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Dilma diz que decisão de Moro é estarrecedora e nega acusações de Palocci

6.set.2018 - A ex-presidente Dilma após visitar o ex-presidente Lula na PF em Curitiba - Geraldo Bubniak/Estadão Conteúdo
6.set.2018 - A ex-presidente Dilma após visitar o ex-presidente Lula na PF em Curitiba Imagem: Geraldo Bubniak/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

01/10/2018 19h24Atualizada em 01/10/2018 20h15

Em nota divulgada nesta segunda-feira (1º), a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) questionou a decisão do juiz federal Sergio Moro por retirar o sigilo de parte do acordo de delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci.

Palocci prestou depoimento à Polícia Federal no dia 13 de abril. Mais cedo nesta segunda, Moro incluiu trechos da delação do ex-ministro em um processo que investiga suposta propina da Odebrecht na compra de um terreno que seria para o Instituto Lula. Tanto Palocci como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são réus no processo.

Dilma afirma que, embora tenham sido feitas há quase sete meses e rejeitadas pelo MPF (Ministério Público Federal), as delações “sem provas” de Palocci foram “surpreendentemente” acolhidas por Moro, o que diz ser “estarrecedor”.

“Sobretudo, neste momento em que o povo brasileiro se prepara para eleger o presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e deputados estaduais”, complementa o texto. O primeiro turno das eleições deste ano está marcado para daqui a seis dias, em 7 de outubro.

“Dadas em abril deste ano, as declarações do senhor Palocci tentam incriminar Lula, Dilma e outros dirigentes do PT, para obter o prêmio da liberdade, da redução da pena e da posse de recursos os quais é acusado de ter acumulado ilegalmente”, diz ainda o texto.

Entre outras acusações, Palocci afirmou que Lula manteve diretores na Petrobras mesmo após saber de corrupção e estimou que, das mil MPs (medidas provisórias) editadas nos quatro governos do PT, em pelo menos 900 houve cobrança de propina.

Palocci disse, ainda, que a campanha para a reeleição de Dilma, em 2014, custou R$ 800 milhões –a maior parte, segundo ele, proveniente de recursos ilícitos. O valor é mais que o dobro do valor declarado oficialmente à Justiça Eleitoral, que foi de R$ 350 milhões. O ex-ministro também afirmou que, em 2010, os gastos foram de R$ 600 milhões, o que resultaria em R$ 1,4 bilhão se somadas as duas campanhas.

“Trata-se de um valor absolutamente falso. Apenas a hipótese de recursos tão vultosos não terem sido detectados evidencia o desespero de quem quer salvar a própria pele”, afirmou a ex-presidente, em nota oficial.

Dilma também classifica as declarações de Palocci de “leviandade e oportunismo delirantes” e diz que elas permitem apenas uma conclusão: "que o senhor Palocci saiba onde se encontra R$ 1 bilhão, já que o valor declarado e aprovado pelo TSE [Tribunal Superior Eleitoral] é cerca de um terço disso".

PT diz que Moro age de forma "arbitrária" e "ilegal"

Também por meio de nota, a Executiva Nacional do PT afirmou que, ao "dar publicidade às mentiras de Antonio Palocci", o juiz Moro "é o responsável por mais uma interferência arbitrária e ilegal no processo de eleições".

O texto alega que a negociação da delação "mentirosa" de Palocci com a Polícia Federal é "negócio político", tendo "nada a ver com a busca da verdade nem com o devido processo legal".

O PT também questiona a decisão de Moro ao lembrar que o juiz decidiu adiar o depoimento de Lula no processo do sítio de Atibaia, que estava previsto para setembro, para evitar a "exploração eleitoral" dos interrogatórios.

"Agora, na última semana do primeiro turno, Moro promove a exploração eleitoral, pelos meios de comunicação, de um depoimento antigo, imprestável e forjado para incriminar o PT", diz o texto.

Defesa de Lula critica Moro

Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, disse que a decisão de Moro teve "nítido objetivo de tentar causar efeitos políticos para Lula e seus aliados". Zanin afirmou também que Palocci teria mentido ao falar sobre o ex-presidente, sem apresentar provas, para obter os benefícios do acordo de colaboração.

"Moro juntou ao processo, por iniciativa própria ('de ofício'), depoimento prestado pelo senhor Antônio Palocci na condição de delator com o nítido objetivo de tentar causar efeitos políticos para Lula e seus aliados, até porque o próprio juiz reconhece que não poderá levar tal depoimento em consideração no julgamento da ação penal. Soma-se a isso o fato de que a delação foi recusada pelo Ministério Público", afirmou o advogado.