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Folião e dançarino: o lado festeiro de Alcolumbre, presidente do Senado 

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

22/02/2019 04h00Atualizada em 22/02/2019 16h26

Davi Alcolumbre (DEM-AP), 41, tornou-se conhecido por ter desbancado o veterano Renan Calheiros (MDB-AL) na disputa pela presidência do Senado. Alçado à cúpula do Legislativo, o presidente mais jovem do Senado tem um lado menos conhecido: é tido como um excelente dançarino, segundo o UOL apurou com fontes ligadas ao parlamentar. 

Além de se aventurar no forró, no sertanejo e até no carimbó, ritmo tradicional da região amazônica, o amapaense acumula um outro hobby: a paixão por carros e mecânica automotiva.

A desenvoltura na dança já fez o senador viralizar na web e virar meme depois da divulgação de um vídeo em que ele arrisca passos ao som de "Canto da Cidade", hit da cantora Daniela Mercury, durante o Carnaval em Macapá. As imagens se espalharam pelas redes sociais dias após a eleição no Parlamento e levaram o novo chefe do Congresso a entrar para a lista de assuntos mais comentados do Twitter.

O vídeo foi gravado em 2018, quando Alcolumbre participava da festa do "A Banda", o "bloco de sujos" mais tradicional de Macapá e que desfila todas as terças de Carnaval desde 1965. De acordo com uma funcionária de seu gabinete, o parlamentar é um entusiasta do bloco há bastante tempo e costuma frequentá-lo com a família.

Ao UOL, o presidente do "A Banda", José Figueiredo de Souza, o Savino, confirmou que Alcolumbre é "um grande amigo do bloco" desde criança e que ele "herdou" do tio a paixão pela festividade. "Ele sempre foi a mesma pessoa, um cara simples e que zela pela terra que ele nasceu", comentou.

A empolgação, no entanto, não é regada a cerveja ou qualquer substância alcoólica, já que o político não bebe.

Segundo fontes próximas, é em "A Banda" que o senador se sente mais à vontade para mostrar sua habilidade na dança. "Eu já dancei com ele e posso atestar que ele é bom", disse uma funcionária do gabinete do presidente do Senado.

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Senador participa de bloco de Carnaval de Macapá, em 2018
Imagem: Divulgação/prefeitura de macapá

Amigo pessoal de longa data e colega de bancada no Congresso, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que a advogada Liana Andrade, mulher de Alcolumbre, é uma mulher de sorte. "Dança um brega... eu queria ter metade do talento dele para dançar um brega. Ele dança um brega e forró como poucos. A esposa dele, a Liana, que fica feliz por isso", declarou o senador.

Randolfe disse que, "assim como todo político amapaense", também é frequentador assíduo de "A Banda" e que, nos últimos anos, curtiu a festa junto com Alcolumbre. "Político do Amapá que não acompanha 'A Banda' na terça-feira gorda de Carnaval tem que sair da política local. Até quem não gosta de Carnaval tem que estar", brincou.

Fortemente ligado às tradições do norte brasileiro, Alcolumbre, oriundo de uma família de judeus marroquinos, também costuma participar do tradicional Círio de Nazaré, em Macapá. A festa reúne todos os anos cerca de dois milhões de pessoas em romarias e procissões.

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Davi Alcolumbre participa do Círio de Nazaré, tradição no Norte
Imagem: Divulgação

Mecânico para todas as horas

Uma funcionária de seu gabinete revelou ainda que Alcolumbre, filho do engenheiro mecânico Samuel Tobelem, é aficionado por carros e que, nas viagens pelo Amapá em época de campanha, precisou colocar a mão na massa em deslocamentos na estrada.
"Teve uma vez que o carro enguiçou e a gente cogitou chamar o guincho. Mas ele próprio desceu e arregaçou as mangas para consertar. Ele sabe tudo de mecânica", disse ela.

O conhecimento específico foi adquirido nos tempos em que o hoje senador dava expediente na loja do pai, especializada em venda de autopeças. Alcolumbre, que se declara ao TSE como comerciante, começou a trabalhar aos sete anos.

"Ele nasceu com a mecânica. Ele começou na loja do pai vendendo peças mecânicas, o pai dele tinha uma loja de autopeças. Então ele conhece tudo de carro, motor etc. Mas ele é melhor dançarino", comentou Randolfe.

O senador da Rede relatou ainda que seu time de futebol, o Matapi, acabou ficando sem zagueiro depois que Alcolumbre foi eleito presidente do Senado. Os jogos recreativos eram comuns nos fins de semana de folga da dupla amapaense.

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Randolfe Rodrigues e Alcolumbre são parceiros de futebol
Imagem: Divulgação - 6 de novembro de 2015

"O meu time, o Matapi, nós ganhamos um presidente do Senado, mas perdemos um zagueiro. Ficamos sem o Davi nos jogos de sábado por causa das atribuições dele agora aqui no Senado", comentou.

Busca por protagonismo

A caminhada de Davi Alcolumbre à Presidência do Senado começou a ser traçada após as eleições majoritárias de 2018, quando ele ficou fora do segundo turno na disputa pelo governo do Amapá. Considerado membro do baixo clero no Congresso, o parlamentar fez diversas viagens e bateu de porta em porta para pedir votos dos colegas.

O empenho na busca pelo protagonismo, permeado pela estratégia certeira de encarnar o anseio por renovação no comando da Casa, foi coroado no dia 2 deste mês em um pleito que entrou como o mais conturbado da história do Parlamento.

A disputa teve discursos agressivos, troca de acusações e até "sequestro" de uma pasta com documentos.

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Alcolumbre está em seu primeiro mandato no Senado Federal
Imagem: Marcos Oliveira - 28.abr.2016/Agência Senado

Alcolumbre, remanescente da legislatura anterior na composição da Mesa, reivindicou a presidência da sessão e assim o fez, ignorando a artilharia pesada do grupo ligado a Renan Calheiros, expert no xadrez político do Senado e seu principal oponente. Até então, o democrata ainda não havia confirmado oficialmente se seria ou não candidato.

A tática deu resultado: ao liderar os trabalhos e conseguir a aprovação do voto aberto na eleição, o amapaense aplicou um xeque-mate no veterano emedebista, que tentava se tornar presidente do Senado pela quinta vez.

Alcolumbre, apoiado pelo ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), deixou a Mesa para, enfim, lançar-se candidato. Já Calheiros, cujo favoritismo estava condicionado à eleição secreta, acabou retirando a candidatura e esbravejou: "Quero dizer que Davi [Alcolumbre] não é Davi. É Golias, e ele é o novo presidente do Senado, pois eu retiro minha candidatura. Não vou me submeter a isso".

Essa não foi a primeira vez que, de acordo com membros de sua equipe, Alcolumbre desafiou um veterano em uma empreitada política. Então deputado federal em 2014, ele decidiu arriscar o mandato para enfrentar um candidato apoiado pelo ex-presidente José Sarney (Gilvam Borges) na corrida pelo Senado. "Eu o incentivei a concorrer contra o candidato do Sarney, algo que era raríssimo", afirmou Randolfe.

Na tentativa de chegar ao Senado, Alcolumbre chamou seu irmão, Samuel José Alcolumbre Tobelem (DEM-AP), para a função de primeiro suplente. Segundo a equipe do presidente do Senado, isso não ocorreu por interesse político, e sim porque ninguém aceitou ocupar a suplência da chapa devido ao embate com a família Sarney.