrgica de três horas de duração, das 21h à meia-noite de quinta.

Conforme boletim emitido pelo Hospital São Camilo, Bettoni teve traumatismo craniano constatado e tem quadro considerado estável. O empresário sofreu fratura do osso parietal esquerdo (com perda de osso da região), hematomas, além de contusão temporal direita e frontal bilateral.

De acordo com a esposa de Bettoni, os médicos tiveram que lidar com a presença de terra dentro do corte na cabeça do paciente. O empresário também teve muita azia durante a madrugada, em razão dos remédios contra infecções. “Agora a orientação do médico é que a gente espere 24 horas para saber como será a reação”, contou Tereza Aguiar à reportagem.