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Segurança de Lula diz que Marisa esteve pela 1ª vez no sítio de Atibaia em 2010

Daniela Garcia e Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

08/06/2018 16h28Atualizada em 08/06/2018 20h22

Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro, o segurança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ricardo Silva Santos, disse nesta sexta (8) que a ex-primeira dama Marisa Letícia esteve no sítio de Atibaia (SP) pela primeira vez no final do ano de 2010, quando o petista ainda estava à frente do Palácio do Planalto. A propriedade é atribuída pelo MPF (Ministério Público Federal) ao ex-presidente.

Sem especificar a data, Santos disse que antes de ir ao sítio, acompanhou Marisa até o escritório de Fernando Bittar, empresário e amigo de Lula. No local, ela também encontrou com o filho Fábio Luis. Depois, o segurança diz ter seguido o carro de Bittar até a propriedade de Atibaia. Marisa Letícia morreu em fevereiro de 2017.

Nessa primeira visita ao sítio, Santos diz que Marisa comentou com ele que procurava um local para armazenar o acervo do então presidente. "No carro, só estava eu e ela. Na volta, ela falou que estava indo lá para ver algum espaço para guardar o acervo, alguma parte do acervo."

Convocado pela defesa de Fernando Bittar, Santos respondeu detalhes das viagens até Atibaia. Ele negou ter visto reformas nessa primeira visita ao local.

A defesa de Lula questionou se o segurança levou Lula ao sítio quando ele era presidente. "Nunca", respondeu Santos. O funcionário do ex-presidente também negou ter conversado com o petista sobre a propriedade enquanto ele exercia a Presidência.

Santos respondeu a uma série de perguntas sobre a rotina do sítio. Ele afirmou, por exemplo, que o caseiro da propriedade atendia às ordens de Bittar. O segurança disse nunca ter pago contas de Lula ou Marisa que se referiam ao sítio. Foi questionado também se o casal petista dormia no principal dormitório da casa. "Não sei se era o quarto principal. Era um quarto grande lá", disse.

Lula é acusado pelo MPF de ter recebido propina de R$ 1,02 milhão das empresas Odebrecht, OAS e Schahin por meio de obras feitas no sítio, que era frequentado pelo ex-presidente e sua família.

A vantagem indevida seria oriunda da participação dessas empresas no esquema de corrupção na Petrobras desvendado pela Lava Jato. O MPF também afirma que Lula comandava tal esquema e se beneficiava do mesmo "não só para enriquecimento ilícito, mas especialmente para alcançar governabilidade com base em práticas corruptas e perpetuação criminosa no poder".

A advogada de Fernando Bittar, Luiza Oliver, disse que ele é dono do sítio e tem uma "relação familiar" com Lula e seus parentes. Segundo a defesa de Bittar, as obras foram feitas a pedido de Marisa Letícia, com autorização de Bittar

O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, diz que o ex-presidente não é e jamais foi o proprietário desse sítio e tampouco solicitou ou recebeu qualquer vantagem indevida.

Outros depoimentos

Nesta sexta, outras dez testemunhas foram ouvidas por Moro neste processo. Uma delas foi Walfrido Silvino dos Mares Guia, ex-ministro do Turismo e das Relações Institucionais no governo Lula.

Em seu depoimento, Mares Guia afirmou que, nos quase cinco anos em que esteve à frente de um ministério na gestão do petista, nunca recebeu nenhum tipo de orientação ou teve notícia de uso de recursos ilícitos para que o governo pudesse manter uma boa interlocução com o Planalto.

Na denúncia, o Ministério Público acusa Lula de ter distribuído cargos na Petrobras com o objetivo de enriquecimento próprio e também de agentes políticos e partidos.

Mares Guia afirmou que era “procedimento normal” que partidos indicassem nomes para cargos em empresas públicas, como a Petrobras, mas que as posições sempre foram ocupadas tendo em consideração a experiência política do candidato ou sua experiência qualificada na área relativa ao cargo.

“Jamais ele [Lula] me falou que precisava de um cargo A ou C porque precisava criar um mecanismo X de financiamento de terceiros, ou coisa desse tipo”, disse. “[Lula] é uma das pessoas mais íntegras que eu já conheci em toda a minha vida."