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Mônica Moura reitera caixa 2 da Odebrecht em campanha de Dilma, mas diz que desconhecia 'Petrolão'

A marqueteira Mônica Moura (à dir.) e seu marido, João Santana - STR/AFP
A marqueteira Mônica Moura (à dir.) e seu marido, João Santana Imagem: STR/AFP

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

10/08/2018 18h33Atualizada em 10/08/2018 21h21

Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro nesta sexta-feira (10), a marqueteira Mônica Moura voltou a dizer que negociou diretamente com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) os valores de caixa 2 que seriam repassados para a campanha da petista à Presidência em 2014.

“Negociei com a Dilma. O valor foi todo negociado com ela, eu e ela. Pela primeira vez na vida eu negociei diretamente com a presidente”, afirmou. Depois disso, segundo Mônica, quem ficou responsável pela organização do pagamento foi o então ministro da Fazenda, Guido Mantega.

De acordo com Mônica, Mantega a orientou a procurar por Hilberto Mascarenhas Silva, chefe do Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, conhecido como o setor de propinas da empresa.

Ainda de acordo com a marqueteira, foi acordado com a Odebrecht o valor de R$ 25 milhões em caixa dois para a campanha de Dilma em 2014. Mônica, no entanto, disse ter recebido apenas R$ 10 milhões.

“Eu tinha que ter recebido nessa época, da Odebrecht, como a parte que eles iriam pagar da campanha da Dilma Rousseff em 2014, R$ 25 milhões, que eu nunca recebi. Eles pagaram R$ 10 milhões para mim. Em espécie, aqui [no Brasil]”, afirmou.

Uma outra parte do dinheiro de caixa dois que deveria ser depositada pela Odebrecht em contas no exterior, segundo ela, nunca foi paga.

“A parte que ia ser depositada lá fora, que sempre eles faziam depois, quando passava a eleição e tal, nunca chegou a acontecer”, disse.

Em nota, a assessoria de imprensa de Dilma Rousseff classificou as afirmações como “mentirosas” e disse que a ex-presidente “nunca negociou doações eleitorais ou ordenou quaisquer pagamentos ilegais a prestadores de serviços em suas campanhas, ou fora delas”.

Também por meio de nota, o PT afirmou que "como sempre, a Lava Jato arma espetáculos de olho nas eleições, desta vez para criar notícias falsas contra o PT às vésperas do registro oficial da candidatura do ex-presidente Lula, que será na próxima quarta-feira." 

Antigos marqueteiros do PT, Mônica e seu marido, João Santana, atuaram em diversas campanhas para o partido, incluindo as campanhas presidenciais de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os dois fecharam acordo de delação premiada e já afirmaram em outros depoimentos à Justiça que receberam dinheiro de caixa dois para todas as campanhas que fizeram. Nesta sexta, Mônica afirmou que a prática não era exclusiva do PT, mas também adotada por outros partidos.

“Não davam [dinheiro não contabilizado] só para o PT, ou para um partido. Inclusive descobriu-se depois que o mesmo valor de caixa 2 da Dilma foi para o Aécio [Neves, então candidato à Presidência pelo PSDB]”.

Mônica ainda disse ter recebido dinheiro de caixa dois para campanhas fora do Brasil, como na reeleição do então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em 2012, e de José Eduardo dos Santos para a presidência da Angola, no mesmo ano. Segundo ela, no entanto, nenhuma dessas campanhas no exterior tinham relação com o PT.

Em seu depoimento, a marqueteira afirmou que trabalhou com pagamentos de caixa dois pela primeira vez em campanhas do PT em 2006, quando negociou valores com o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci.

“A primeira vez que isso aconteceu foi em 2006, na campanha do Lula. Foi negociado com o Palocci a campanha inteira, e inclusive que ia ter essa modalidade. Foi quando começou”, disse.

"Nunca imaginei a Petrobras"

Ao final de seu depoimento, Mônica disse ter “quase certeza” de que havia acordos “que não eram exatamente os mais republicanos” entre a Odebrecht e os partidos, mas que “nunca imaginou” que houvesse lavagem de dinheiro envolvendo o patrimônio da Petrobras e “essa coisa toda de Petrolão”.

A marqueteira ainda afirmou que se arrepende “amargamente” de não ter declarado em seu imposto de renda em 2015 uma conta na Suíça pela qual recebia os valores de caixa dois.

“Recebi dinheiro de caixa 2 durante muito tempo. Não estou me tirando da culpa de nada, o que estou dizendo é que eu não sabia, não tenho nada a ver com Petrolão, nunca recebi propina”.

Mônica Moura foi interrogada por Moro nesta sexta no âmbito de um processo que investiga especificamente o funcionamento do Setor de Operações Estruturadas na Odebrecht.

Também foram ouvidos nesta tarde seu marido, João Santana, e os operadores financeiros Olívio Rodrigues e Marcelo Rodrigues, apontados por funcionários da empreiteira como os responsáveis pela administração das off-shores utilizadas para o pagamento de caixa dois. Todos são réus no processo por lavagem de dinheiro.

O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que também é réu no processo e seria interrogado nesta sexta, se negou a participar da audiência.