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Após chegar a 1º tucano, Lava Jato diz que operação é apartidária e culpa foro

Keiny Andrade-3.jun.2015/Folhapress
Imagem: Keiny Andrade-3.jun.2015/Folhapress

Vinicius Boreki

Colaboração para o UOL, em Curitiba

11/09/2018 11h48Atualizada em 11/09/2018 14h46

Após a prisão de três pessoas próximas ao ex-governador do Paraná e candidato ao Senado Beto Richa (PSDB) nesta terça-feira (11), a força-tarefa da Operação Lava Jato negou que haja proteção a qualquer partido político e culpa o foro privilegiado por atrasar as investigações.

Richa foi preso na manhã desta terça-feira, mas em outra operação, que não tem relação com a Lava Jato. Quem comandou a ação que deteve o tucano foi o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público do Estado.

“Sempre foi uma investigação apartidária. Já tínhamos chegado a pessoas de diversos partidos, mas, infelizmente, o foro privilegiado é um obstáculo para as investigações, para punir pessoas de outros partidos”, afirmou o procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima em entrevista coletiva.

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Em abril deste ano, Richa deixou o governo do estado para disputar uma vaga de senador. Com isso, perdeu o foro privilegiado. Em maio, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu restringir a aplicação da regra prevista na Constituição Federal.

De acordo com Santos Lima, com o passar do tempo, as investigações vão amadurecendo, e os alvos vão aparecendo.

Nesse caso [da operação desta terça-feira], é um político do PSDB. Nós não escolhemos alvos, e as investigações, com a sua maturidade, vão mostrando os alvos

Carlos Fernando dos Santos Lima, procurador da República

A 53ª fase da Lava Jato deflagrada nesta terça-feira focou em Deonilson Roldo, ex-chefe de gabinete de Richa, e Jorge Theodócio Atherino, empresário apontado como operador-financeiro do ex-governador, que tiveram prisões preventivas decretadas, ou seja, sem prazo.

Além deles, Tiago Correia Adriano Rocha, indicado como braço direto de Atherino, foi preso temporariamente (cinco dias).

Segundo o MPF-PR (Ministério Público Federal do Paraná), a operação apura o pagamento de propina no valor R$ 3,5 milhões por parte de Odebrecht a agentes públicos e privados no Estado Paraná. Parte do dinheiro financiou a campanha de Richa em 2014, segundo as investigações.

O objetivo do pagamento era ganhar a licitação para investimento na duplicação, manutenção e operação da rodovia estadual PR-323, entre os municípios de Francisco Alves e Maringá.

Por meio de nota, a defesa de Richa disse não saber “qual a razão das ordens judiciais proferidas” e que a defesa ainda “não teve acesso à investigação”. O PSDB não se manifestou sobre o assunto até o momento.

O advogado de Atherino, Carlos Farracha, disse que está se inteirando dos fatos e vai se manifestar sobre o assunto no futuro. O advogado de Roldo, Roberto Brzezinski Neto, disse que não vai se pronunciar sobre o assunto. A reportagem de UOL está tentando contato com os advogados de Rocha.

Procuradores deixam o prédio onde Richa mora, em Curitiba - Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo - Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo
Procuradores deixam o prédio onde Richa mora, em Curitiba
Imagem: Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo

Disputa judicial

No caso da PR-323, as investigações ficaram, desde a renúncia de Richa ao cargo de governador, em uma discussão a respeito de quem seria a competência para investigar os crimes: o Ministério Público Federal ou o Ministério Público Eleitoral.

O andamento das investigações continuou apenas após o arquivamento da investigação eleitoral.

“É uma situação muito confusa e decorre de erráticas decisões do STF e STJ [Superior Tribunal de Justiça] a respeito de competência federal e eleitoral. Infelizmente, essa apuração poderia ter acontecido muito antes. Só foi possível dar continuidade às investigações após o arquivamento eleitoral”, ressaltou Santos Lima.

Timing da operação

Em meio à campanha eleitoral, o procurador da República Diogo Castor de Mattos afirmou que a operação foi necessária devido a novas evidências.

“Os dois investigados continuavam atuando em atividades suspeitas. Um deles trabalhando na campanha para o Senado do ex-governador e fazia questão de não aparecer formalmente. O outro continuou a movimentar valores expressivos em nome de familiares próximos”, disse.

Roldo, segundo relatos do colaborador Nelson Leal Junior, ex-diretor do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), teria a função de arrecadação de valores junto a empresários.

“As provas estão acima de qualquer dúvida razoável. São pessoas habituadas a cometer atos ilícitos de forma sistêmica. Daí a necessidade das prisões”, disse.