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Ex-assessor de F. Bolsonaro retira tumor em SP; família falta a depoimento

Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, durante entrevista ao SBT - Reprodução/SBT
Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro, durante entrevista ao SBT Imagem: Reprodução/SBT

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

08/01/2019 13h18

O ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL), Fabrício Queiroz, foi submetido no dia 1º deste mês a uma cirurgia para retirada de um tumor no intestino, segundo informou sua defesa. De acordo com o advogado Paulo Klein, Queiroz, diagnosticado com câncer, foi operado no Hospital Albert Einstein, na zona sul de São Paulo. Segundo a assessoria de imprensa do hospital, ele foi internado no dia 30 e teve alta nesta terça-feira (8) na hora do almoço.

Em razão da cirurgia, a defesa informou ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) que integrantes de sua família que deveriam prestar depoimento nesta terça-feira (8) não comparecerão ao órgão.

A mulher do ex-motorista de Flávio, Márcia Oliveira de Aguiar, e duas filhas dele, Nathália Melo de Queiroz e Evelyn Melo de Queiroz, haviam sido intimadas a depor sobre movimentações atípicas identificadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividade Financeiras), órgão do Ministério da Justiça, em uma das contas de Queiroz. Em 13 meses (janeiro de 2016 a janeiro de 2017), ele teria movimentado mais de R$ 1,2 milhão --na época, Queiroz recebia um salário de R$ 23 mil no gabinete do então deputado estadual do Rio de Janeiro, Flávio Bolsonaro.

"Os familiares precisam estar juntos nesse período, que marca o início da quimioterapia", informou Klein ao UOL ao justificar a ausência no depoimento marcado para hoje. De acordo com ele, a internação e todo o tratamento estão sendo pagos por Queiroz.

Por meio de nota, a Promotoria informou que, de acordo com a defesa, "todas mudaram-se temporariamente para a cidade de São Paulo, onde devem permanecer por tempo indeterminado e até o final do tratamento médico e quimioterápico necessários, uma vez que, como é cediço, seu estado de saúde demandará total apoio familiar".

A mulher dele e uma das filhas também foram citadas no relatório do Coaf por terem depositado recursos na conta do ex-assessor. Nathalia Melo de Queiroz, filha do ex-servidor, repassou a ele R$ 97.641,20, segundo o órgão fiscalizador. Reportagem do UOL revelou que Nathalia acumulou em 2011 emprego de recepcionista em uma rede de academias no Rio, cargo de assessora de Flávio e a faculdade de Educação Física.

Em entrevista ao "SBT" no último dia 26, Queiroz disse ser "um cara de negócios" ao justificar a movimentação financeira em uma das suas contas. "Eu faço dinheiro, compro, revendo, compro, revendo, compro carro, revendo carro. Sempre fui assim, sempre. Gosto muito de comprar carro de seguradora. Na minha época, lá atrás, comprava um carrinho, mandava arrumar, revendia, tenho uma segurança", disse

Na entrevista com duração de 22 minutos, o ex-assessor não deu explicações detalhadas sobre os motivos para ter depositado R$ 24 mil, segundo o Coaf, em uma conta da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Queiroz reiterou argumento utilizado por Jair Bolsonaro (PSL) de que o valor --de um total de R$ 40 mil-- seria derivado de uma dívida com o presidente.

Em duas ocasiões, o ex-assessor faltou a depoimento no MP alegando questões de saúde. A defesa dele encaminhou laudos médicos à Promotoria no último dia 27 para justificar as ausências.

Flávio foi convidado pelo MP e é esperado para depor nesta quinta-feira (10) sobre as movimentações na conta do seu ex-assessor. Por prerrogativa parlamentar, o senador pode optar por comparecer em outra data, segundo a Promotoria. A assessoria do filho de Bolsonaro disse nesta terça que não informará à imprensa detalhes sobre a possível presença do parlamentar em depoimento.

Em um dos seus poucos pronunciamentos sobre o caso, em dezembro, quando foi diplomado senador, Flávio se eximiu de responsabilidade. "Não sou investigado, quem tem que se explicar é ele", disse.

O motorista que movimentou R$ 1,2 milhão

O policial militar José Carlos de Queiroz era motorista de Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). O documento do Coaf, anexado à investigação da Operação Furna da Onça que levou dez deputados estaduais à prisão no Rio, revelou que a maior parte dos depósitos feitos em espécie na conta do ex-assessor coincidia com as datas de pagamento na Alerj. Nove assessores e ex-assessores do filho mais velho de Bolsonaro repassaram dinheiro para o motorista.

Sobre o depósito de Queiroz no valor de R$ 24 mil na conta bancária de Michelle Bolsonaro, o presidente disse que se tratou do pagamento de parte de uma dívida de R$ 40 mil. De acordo com Bolsonaro, Queiroz utilizou a conta da primeira-dama para receber o dinheiro "por questão de mobilidade". Ele também alegou que tem pouco tempo para ir ao banco em razão da rotina de trabalho.

A comunicação do Coaf não significa que haja alguma irregularidade na transação, mas mostra que os valores movimentados, ou o tipo de transação envolvida, não seguiram o padrão esperado para aquele tipo de cliente.

No total, o MP-RJ instaurou 22 inquéritos criminais para esclarecer suposta participação de parlamentares e servidores da Alerj em movimentações bancárias não compatíveis com seus salários.