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"Vitrine" em ano eleitoral, Lula atrai políticos mesmo com restrições na prisão

Boulos, Lula e Manuela juntos em março, no ato final da caravana do petista pelo Sul - Marlene Bergamo/FolhaPress
Boulos, Lula e Manuela juntos em março, no ato final da caravana do petista pelo Sul Imagem: Marlene Bergamo/FolhaPress

Nathan Lopes

Do UOL, em Curitiba

11/04/2018 04h00

Desde que o juiz federal Sergio Moro informou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deveria se apresentar à PF (Polícia Federal) para cumprir sua pena, políticos estão indo ao encontro do petista. A "romaria" começou ainda no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo do Campo (SP), onde ele ficou por dois dias antes de se entregar, e tem acontecido também em Curitiba, onde está preso em uma sala de 15 m² desde a noite de sábado (7), sem ter saído de lá até agora nem para banho de sol.

Já passaram pela capital paranaense senadores, como Lindbergh Farias (PT-RJ) e Roberto Requião (MDB-PR), nove governadores --majoritariamente da região Nordeste -, e dois presidenciáveis (a deputada estadual Manuela D’ávila, do PCdoB-RS, e o líder social Guilherme Boulos, do PSOL-SP).

Nesta quarta, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad é esperado. E o presidente do PDT, Carlos Lupi, já avisou que também quer visitar o ex-presidente, levando seu pré-candidato à Presidência, Ciro Gomes, a tiracolo.

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Há uma explicação para isso, segundo o cientista político Marcus Vinicius Macedo Pessanha: Lula é uma "vitrine”. “Ele é uma vitrine muita poderosa, inclusive para atirar pedras. Para alguns, como Jair Bolsonaro [deputado federal e presidenciável pelo PSL] e João Doria [ex-prefeito de São Paulo e candidato ao governo paulista pelo PSDB], ele é a vítima perfeita”, disse.

“E, hoje, todos estão falando de Lula”, reforça o professor do Departamento de Sociologia da UFPR (Universidade Federal do Paraná) Ricardo Oliveira.

A vinda de políticos é reflexo de Lula ser um estrategista, que se colocou como “trunfo político” de mais uma eleição presidencial, a oitava seguida desde 1989, avalia Pessanha. “Esse fluxo de políticos mostra que o lulismo, que poderia estar sofrendo um baque, está renascendo”.

Quem fica com os votos de Lula?

Ricardo Oliveira acrescenta ainda um componente eleitoral: “Lula é um dos maiores puxadores de votos na democracia brasileira”. Inelegível por ter sido condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula só disputará o pleito em outubro deste ano caso consiga que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) acolha seus recursos quanto à candidatura.

Caso ela não se mostre viável, hoje o PT trabalha com duas hipóteses: boicotar a eleição ou apoiar um nome que represente Lula, mesmo que ele seja de outro partido, o que abre portas para um apoio a Manuela ou Boulos, elogiados por Lula em discursos antes da prisão, ou até mesmo Ciro, apontado por especialistas como principal possibilidade de vitória da esquerda sem o PT. Esse movimento mostra uma outra característica de Lula, ser um “líder de conversas, de articulação política”, avalia Oliveira.

O fator prisão teria fortalecido Lula, segundo o professor da UFPR. O petista, inclusive, estaria conseguindo atrair e recompor a esquerda com PSOL e PCdoB, partidos representados por seus presidenciáveis. “Ele aglutina forças na prisão”.

Na carceragem da PF, Lula tem direito a um televisor, já utilizado para ver o Corinthians ser campeão paulista no último domingo, além de banho de sol e visita de familiares, direitos que ainda não aproveitou. As visitas --que podem ser feitas por apenas três parentes-- acontecem na Superintendência às quartas, das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 17h30.

Lula, porém, deverá receber seus parentes em um outro dia da semana. A PF ainda não se posicionou a respeito da data. Advogados de Lula podem visitá-lo todos os dias, preferencialmente em horário de expediente. No domingo (8) e na segunda (9), o líder da defesa, Cristiano Zanin Martins, esteve com Lula. Na terça (10), outro membro da equipe de defensores esteve na PF.

Enquanto há debates em torno da prisão de Lula, Pessanha diz que, politicamente, ela traz mais dúvidas que respostas. “Tem que ver se isso vai se reverter em apoio popular. Essa romaria nos traz, hoje, mais dúvidas que respostas. Ele continua sendo uma pessoa que agrega eleitores ou que só irá falar com quem já é a favor dele? O quadro político está muito nebuloso”.