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Datafolha: Temer tem pior índice entre candidatos à reeleição e seu apoio afastaria 86% dos eleitores

Temer tem baixo índice de intenção de votos e transmite alta rejeição a apoiado - Pedro Ladeira/Folhapress
Temer tem baixo índice de intenção de votos e transmite alta rejeição a apoiado Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Aiuri Rebello

Do UOL, em São Paulo

15/04/2018 15h26Atualizada em 15/04/2018 18h14

O candidato que receber o apoio público do presidente Michel Temer (MDB) -- caso ele mesmo não concorra à reeleição -- pode não contar com os votos da grande maioria do eleitorado brasileiro. É o que mostra a última pesquisa Datafolha sobre as intenções de voto para a Presidência da República nas eleições deste ano, divulgada neste domingo (15) pelo jornal Folha de S. Paulo.

De acordo com a pesquisa, questionados se votariam em um candidato apoiado pelo atual presidente, 86% dos entrevistados disseram que não. Outros 9% responderam que talvez votassem na indicação de Temer, e apenas 3% votariam com certeza em seu apoiado. Outros 2% não souberam responder.

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O resultado de Temer é o pior entre três apoios analisados na pesquisa: o Datafolha também perguntou se os eleitores votariam em um candidato apoiado pelos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

No caso do petista - que inclusive foi testado em três cenários de intenções de votos e liderou todos -, 30% com certeza votariam em seu candidato e 16% talvez votassem. No universo de eleitores pesquisados, 52% não votariam na indicação de Lula. No caso do tucano, 66% não votariam em seu candidato, 21% talvez votassem e 10% com certeza votariam.

Presidente alcança 2% das intenções de voto

Em todos os cenários em que Michel Temer aparece como candidato, sua intenção de voto varia entre 1% e 2%.

Desde que a reeleição foi estabelecida no Brasil, durante o primeiro mandato de FHC (de 1995 a 2002), nenhum presidente pré-candidato a um novo mandato apareceu nas pesquisas de março ou abril do ano do pleito em situação tão precária quanto as experimentadas agora por Temer.

Segundo o Datafolha, Dilma Rousseff (PT) chegou em abril de 2014, ano que disputaria a reeleição, com 37% das intenções de voto. Antes dela, Lula chegou a abril no ano da reeleição, 2006, com 40%, também segundo o Datafolha na época. Com Fernando Henrique Cardoso foi parecido, e ele entrou em abril de 1998 com 34% das intenções de voto. Os três conseguiram se reeleger.

Até o meio da tarde deste domingo (15), Temer não havia comentado o resultado das pesquisas. No mês passado, em entrevista à revista "IstoÉ", o presidente declarou que seria "uma covardia" não disputar a reeleição em outubro. "É natural que quem preside a nação dispute a eleição", afirmou ele na ocasião. "Eu até ouvi recentemente alguém me dizer que não disputar a reeleição seria uma covardia. Que eu teria me acovardado. Governar por dois anos e meio e não disputar a reeleição. O que seria um fato ímpar no país. Desde que foi criada a reeleição, todos disputaram", disse na entrevista.

21.fev.2017 - Presidente do Brasil, Michel Temer com o ministro das Finanças do Brasil, Henrique Meirelles, durante uma reunião com a Comissão de Reforma das Pensões no Palácio do Planalto, em Brasília - Ueslei Marcelino/Reuters - Ueslei Marcelino/Reuters
MDB ainda não decidiu se lança Temer (e) ou Meirelles à Presidência
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Aliados avaliavam, reservadamente e em declarações na imprensa, que Temer sentia-se confiante com a recuperação de indicadores da economia, que apontam retomada do crescimento. Ele acreditava também que a intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, entregue à responsabilidade do Exército, refletiria positivamente nas pesquisas e ajudaria Temer a alavancar suas intenções de voto. Este foi o primeiro levantamento do Datafolha sobre a corrida presidencial depois da intervenção, que completou um mês no dia 18 sem resultados de impacto.

Apesar do interesse publicamente manifestado em tentar a reeleição, Temer ainda não foi oficializado pelo MDB como pré-candidato e enfrenta a concorrência de seu ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que se filiou ao partido para tentar disputar o Planalto. Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo neste domingo, Meirelles reiterou que não quer ser vice em uma eventual chapa encabeçada por Temer.

Análise: "as pessoas não estão felizes"

Para o professor de ciência política Francisco Fonseca, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), os índices ruins apresentados pelo presidente não surpreendem. "Os índices alcançados pelo Temer, tanto na intenção de voto quanto na transferência para outro candidato, mostram o que o governo dele representa para a maioria dos eleitores", diz o professor.

"A vida dos trabalhadores, de quem é de classe média para baixo, não parou de piorar apesar de supostas melhoras na economia. Questões como segurança, preço da gasolina e outros custos que não pararam de subir, emprego e renda que não reagem... as pessoas não estão felizes nem achando que está tudo caminhando bem", afirma Fonseca.

"O que o brasileiro viu de 2016 para cá foi um governo que escancarou a gravidade e amplitude da corrupção nacional, sem que nada tenha sido feito para combatê-la no primeiro escalão federal pela Operação Lava Jato, por exemplo, e que trabalhou em prol de elites econômicas em detrimento de direitos e benefícios mais imediatos dos mais pobres: teto de gastos, reforma trabalhista, privatizações... Tudo isso tem sido feito com o aval do chamado mercado, mas o que o povo pensa disso tudo está aparecendo nestas pesquisas", afirma o professor.

Para Fonseca, ao assumir o governo após um processo de impeachment conturbado e polêmico, entendido por muitos como golpe parlamentar em torno das pedaladas fiscais, ser flagrado em escândalos de corrupção no exercício do cargo e tirar direitos dos trabalhadores com reformas que não foram discutidas com os eleitores, Temer não possui legitimidade e isso reflete-se nos números. "O resultado é esse aí da pesquisa."

A pesquisa Datafolha foi realizada de quarta-feira (11) a sexta-feira (13) com 4.194 entrevistas em 227 municípios, com margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.