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Claques contra e a favor de Crivella rivalizam dentro e fora da Câmara do Rio

Críticos e apoiadores de Crivella na Câmara Municipal - UOL
Críticos e apoiadores de Crivella na Câmara Municipal Imagem: UOL

Hanrrikson Andrade e Luis Kawaguti

Do UOL, no Rio

12/07/2018 14h37Atualizada em 12/07/2018 19h37

Apoiadores e críticos do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB), ocuparam nesta quinta-feira (12) as galerias da Câmara de Vereadores, no centro da cidade, para a sessão que tratou da admissibilidade do processo de impeachment do gestor municipal. Foram distribuídas 60 senhas para cada grupo. Do lado de fora, apoiadores e críticos do prefeito bateram boca em alto-falantes na escadaria da Câmara --duas mulheres chegaram a trocar agressões físicas.

    Nas galerias, apoiadores do Crivella gritaram “não vai ter golpe”. Entre os manifestantes favoráveis ao prefeito, havia moradores de comunidades cariocas, principalmente de Manguinhos, na zona norte. Um cartaz afixado na galeria dizia: “O complexo de Manguinhos e o conjunto de ex-combatentes apoiam o prefeito Crivella”.

    Do outro lado, os apoiadores do impeachment eram majoritariamente servidores, entidades de classe e militantes de partidos de esquerda. Uma das faixas exibidas na galeria fazia uma brincadeira com a funcionária do gabinete de Crivella indicada por ele para agilizar o agendamento de cirurgias no Sisreg (sistema de regulação da rede pública de saúde). “#VimfalarcomaMárcia.”

    Nas escadarias da Casa Legislativa, manifestantes que se diziam apartidários e servidores da saúde pediram o impeachment de Crivella por uso político da prefeitura, enquanto apoiadores gritavam "adeus PSOL" e acusavam o grupo político adversário de serem usuários de maconha.

    Também do lado de fora, Rubens Teixeira (PRB), ex-secretário de Transportes de Crivella, participava da manifestação. Pré-candidato a deputado federal, ele estava presente na reunião de Crivella com o grupo de cerca de 250 evangélicos no Palácio da Cidade, sede do governo, em Botafogo.

    Os pedidos de impeachment argumentam que Crivella teria cometido crimes de responsabilidade, improbidade administrativa e propaganda eleitoral antecipada. Na ocasião do encontro com os evangélicos, o prefeito discursou por mais de uma hora ao lado de Teixeira. A Procuradoria Regional Eleitoral do RJ apura se houve, de fato, a irregularidade. Procurado pelo UOL, Teixeira preferiu não se manifestar.

    Protestos Câmara do Rio admissibilidade impeachment Crivella - Luiz Kawaguti/UOL - Luiz Kawaguti/UOL
    12.jul.2018 - Grupos pró e contra Crivella batem-boca na porta da Câmara do Rio
    Imagem: Luiz Kawaguti/UOL

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    O clima de rivalidade se estendeu ao plenário da Câmara, onde governo e oposição fizeram um duelo político cercado de manobras. Nos bastidores, comentava-se que o presidente da Casa, Jorge Felippe (MDB), não teria interesse de levar adiante um possível processo de impeachment.

    A Procuradoria da Câmara definiu no começo da tarde de hoje que os dois pedidos de impeachment apresentados pela oposição não seriam lidos no plenário. A sessão foi encaminhada direto para a fase de debates, na qual todos os vereadores interessados puderam ir à tribuna. Cada orador teve cinco minutos para discursar.

    Na votação de hoje, relativa à admissibilidade, os favoráveis à cassação precisavam da maioria simples dos presentes no Parlamento (metade mais um).

    Citação de Marielle e ironia sobre slogan de Crivella

    Os dois primeiros oradores inscritos foram Renato Cinco e Leonel Brizola Neto, ambos do PSOL. O primeiro comentou os fatos que foram imputados ao prefeito e declarou entender que a oferta de facilidades a evangélicos durante a reunião no Palácio da Cidade configuraria crime de improbidade administrativa. O segundo, por sua vez, fez várias críticas a Crivella e lembrou de seu slogan de campanha eleitoral, em 2016.

    "Ele enfatizou que iria 'cuidar das pessoas'. Mas cuidar apenas das pessoas da igreja dele", disse, em referência à IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), da qual Crivella é bispo licenciado.

    A terceira a se dirigir à tribuna foi Teresa Bergher (PSDB), que foi secretária de Crivella na administração municipal e pediu demissão após se desentender com o prefeito na polêmica votação do projeto do IPTU. "As matérias veiculadas na imprensa demonstram inequivocadamente que o chefe do poder público municipal governa de modo infelizmente muito particular", declarou.

    Ao fim do discurso, ela foi hostilizada pelas galerias ocupadas por apoiadores do prefeito. "Você pagou com traição a quem sempre te deu a mão", gritavam os presentes, em alusão ao histórico samba de Beth Carvalho.

    O quarto inscrito foi o bispo Inaldo Silva, que é colega de partido de Crivella no PRB. Ele afirmou que a oposição tem "ódio contra os evangélicos" e questionou a "moral" dos partidos de esquerda para pedir o impedimento do prefeito. Disse ainda ter "saudade da Marielle" --em referência a Marielle Franco, vereadora do PSOL assassinada a tiros em março deste ano.

    "A Marielle conseguia entender, conseguia separar. Estou com saudade dela", declarou ele, provocando vaias e xingamentos na galeria ocupada por manifestantes contrários a Crivella. O raciocínio do vereador é que Marielle, ainda que na oposição, teria capacidade de diálogo com o governo, diferentemente dos colegas de partido.

    Inaldo também defendeu a Igreja Universal, que completará 41 anos, segundo ele, sem nunca ter solicitado apoio político para se expandir. "Está em 180 países sem precisar de um governo, um prefeito, um presidente. Somente através da sua fé."

    Entenda o que motivou os pedidos de impeachment de Crivella

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