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Queria mais disso no Congresso, diz deputada sobre questionamentos a Vélez

30.mar.2019 - A deputada Tabata Amaral em evento na Vila Missionária, bairro onde foi criada em São Paulo - Bruno Rocha/Estadão Conteúdo
30.mar.2019 - A deputada Tabata Amaral em evento na Vila Missionária, bairro onde foi criada em São Paulo Imagem: Bruno Rocha/Estadão Conteúdo

Marcela Leite

Do UOL, em São Paulo

30/03/2019 20h27

Depois de questionar e criticar o ministro da educação Ricardo Vélez Rodríguez durante sessão da Comissão de Educação na Câmara da última quarta-feira (27), em episódio que repercutiu nacionalmente, a deputada Tabata Amaral (PDT-SP) afirmou que fez o seu papel de parlamentar de pressionar o governo Bolsonaro.

"Eu queria que a gente tivesse um pouco mais disso no Congresso para que isso não fosse tão estranho", disse em entrevista ao UOL durante a segunda edição do "Gabinete Itinerante", projeto de construção de políticas públicas e participação popular do mandato pelo estado de São Paulo, na Vila Missionária, bairro da periferia da capital paulista onde a deputada nasceu.

Na quarta, Tabata apontou a falta de projetos, de planejamento e de metas da pasta depois de três meses de governo. "Já se passaram três meses e em um trimestre não é possível que o senhor apresente um Power Point com dois, três desejos para cada área da educação. Onde estão os projetos, as metas, quem são os responsáveis? Isso não é um projeto estratégico. Isso é uma lista de desejos", afirmou a parlamentar, que não teve seus questionamentos respondidos.

Aos 25 anos, eleita a sexta deputada federal mais votada de São Paulo, ela espera que o episódio com o ministro "tenha mostrado para as pessoas que educação não é brincadeira". Tabata explica que agora vai continuar trabalhando, apresentando projetos e pressionando o ministério da educação para que mostre quais são os planos para a área. "Não podemos deixar que a educação simplesmente saia da agenda nacional ou quando apareça, apareça apenas por questões ideológicas", diz a deputada.

Criada na Vila Missionária, periferia de São Paulo, Tabata conseguiu uma bolsa na universidade de Harvard, nos Estados Unidos, onde se formou em ciência política e astrofísica. Ela também é cofundadora do movimento Mapa Educação, que fiscaliza propostas políticas de ensino, e do movimento Acredito, que tem como proposta renovar a política brasileira.

"A gente tem que ter espaço para falar de financiamento, para falar de planejamento, para falar de professores e de tudo o que realmente faz o ponteiro da educação se mover."

Deputada Tabata Amaral (PDT-SP)

Segundo a deputada, depois da sessão, não houve reunião com representantes do ministério nem foram passadas informações mais completas sobre o plano de ação do governo na área de educação. "A gente continua tentando, continua pedindo informação, qualquer reunião que eu tiver vai ser pública e eu vou trazer para as pessoas o que eu descobri e quais são os próximos passos", diz.

O ministério vive uma crise desde a mudança de gestão em janeiro, com uma disputa interna que já levou a decisões polêmicas, recuos e 15 exonerações por "motivos técnicos", segundo o ministro indicado pelo guru do presidente Jair Bolsonaro (PSL), o escritor e filósofo Olavo de Carvalho.

Durante entrevista à TV Bandeirantes nesta semana, Bolsonaro admitiu que as coisas "não estão dando certo" no MEC e que conversará com Vélez depois que voltar da viagem que faz a Israel neste fim de semana.

Em meio a especulações de que deixará o comando da pasta, Vélez afirmou na última quarta que não sairá, mesmo comparando o cargo com um "abacaxi do tamanho de um bonde".

Críticas da esquerda

Filiada ao partido de Ciro Gomes, Tabata é alvo de críticas de grupos de esquerda, que não consideram que ela representa as ideologias da esquerda. Em resposta isso, a deputada garante que não se importa com os apontamentos e se diz progressista. "Se eu estou na política para renovar as práticas, eu acho que importante dar menos atenção para essa guerra entre esquerda e direita, os dois extremos, e falar que eu estou ali pelos princípios, eu estou ali pelos valores, eu estou ali pelas coisas que me motivaram a me candidatar", explica.

"Eu sou progressista, acredito em um país para todos, independente de sobrenome, onde todo mundo possa sonhar, onde todo mundo tenha uma vida digna. Agora se não consideram isso de esquerda, sinto muito, continuarei trabalhando."