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Ao SBT, Queiroz diz que "movimentação atípica" vem de revenda de carros

Do UOL, em São Paulo

26/12/2018 19h22Atualizada em 27/12/2018 13h09

O motorista Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), disse em entrevista ao SBT que parte do R$ 1,2 milhão que movimentou vem de negócios como compra e venda de carros. A íntegra da entrevista -- a primeira de Queiroz desde que o assunto veio a público -- foi ao ar no SBT Brasil na noite desta quarta-feira (26).

"Eu sou um cara de negócios. Eu faço dinheiro, compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro... Sempre fui assim, gosto muito de comprar carro de seguradora, na minha época lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, revendia, tenho uma segurança", declarou na entrevista.

Queiroz era funcionário do gabinete de Flávio Bolsonaro -- filho do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL) -- na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro). O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão do Ministério da Fazenda, identificou "movimentações atípicas" de R$ 1,2 milhão na conta bancária de Queiroz em um período de 13 meses. 

A comunicação do Coaf não significa que haja alguma irregularidade na transação, mas mostra que os valores movimentados, ou o tipo de transação envolvida, não seguiram o padrão esperado para aquele tipo de cliente.

Segundo o advogado de Queiroz, Paulo Klein, o ex-assessor "recebeu aproximadamente R$ 600 mil ao longo do ano".

"Esse movimento de depósito e saque fez com que dobrasse esse valor", disse Klein ao SBT. "Se você tirar uma fotografia disso, realmente dá um valor muito alto. Mas quando você vai olhar o filme, você percebe que não faz sentido."

Depósito para futura primeira-dama

Entre as movimentações identificadas está um depósito de Queiroz, no valor de R$ 24 mil, na conta da futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro. 

No começo de dezembro, Bolsonaro disse que o depósito do ex-assessor do filho na conta de Michelle era pagamento de parte de uma dívida de R$ 40 mil com o próprio presidente eleito. De acordo com ele, Queiroz utilizou a conta da futura primeira-dama para receber o dinheiro "por questão de mobilidade". Bolsonaro também alegou que tem pouco tempo para ir ao banco em razão da rotina de trabalho.

O ex-assessor endossou a versão dada por Bolsonaro.

"O nosso presidente já esclareceu. Tinha um empréstimo de R$ 40 mil, passei 10 cheques de R$ 4 mil. Nunca depositei 24 mil", afirmou.

Depósitos de assessores e parentes

Nove assessores e ex-assessores de Flávio Bolsonaro repassaram dinheiro para o motorista. Queiroz disse ao SBT Brasil que vai explicar apenas ao MP (Ministério Público) porque recebeu depósitos de outros funcionários do gabinete do deputado estadual e senador eleito. 

Queiroz negou que tenha repassado parte de seu salário a Flávio Bolsonaro.

No nosso gabinete, a palavra lá é: não se fala de dinheiro, não se dá dinheiro (...) Eu não sou laranja, sou homem trabalhador. Eu tenho uma despesa imensa por mês."

Fabrício Queiroz

Em nota divulgada na sexta-feira (21), Flávio afirmou que "não é investigado, e não fez nada de errado"

Segundo o Coaf, a mulher de Queiroz e uma das filhas dele também depositaram recursos na conta do ex-assessor. Nathalia Melo de Queiroz, filha do ex-servidor, repassou a ele R$ 97.641,20, segundo o órgão fiscalizador. 

Reportagem do UOL revelou que Nathalia acumulou em 2011 emprego de recepcionista em uma rede de academias no Rio, cargo de assessora de Flávio e a faculdade de Educação Física. Queiroz deu sua versão para a ausência da filha no gabinete.

"Na Alerj, não tem como ficar. Além de o nosso gabinete ser muito frequentado, não tem espaço para todos os funcionários. Há flexibilidade, e se não me engano a minha filha sempre cuidou da mídia do deputado", disse. "Ela vai dar o esclarecimento dela."

Na entrevista, o ex-assessor não quis detalhar a origem dos depósitos que recebeu da filha e da mulher. 

"Esse mérito de dinheiro eu queria explicar para o MP [Ministério Público]", disse.

Queiroz também afirmou que seus rendimentos mensais giravam em torno de R$ 23 mil a R$ 24 mil, sendo "cerca de R$ 10 mil" vindos do salário de assessor e o restante da remuneração como policial.

Ex-assessor diz ter câncer

O ex-assessor falou também dos problemas de saúde que o levaram a adiar os depoimentos ao MP sobre as movimentações financeiras. Queiroz afirmou estar com um tumor maligno no intestino.

"Foi constatado um câncer", disse. "Tem que operar o mais rápido possível." 

Queiroz disse não estar fugindo do MP. "Quero prestar esclarecimento o mais rápido possível", afirmou.