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Após prisão de deputado, PSL agora quer no comando da Alerj eleito que quebrou placa de Marielle

O deputado eleito Rodrigo Amorim exibe placa quebrada que homenageava Marielle - Reprodução/Rede Social
O deputado eleito Rodrigo Amorim exibe placa quebrada que homenageava Marielle Imagem: Reprodução/Rede Social

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

13/11/2018 04h00Atualizada em 13/11/2018 11h27

A prisão de mais sete deputados estaduais do Rio de Janeiro, na última quinta-feira (8), na Operação Furna da Onça --desdobramento da Lava Jato que revelou suposto esquema de recebimento de propina e distribuição de cargos por deputados fluminenses-- acrescentou mais tensão e mudou o cenário da disputa pela Presidência da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio). Ainda na fase de articulação, a eleição pelo comando da Casa já tem embates entre parlamentares e um indicativo de polarização que promete se estender ao longo da nova legislatura.

No total, a Operação Furna da Onça cumpriu 22 mandados de prisão --dez dos suspeitos são deputados estaduais (três deles já se encontravam presos). A pedido do MPF (Ministério Público Federal), o Tribunal Regional Federal da 2ª Região decidiu manter presos seis deputados por suspeita de tentativa de ocultação de provas às vésperas da deflagração da operação --a decisão foi divulgada nesta terça-feira (13). Somente um dos parlamentares, o deputado Marcelo Simão (PP), não teve a prisão temporária (de cinco dias) convertida em preventiva (por tempo indeterminado).

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Entre os presos, está André Corrêa (DEM), até então potencial candidato à Presidência da Alerj com o apoio do PSL, partido da família Bolsonaro e que elegeu a maior bancada da Casa, com 13 deputados. Antes de ser detido, Corrêa prometeu uma caçada implacável à corrupção em seu eventual mandato e a retirada do PSOL do comando da Comissão de de Direitos Humanos da Alerj, posto que o partido ocupa há 12 anos.

Mas, após a prisão, o PSL passou a cogitar outro candidato para a liderança do Parlamento fluminense, o deputado eleito Rodrigo Amorim (PSL) --que ganhou notoriedade após destruir uma homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL), durante ato de campanha.

"O PSL estava optando por apoiar o antipetismo representado pelo André Corrêa. Mas, diante da prisão dele, não faz sentido seguir com essa possibilidade. O deputado ainda tem direito à defesa e nega participação no esquema. Nosso filtro para apoiar alguém ou não para o cargo se tornou até mais rigoroso depois da Furna da Onça: não pode ter o nome associado a nenhuma denúncia e não pode ter votado, em 2017, pela soltura dos deputados Edson Albertassi, Jorge Picciani e Paulo Melo. Nesse sentido o Amorim supre as nossas necessidades", disse o também deputado eleito Alexandre Kinoploch (PSL).

Picciani, Albertassi e Melo, todos do MDB, foram alvos de prisão preventiva no âmbito da Furna da Onça, mas já se encontravam detidos em razão de outras acusações. Foram detidos na operação da semana passada:

  • André Corrêa (DEM), deputado estadual reeleito
  • Chiquinho da Mangueira (PSC), deputado estadual reeleito
  • Coronel Jairo (Solidariedade), deputado estadual não reeleito
  • Luiz Martins (PDT), deputado estadual reeleito
  • Marcelo Simão (PP), deputado estadual não reeleito
  • Marcos Abrahão (Avante), deputado estadual reeleito
  • Marcus Vinícius Neskau (PTB), deputado estadual reeleito

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A reportagem do UOL procurou Amorim sobre a indicação de seu nome para o comando da Alerj, mas não obteve retorno. Na última sexta-feira (9), o deputado eleito disse que "faria de tudo para evitar o PT na liderança da Alerj e que não aceitaria o apoio de ninguém do MDB". Para vencer a disputa, um candidato precisa ter a maioria simples dos 70 votos.

O nome de Márcio Pacheco (PSC) também não é descartado por uma ala do PRB. Por pertencer ao mesmo partido do governador eleito, Wilson Witzel (PSC), Pacheco é visto com simpatia por parte do PSL, que vê nele uma ponte entre o Executivo fluminense e a sigla com a maior representatividade no Legislativo.

Na última sexta, ao final de entrevista à imprensa em que Witzel anunciou parte de seu secretariado, Amorim discutiu com jornalistas que perguntaram a ele "qual seria a tolerância da bancada do PSL sobre a corrupção, no próximo mandato". O questionamento foi feito a Amorim, que acompanhava a entrevista, no contexto da eleição para a Presidência da Alerj --André Corrêa havia sido preso na véspera.

Amorim contestou a pergunta. Nas palavras dele, ela era "tola e idiota neste momento do país". O parlamentar eleito também disse que o jornalista deveria voltar para a universidade. Outros repórteres defenderam o direito do repórter à pergunta e disseram que, caso se sentisse incomodado, Amorim tinha o direito de não responder. O parlamentar foi retirado do local por colegas do PSL. Minutos depois, Amorim pediu desculpas pela exaltação.

Oposição ao PSL conta com apoio do PSOL

Do outro lado da disputa, o atual presidente da Alerj, André Ceciliano (PT), também trabalha para continuar no cargo. O petista, que assumiu o comando da Casa após a prisão da cúpula do MDB na Operação Cadeia Velha, espera contar com uma base de partidos diversos em seu apoio contra o nome apoiado pelo PSL.

Para frear uma eventual liderança do partido de Bolsonaro, a coligação em torno da candidatura do petista pode representar uma união que, até pouco tempo atrás, soaria inusitada: pela primeira vez em 12 anos, o PSOL pretende apoiar uma candidatura à Presidência da Alerj. Ceciliano, por sua vez, também espera ter o apoio dos parlamentares do MDB --partido ao qual o PSOL fez oposição nos últimos anos.

"O Parlamento é o reflexo da sociedade, que precisa ser representada em sua plenitude. Todas as comissões permanentes da Casa assim como as CPIs [Comissões Parlamentares de Inquérito] têm representantes de partidos diversos. É esta pluralidade que garante o equilíbrio. Aqui é um espaço de busca permanente do consenso", afirma o petista.

Já o deputado Flávio Serafini (PSOL) reconhece que seu partido precisou flexibilizar o discurso diante da possibilidade de liderança do PSL.

"Vivemos um momento diferente, com o avanço do autoritarismo. A postura republicana nesse instante é muito importante. Temos dialogado com o André Ceciliano, mas pretendemos manter a nossa independência. O que nos preocupa é a bancada do PSL, que propõe para a Alerj uma política centrada na perseguição de forças ideológicas diferentes. É incrível que, com um estado quebrado, com dez deputados presos, a preocupação deles seja o Psol. É um misto de autoritarismo com falso moralismo inacreditável", afirma.

Entenda a Furna da Onça

Investigação do MPF (Ministério Público Federal) apontou o envolvimento de dez deputados estaduais em suposto esquema de recebimento de propina em troca da aprovação de projetos de lei na Alerj. Segundo a Lava Jato, a operação teria movimentado R$ 54,5 milhões, entre 2011 e 2014. A força-tarefa chegou a definir o esquema como "a propinolândia da Alerj".

As investigações da Operação Furna da Onça mostraram que deputados também usariam nomeações de cargos em empresas e autarquias ligadas ao governo como moeda de troca para interesses políticos. O Detran do Rio concentrava indicações de quase todos os parlamentares presos --o órgão afirmou estar à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento.

Também foram detidos Affonso Monnerat, até então secretário estadual de Governo, e Leonardo Jacob, então presidente do Detran --o governador Luiz Fernando Pezão (MDB) anunciou a exoneração deles, disse desconhecer os fatos e reafirmou confiança na inocência de Monnerat.

Segundo a Lava Jato, parte do dinheiro supostamente recebido por Chiquinho da Mangueira, que se reelegeu pelo PSC, (algo em torno de R$ 3 milhões, segundo as investigações) teria sido destinado ao financiamento do carnaval da Estação Primeira de Mangueira, em 2014 --Chiquinho acumula a presidência da agremiação.

Por meio de sua assessoria, Chiquinho afirmou que as suspeitas contra ele são "infundadas e totalmente inverídicas". Segundo o advogado Pablo Andrade, a medida foi "completamente desarrazoada e ficará demonstrado que não houve qualquer ato ilícito praticado pelo deputado". 

O deputado reeleito André Corrêa se pronunciou ao chegar à PF. "Quem não deve não teme. Sigo deputado e mantenho a minha candidatura à Presidência da Alerj. E sigo com a minha promessa de tirar o PSOL da Presidência da Comissão de Direitos Humanos. Estou tão confiante da minha inocência que não tenho nem advogado", disse ele.

'Quem não deve não teme', diz deputado ao chegar à PF

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"O deputado nunca participou de qualquer ato criminoso durante seus mandatos e reafirma sua inocência", informou a defesa de Albertassi.

A assessoria do deputado Marcus Vinícius Neskau afirmou que o parlamentar recebeu a ordem de prisão temporária "com muita indignação e estranheza, justo em um período de articulações políticas sobre a votação para a próxima composição da Presidência da Alerj". Segundo sua assessoria, Neskau já havia se manifestado a favor do deputado André Corrêa, também preso na operação. "O parlamentar segue seu compromisso com a população de dar transparência a seu mandato, afirmando sua inocência e colaborando com todas as investigações", diz a nota.

A defesa de Vinicius Farah afirmou que ele confia na Justiça e que a situação será elucidada.

À época de sua prisão, Picciani divulgou nota dizendo que as acusações contra ele e sua família são falsas. Também quando foi preso Paulo Melo afirmou, por meio de nota: "não tenho nada a esconder. Minha vida política sempre foi muito clara, todas as contribuições recebidas foram legais e declaradas na justiça eleitoral". Sobre as novas suspeitas reveladas pela Lava Jato, Picciani e Melo não se pronunciaram.

Affonso Monnerat, Leonardo Jacob, Coronel Jairo, Luiz Martins, Marcelo Simão e Marcos Abrahão também não se manifestaram sobre as prisões.