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Após nova denúncia, Lava Jato diz que hacker pode ter "forjado" conversas

Alex Tajra

Do UOL*, em São Paulo

12/06/2019 19h07

Os vazamentos de conversas envolvendo procuradores da Operação Lava-Jato e o ex-juiz e agora ministro Sergio Moro (Justiça) ganharam um novo capítulo na tarde de hoje. Após a revelação pelo jornal Estado de S. Paulo de que um hacker teria invadido o celular de um conselheiro do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e disparado mensagens na noite de ontem, a Força-Tarefa afirmou que os diálogos já divulgados podem ter sido "forjados".

As conversas publicadas pelo The Intercept Brasil no último domingo mostram que o então magistrado Sergio Moro orientou investigações e estabeleceu diálogos com os procuradores, comportamento vetado pela Constituição. O ministro e os procuradores, sem negar a veracidade dos diálogos, vêm argumentando que as informações foram extraídas por meio de um ataque cibernético ilegal.

O site The Intercept não afirmou, em nenhum momento, ter recebido as mensagens de hackers. O Telegram também negou ter encontrado evidências de que o aplicativo tenha sido alvo de ataque.

Hoje, como consequência do suposto novo ataque ao conselheiro do CNMP, o MPF argumentou que a ação pode sugerir que os diálogos já vazados (conversas entre 2015 e 2018) podem ter sido inventados por invasores.

"A divulgação de supostos diálogos obtidos por meio absolutamente ilícito, agravada por esse contexto de sequestro de contas virtuais, torna impossível aferir se houve edições, alterações, acréscimos ou supressões no material alegadamente obtido. Além disso, diálogos inteiros podem ter sido forjados pelo hacker ao se passar por autoridades e seus interlocutores", diz nota do órgão.

Para o MPF, as supostas invasões em celulares de autoridades têm como objetivo "atacar a operação Lava Jato". "Os relatos dos fatos foram incluídos nas investigações em curso, e a força-tarefa, em virtude da continuidade dos ataques, redobrou as cautelas de segurança", diz o texto.

"É necessário não apenas identificar e responsabilizar o hacker, mas também os mandantes e aqueles que objetivam se beneficiar desses crimes a partir de uma ação orquestrada contra a operação Lava Jato", afirma o MPF.

Em nota divulgada na segunda-feira (10), a Lava Jato informou que a invasão a dispositivos de seus integrantes começou em abril.

"Aqui é o hacker"

Uma das mensagens enviadas ontem a partir do celular do conselheiro do CNMP, Marcelo Weitzel Rabello de Souza, dizia que o caso revelado pelo The Intercept Brasil era apenas "uma amostra do que vocês vão ver na semana que vem".

Os colegas de Rabello estranharam as mensagens e questionaram o conselheiro no grupo. Na sequência, receberam outro torpedo dizendo: "Aqui é o hacker".

Segundo a assessoria do CNMP, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu hoje que a Polícia Federal instaure um inquérito policial para investigar a invasão do celular de Weitzel.

A procuradora-geral também solicitou à PF, a unificação da investigação em relação aos ataques cibernéticos contra membros do Ministério Público Federal, de forma a esclarecer os "motivos e eventuais contratantes" dessas invasões.

*Com informações da Agência Estado