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Cabral admite ter recebido R$ 5 milhões em caixa 2 de suspeito de comprar votos por Olimpíada

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

13/08/2018 15h49Atualizada em 13/08/2018 22h47

Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, na 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, o ex-governador Sérgio Cabral (MDB) admitiu nesta segunda-feira (13) ter recebido ao menos R$ 5 milhões do empresário Arthur Soares, o Rei Arthur, em colaborações não declaradas para campanhas entre 2002 e 2010 --período no qual Cabral se candidatou ao Senado e ao governo do Estado.

"O que eu não fiz foi pedir propina, agir como corrupto. Eu nunca cheguei ao Arthur Soares para pedir isto ou aquilo", defendeu Cabral.

Soares é considerado um dos maiores empresários do estado fluminense e, durante o governo Cabral, respondia por contratos de prestação de serviços. Ele é suspeito de envolvimento na suposta compra de votos para que o Rio de Janeiro fosse eleito cidade-sede da Olimpíada de 2016. De acordo com o jornal "Le Monde", Soares teria pago cerca de US$ 1,5 milhão ao filho de um integrante do COI (Comitê Olímpico Internacional) durante o processo de escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Réu na ação penal oriunda da Operação Unfair Play, desmembramento da Lava Jato no Rio que investiga suposta compra de votos para o Rio sediar os Jogos Olímpicos de 2016, o empresário é considerado foragido da Justiça. Preso desde novembro de 2016, Sérgio Cabral já foi condenado a mais de 120 anos de prisão pela Justiça Federal.

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O ex-governador afirmou que parte desses valores também foi destinada às campanhas que ele apoiava. Questionado por Bretas sobre quais teriam sido as campanhas beneficiadas por repasses do empresário Arthur Soares, Cabral se negou a especificar e se emocionou.

"As dores que vivo são muito grandes, vossa excelência. Dores da cadeia, da saudade dos meus filhos e da minha mulher. Estou proscrito enquanto político e terei que recomeçar financeiramente a minha vida. Não vou detalhar as campanhas", resumiu.

Segundo Cabral, parte desse dinheiro foi destinado a gastos pessoais e da família. "Houve gasto pessoal, sim, mas um montante ínfimo, se comparado ao que destinei a outras campanhas. Em municípios do interior, cheguei a repassar dinheiro para campanhas antagônicas", disse.

Apesar disso, Cabral evitou chamar esses valores de "propina".

"Jamais favoreci o Arthur Soares em contratos ou licitações, nunca pedi percentuais. Ele chegou a me procurar para reclamar que, na Secretaria de Saúde, não havia correção salarial dos funcionários prestadores de serviço. Também me procurou para reclamar que perdeu contratos na Secretaria de Educação. Sempre disse a ele que não podia fazer nada", afirmou.

O UOL procura da defesa do empresário Arthur Soares.

De acordo com Cabral, os doleiros Renato e Marcelo Chebar fizeram parte da movimentação desses recursos não declarados em contas no Brasil. Porém, o ex-governador negou que seus gastos de campanha ou pessoais, além de repasses para outras candidaturas, tenham sido feitos por meio de conta do banco EVG, com sede em Antígua e Barbuda --paraíso fiscal no Caribe, conforme informaram à Justiça os irmãos Chebar, antigos operadores de valores de caixa dois recebidos pelo esquema.

Cabral procurou também se desvincular de atos nos quais secretários de seu governo são investigados por suposto recebimento de propina, caso, por exemplo, do ex-chefe da pasta da Saúde Sérgio Côrtes. "Eu descentralizava tudo", afirmou. "Não posso responder por terceiros."

*Com informações do Estadão Conteúdo