Topo

Compra de trens da linha 5 foi "erro gravíssimo", diz promotor sobre ex-presidentes do Metrô

5.abr.2018 - Trem chega à estação Moema do metrô de São Paulo - Rivaldo Gomes/Folhapress
5.abr.2018 - Trem chega à estação Moema do metrô de São Paulo Imagem: Rivaldo Gomes/Folhapress

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

19/04/2018 04h00

O promotor de Justiça do patrimônio público de São Paulo, Marcelo Milani, afirmou, nesta quarta-feira (18), que o Metrô de São Paulo cometeu um "erro gravíssimo" em ter comprado os trens da linha 5-lilás em 2011, já que eles não puderam ser utilizados na época devido ao atraso na entrega das estações.

Milani foi o autor da ação aceita nesta quarta (18) pela Justiça de São Paulo que tornou réus o atual presidente e outros cinco ex-presidentes do Metrô paulista. Eles, e outras três pessoas, são investigados pela compra de 26 trens para a linha 5-lilás por R$ 615 milhões, em 2011, sem que todas as estações da linha tivessem sido inauguradas.

Ao UOL, o promotor criticou o fato de a compra ter sido executada mesmo com obras paradas. Ele ainda atacou o modelo das composições adquiridas, que só têm especificações para serem usadas na linha 5-lilás e não podem ser utilizadas nas outras quatro linhas do metrô de São Paulo.

"Fora esse trecho [de estações inauguradas] aonde roda esse trem? Só lá, não serve nem na linha um, nem na dois, nem na três e nem na quatro, porque o tamanho [do espaço entre os trilhos] é específico", apontou Milani, que recebeu a imprensa na sede do Ministério Público de São Paulo, no centro da capital paulista, no final da tarde de quarta.

Quem fez esse projeto já fez, no mínimo, sendo incompetente, e digo mais, é um erro gravíssimo, o trem ficou parado, não podia rodar porque não tinha aonde por
Marcelo Milani, promotor de Justiça

O promotor rebateu a nota da Secretaria de Estado de Transportes Metropolitanos, em resposta à investigação, que dizia não haver conduta irregular na compra dos trens, uma vez que eles estão em operação agora.

"'Operação' [sinal de aspas]. Não é bem assim. Está terminada a linha? Não tá, tem estação com tapume, tem estação que está sendo construída, a linha não terminou, ela vai do nada pra lugar nenhum", disse. 

"O projeto original é [estação] João Dias à [estação] Chácara Klabin. Está indo até lá? Não, então não está rodando, o trem não rodou, isso está comprovado por documento pericial, temos fotografias e filmes que os trens estavam parados, ficaram durante anos parados, parte no pátio da fábrica, envelopado, ao relento, sem rodar", completou. 

O promotor de Justiça do patrimônio público de São Paulo, Marcelo Milani - Assessoria MP-SP - Assessoria MP-SP
O promotor de Justiça do patrimônio público de São Paulo, Marcelo Milani
Imagem: Assessoria MP-SP

Milani afirmou, também contrariando nota enviada pela Secretaria, que os presidentes e ex-presidentes tinham relação direta com o contrato de compra dos trens e que devem ser responsabilizados pela compra e pela omissão em não impedir o ato, ainda que dois deles - Clodoaldo  Pelissioni e Paulo Menezes Figueiredo - tenham presidido a companhia após a assinatura dos acordos.

"Eu compro um trem sem ter a linha pra rodar, isso é uma decisão grave, uma falta administrativa grave que deve ser responsabilizada. Vamos discutir qual a medida para essa omissão, porque eles [o presidente e ex-presidentes do Metrô] não fizeram o que deveriam fazer", apontou.

"É dinheiro público e a população que fica parada porque não pode utilizar a mobilidade. E mais, a população paga por isso, pra construir e pra usar. Omissão que significa improbidade administrativa. Não é a população que tem que pagar por isso, é o responsável que deve pagar", finalizou.

Entenda a ação

A Justiça de São Paulo tornou réus, nesta quarta-feira (18), o atual presidente e outros cincos ex-presidentes do Metrô de São Paulo por improbidade administrativa pela compra, em 2011, de 26 trens por R$ 615 milhões para a linha 5 Lilás. Esses trens ficaram inutilizados e guardados em pátios, já que a linha 5 ainda não estava completamente pronta.

Alem deles, outras três pessoas viraram réus, totalizando nove suspeitos.

Entre os réus, dois são atualmente membros do governo e da prefeitura de São Paulo: Clodoaldo Pelissioni, secretário de Transportes do Estado, e Sergio Avelleda, chefe de gabinete da prefeitura de São Paulo. Todos os ex-presidentes do Metrô comandaram a empresa durante gestões do PSDB no governo do Estado.

Na época da compra, o governador de São Paulo era Geraldo Alckmin (PSDB), que deixou o cargo no começo deste mês para ser pré-candidato à Presidência nas eleições de outubro de 2018. Ele não é alvo da investigação.

Todas as 26 composições compradas (com seis vagões cada uma) seriam utilizadas na linha 5-lilás do metrô, que atualmente liga as estações Capão Redondo e Eucaliptos. Após adiamentos, a inauguração de algumas estações da linha 5 acontecem desde 2015.

Além de Pelissioni e Avelleda, tornaram-se réus:

  • Jurandir Fernandes, ex-secretário dos Transportes Metropolitanos
  • Laércio Mauro Biazotti, ex-diretor de planejamento e expansão dos transportes metropolitanos
  • David Turbuk, ex-gerente de concepção e projetos de sistemas no Metrô
  • Jorge José Fagali, ex-presidente do Metrô (12 de agosto de 2008 a 11 de fevereiro de 2011)
  • Peter Berkely Bardram Walker, ex-presidente do Metrô  (19 de abril de 2012 a 05 de junho de 2013)
  • Luiz Antonio Carvalho Pacheco, ex-presidente do Metrô (10 de junho de 2012 a 11 de março de 2013)
  • Paulo Menezes Figueiredo, atual presidente do Metrô (desde 04 de setembro de 2015)