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Na Câmara, líderes divergem sobre uso político da greve de caminhoneiros

Faixas pró-intervenção militar em protesto de caminhoneiros na rodovia Régis Bittencourt, em São Paulo - Bruno Freitas/UOL
Faixas pró-intervenção militar em protesto de caminhoneiros na rodovia Régis Bittencourt, em São Paulo Imagem: Bruno Freitas/UOL

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

28/05/2018 19h43Atualizada em 28/05/2018 19h53

Líderes de bancadas da Câmara dos Deputados ouvidos pelo UOL nesta segunda-feira (28) viram de forma diferente a presença de um aspecto político nas manifestações de caminhoneiros, que continuam bloqueando estradas mesmo depois de dois acordos anunciados pelo governo do presidente Michel Temer (MDB).

No atual estágio da mobilização --que completa ao seu oitavo dia, Nilson Leitão (PSDB-MT) e Paulo Pimenta (PT-RS) disseram enxergar, em diferentes graus, a existência de um componente político em meio a reivindicações como a redução dos preços do óleo diesel e de pedágios. Rodrigo Garcia (DEM-SP) discorda.

Segundo Leitão, que lidera a bancada de 49 deputados tucanos, as reivindicações dos caminhoneiros autônomos sobre os custos de seu trabalho vêm de longa data e foram retomadas neste ano, mas "a pré-campanha eleitoral contaminou o movimento".

"A esquerda está se aproveitando disso para aumentar o caos, a extrema-direita está se aproveitando disso", afirmou Leitão. "Há setores falando que a reivindicação é [por] intervenção militar. Outros, [pelo] o afastamento de Temer."

À frente dos 61 deputados petistas, Pimenta disse que a mobilização dos caminhoneiros autônomos não é política, mas que "no bojo do movimento existem setores identificados com a extrema-direita", que defendem intervenção militar e estão "tentando capturar" o protesto.

Já Garcia, líder dos 44 deputados do DEM, disse não enxergar "ainda" um componente político no movimento dos caminhoneiros. "Se algum partido político tentar tirar proveito disso, vai se dar mal", afirmou.

Associação quer evitar uso político

O presidente da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), José da Fonseca Lopes, reconheceu que as manifestações que ainda acontecem pelo país não têm mais relação com as demandas dos caminhoneiros, mas com pessoas que querem a saída do presidente Michel Temer (MDB) e até mesmo uma intervenção militar no Estado.

"Estamos trabalhando para evitar esse uso político do nosso movimento", afirmou Lopes.

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha (MDB), chegou a falar em "infiltração" política na mobilização dos caminhoneiros, o que estaria atrasando o fim da paralisação mesmo após os acordos.

Na altura do km 279 da rodovia Régis Bittencourt, em Embu das Artes (SP), lideranças que não quiseram se identificar disseram que vão continuar paradas no local, porque consideraram a redução de R$ 0,46 no preço do diesel "uma ofensa" e se manifestaram abertamente a favor de uma intervenção militar.

Apesar de vários caminhoneiros continuarem estacionados em estradas Brasil afora, Temer declarou hoje à tarde ter "absoluta convicção" de que a paralisação vai chegar ao fim até esta terça (29).

"Estamos no limite", diz deputado

O líder do DEM na Câmara disse esperar que as manifestações se encerrem depois das vitórias obtidas pelos caminhoneiros junto ao governo, como a redução do preço do diesel -- o que vai custar quase R$ 10 bilhões aos cofres públicos, segundo o Ministério da Fazenda.

"Política compensatória tem que ser usada, mas estamos no limite", disse.

Para Pimenta, líder do PT, uma solução para o fim dos protestos passa pela mudança da política de preços da Petrobras. No ano passado, a estatal passou a fazer reajustes mais frequentes nos preços dos combustíveis, seguindo as oscilações do câmbio e do petróleo no mercado externo. Com a alta internacional no preço do petróleo e a tendência de alta do dólar frente ao real, o valor do diesel no Brasil disparou.

"A política de preços da Petrobras é incompatível com qualquer solução", afirmou Pimenta.

Segundo Leitão, líder do PSDB, agora é o momento de trazer os governadores para as negociações, já que o governo federal já atendeu aos pedidos de cortar os preços do diesel e dos pedágios. 

"Precisa trazê-los para a mesa para identificar as peculiaridades regionais", disse.

O UOL também tentou falar com os líderes do bloco PP, Podemos e Avante, Arthur Lira (PP-AL); do MDB, Baleia Rossi (MDB-SP); e do governo, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), mas não conseguiu contato.