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Polícia do PR coleta imagens e ouve testemunhas de ataque a tiros em acampamento do PT

Um ataque a tiros contra o acampamento Marisa Letícia, no bairro Santa Cândida, em Curitiba, deixou duas pessoas feridas na madrugada deste sábado (28) - Ernani Ogata/Código19/Estadão Conteúdo
Um ataque a tiros contra o acampamento Marisa Letícia, no bairro Santa Cândida, em Curitiba, deixou duas pessoas feridas na madrugada deste sábado (28) Imagem: Ernani Ogata/Código19/Estadão Conteúdo

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

28/04/2018 13h30Atualizada em 28/04/2018 15h16

A Polícia Civil do Paraná começou a coletar imagens de câmeras de segurança no entorno do acampamento onde militantes petistas ficaram feridos durante um ataque a tiros, na madrugada deste sábado (28), no bairro Santa Cândida, em Curitiba. O caso foi registrado por volta das 4h e deixou duas pessoas feridas –um homem de 39 anos, baleado no pescoço, e uma mulher atingida por estilhaços. Nenhum deles corre risco de morte.

O caso é investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). De acordo com a assessoria da Secretaria de Segurança Pública do Paraná, o órgão começa hoje à tarde a tomada de depoimentos de testemunhas --entre as quais, a militante Marcia Koakoski, 42, de Xangri-lá (RS). Ela ficou levemente ferida ao ser atingida por estilhaços de projéteis que atingiram um banheiro químico do acampamento.

O militante Jeferson Lima de Menezes, 39, de São Paulo, foi baleado no pescoço, mas de raspão. Ele chegou a ser internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital do Trabalhador, na capital paranaense, mas, às 15h, estava em observação, fora de risco e sem necessidade de procedimento cirúrgico. A informação é da Secretaria de Saúde do Paraná, que, de manhã, divulgara que Menezes estava internado com gravidade.

No final da manhã, uma comitiva de dirigentes petistas e representantes de movimentos sociais se reuniu na secretaria com os responsáveis pela investigação.

Coordenador da vigília por Lula e presidente estadual do PT, o ex-deputado Dr. Rosinha afirmou ao UOL que o grupo apresentou à Polícia Civil informações sobre placas de automóveis registradas pelos integrantes do acampamento nos últimos dias, com pessoas hostis à militância petista.

“Durante o acampamento, nossos militantes anotaram placas de carros que passam o tempo todo na frente xingando, demonstrando agressividade – seja por ignorância ou pelo que for”, disse o presidente estadual do partido. “Não sabemos se são exatamente suspeitos, pedimos à polícia que investigue e sentimos muita disposição da secretaria em esclarecer isso muito rápido: o olho do mundo está aqui”, completou.

O presidente do PT-PR (ao centro), Dr. Rosinha, fala à imprensa após se reunir com representantes da Secretaria de Segurança do Paraná  - Joka Madruga/Agência PT/Divulgação - Joka Madruga/Agência PT/Divulgação
O presidente do PT-PR (ao centro), Dr. Rosinha, fala à imprensa após se reunir com representantes da Secretaria de Segurança do Paraná
Imagem: Joka Madruga/Agência PT/Divulgação

"Atentado por razões políticas"

Na avaliação do dirigente petista, o ataque a tiros se tratou de “um atentado por razões políticas”.

“Não dá para haver uma tentativa de homicídio dessas e afirmar que não se tratou de um atentado por razões políticas. Há um grupo de acampados que defende Lula, uma definição clara – e agora a polícia, pegando câmeras nas casas, vai ver quem fez isso”, declarou. “A polícia deve investigar esses carros, porque o comportamento é repetitivo -- dois ou três dias seguidos o mesmo carro. Com as imagens de câmeras, se identifica o dono, ou se o veículo é roubado”, concluiu.

Após a reunião com as autoridades de segurança, a presidente da CUT-PR (Central Única dos Trabalhadores no Paraná), Regina Cruz, informou que o acampamento terá reforço na segurança por meio de câmeras que identifiquem imagens noturnas. Hoje, a segurança é feita em esquema de revezamento pelos próprios acampados.

“A CUT, o PT e o MST [Movimento dos Sem Terra] temos responsabilidade com as pessoas acampadas; vamos colocar câmeras de vigilância lá que vejam à noite até a placa e passar as informações para a Polícia Civil”, definiu.

Perícia acha cápsulas de pistola 9mm no local do crime

As informações sobre o ataque foram divulgadas no início da manhã deste sábado pela Executiva Nacional do PT e confirmadas logo em seguida pela Secretaria da Segurança Pública do Paraná. De acordo com a pasta, cápsulas de pistola 9mm foram recolhidas no local pelos peritos, e um inquérito foi aberto para apurar o caso.

O acampamento está localizado no bairro de Santa Cândida a cerca de 750 metros da sede da Polícia Federal do Paraná, onde Lula cumpre pena de 12 anos e um mês desde o último dia 7. O petista foi condenado no caso do tríplex do Guarujá no âmbito da operação Lava Jato.

O registro desta madrugada aconteceu exatamente um mês após o ataque a tiros contra um dos ônibus da caravana de Lula pelo Sul do país, também no Paraná --no município de Laranjeiras do Sul. A autoria do crime ainda é desconhecida.

Manifestante segura blusa com sangue; duas pessoas teriam sido feridas por tiros disparados contra o acampamento Marisa Letícia, onde estão os apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba (PR) - Reprodução/Facebook/Frente Brasil Popular - Reprodução/Facebook/Frente Brasil Popular
Manifestante segura blusa com sangue; duas pessoas teriam sido feridas por tiros disparados contra o acampamento Marisa Letícia, onde estão os apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba (PR)
Imagem: Reprodução/Facebook/Frente Brasil Popular

“As pessoas passaram várias vezes gritando e se manifestando de forma contrária. Mais de 20 tiros foram dados no acampamento”, afirmou a presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR). A parlamentar destacou que esse não é o primeiro episódio de violência –em menção ao ataque ao ônibus da caravana, em 28 de março. “Isso é resultado desse processo construído de perseguição contra Lula, o PT e os movimentos de esquerda”, lamentou Gleisi.

Manifestante segura blusa com sangue; duas pessoas teriam sido feridas por tiros disparados contra o acampamento Marisa Letícia, onde estão os apoiadores do ex-presidende Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba (PR) - Reprodução/Facebook/Frente Brasil Popular - Reprodução/Facebook/Frente Brasil Popular
Blusa com sangue de ferido em acampamento pró-Lula
Imagem: Reprodução/Facebook/Frente Brasil Popular

Por meio de nota, integrantes da vigília “Lula livre”, que integra o acampamento na capital paranaense, repudiaram o ataque e informaram que ele foi registrado por volta das 4h por uma pessoa, não identificada, que foi até o local de carro. Além da vítima baleada, uma mulher se feriu, sem gravidade, com estilhaços de tiros efetuados contra os banheiros químicos do acampamento.

“A sorte de não ter havido vítimas fatais não diminui o fato da tentativa de homicídio, motivada pelo ódio e provocação de quem não aceita que a vigília é pacífica, alcança três semanas e vai receber um Primeiro de Maio com presença massiva em Curitiba”, diz a nota, em referência ao ato de centrais sindicais, unificadas, em Curitiba, marcado para o feriado de terça.

Os acampados estavam em torno do prédio da Polícia Federal, onde Lula está preso há três semanas, mas mudaram de lugar – a cerca de um quilômetro –no último dia 17 por determinação judicial.

Também por nota, a Comissão Executiva Nacional do PT classificou o atentado como "mais um episódio de violência política contra a democracia" e lembrou que ele aconteceu "um mês depois de tiros terem atingido ônibus da caravana Lula Pelo Brasil no interior do Paraná". "Até agora não foram presos os autores dos disparos feitos no mês passado", criticou a executiva.